PL dos apps: Entenda, ponto a ponto, a proposta do governo para motoristas da Uber, 99 e outros

Na prática, o texto reconhece os motoristas como autônomos, introduzindo a nova categoria de "trabalhador autônomo por plataforma"

Brasília (DF), 04/03/2024, O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante assinatura do projeto de lei que regulamenta o trabalho por aplicativos de transporte de pessoas, no Palácio do Planalto. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

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O presidente Lula (PT) enviou ao Congresso nesta segunda-feira 4 um projeto de lei em regime de urgência que regulamenta o trabalho de motoristas por aplicativo em veículos de quatro rodas. Agora, os deputados e senadores tem 45 dias cada para analisar a proposta.

Aplicativos como Rappi e Ifood, que atuam com entrega de alimentos, ficaram de fora do projeto. A expectativa é que o Ministério do Trabalho e Emprego inicie rodadas de negociações com essas empresas nos próximos meses, com o objetivo de chegar a um acordo sobre os trabalhadores do segmento.

Novas regras de trabalho

Na prática, o texto reconhece os motoristas como autônomos, introduzindo a nova categoria de “trabalhador autônomo por plataforma”. Ainda conforme a proposta, a jornada máxima de trabalho diário em uma única plataforma é limitada a 12 horas. Para se qualificar ao salário mínimo da categoria, os motoristas precisam cumprir uma carga mínima de 8 horas de trabalho por dia.

Caso seja aprovada, os profissionais que atuam com Uber e 99 passarão a receber um valor mínimo por hora trabalhada, além de ser feita a contribuição ao INSS. Ainda que não exista um vínculo trabalhista entre o motorista e empresa, a proposta assegura que os trabalhadores tenham direitos aos benefícios da Previdência.

Se aprovada, a proposta assegura que os motoristas receberão aproximadamente 24 reais por cada hora de trabalho efetivo. Este valor será pago como uma indenização destinada a cobrir despesas relacionadas ao trabalho, incluindo o uso do celular, combustível, manutenção do veículo, seguro e impostos.

Benefícios e direitos

Os motoristas de aplicativos, de acordo com o projeto, terão a garantia de receber pelo menos 8 reais por hora trabalhada. As empresas devem pagar uma alíquota de 20% ao INSS (o restante, 7,5%, será pago pelos trabalhadores). O governo federal estima que a regulamentação poderá ter um impacto de 280 milhões reais na arrecadação pública.


O texto também determina que as mulheres motoristas serão elegíveis para os benefícios do Auxílio Maternidade oferecidos pelo INSS.

O texto também garante mais transparência aos motoristas, prometendo a entrega de relatórios mensais que incluirão informações sobre as horas trabalhadas, o total ganho, a pontuação, além de quaisquer suspensões ou exclusões. Além disso, estabelece que a exclusão de motoristas pelas empresas só poderá ocorrer em situações justificadas, como fraude, abuso ou uso inadequado da plataforma, assegurando aos motoristas o direito de contestação.

Contexto e perspectivas

Inicialmente, o governo federal tinha a intenção de enquadrar os trabalhadores em três categorias, uma das quais com base na CLT, a Consolidação das Leis do Trabalho. O projeto foi construído com base em discussões feitas no grupo de trabalho formado por representantes dos trabalhadores, das empresas e das centrais sindicais.

Durante cerimônia no Palácio do Planalto, Lula disse considerar que o projeto representa a concepção de uma “nova criança” no mundo do trabalho. Ele também indicou que o governo pretende negociar com bancos a criação de linhas de crédito voltadas a trabalhadores de aplicativos.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontaram que em 2022 o Brasil tinha ao menos 1,5 milhão de trabalhadores de aplicativos. Desse total, mais de 50% trabalhava com transporte de passageiros – a renda mensal desse grupo naquele ano era de 2.454 reais.

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7 comentários

Dirce Machado Poglia 5 de março de 2024 15h53
Acredito que os motoristas de app não foram ouvidos para ser criada uma lei tão horrorosa para eles!!! Somente quem saiu ganhando com ela foi as empresas de app e o governo, que passa a arrecadar pelo INSS!!! Essa lei é incrivelmente absurda!!! E a uber ganha mais uma!!! Pqp
Maria Cecília Buioqui 8 de março de 2024 07h54
Maria Cecília Buioqui 8 de março de 2024 07h57
Muito bom. Como enfermeira já vi muitos motoristas doentes e acidentados que ficavam sem renda. Agora vão poder usufruir do INSS. A proteção ao trabalhador é fundamental.
Dirce Machado Poglia 10 de março de 2024 13h13
Dirce Machado Poglia 10 de março de 2024 13h15
Quanto ao uso do INSS, sempre puderam usar!!! A maioria é inscrito do Mei!!!
Dirce Machado Poglia 10 de março de 2024 13h24
O valor minimo da hora de trabalho ficou irrisório, e o tempo de 12h, trabalho escravo! Maravilhoso para os donos de app, que não precisam pagar hora extra, décimo terceiro, tampouco férias!!!! O leizinha bem absurda!!!!
Dirce Machado Poglia 10 de março de 2024 13h25
Está lei tornou legal o trabalho escravo no País!!! 🤮🤮🤮🤮

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