Economia

O que aconteceu com o Assentamento Monte Alegre?

O projeto agrícola vicejou? Infelizmente, não. Pelo contrário, encontrei-o decadente, após escândalos políticos, tentando renascer pelo trabalho de poucos

Moradores do assentamento Monte Alegre se reúnem com a deputada estadual Ana Perugini em 2013
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Depois de um ano, voltei nesta semana ao Assentamento Monte Alegre e à sua cooperativa de produtores, no município de Motuca, próximo a Araraquara (SP), referências em coluna de 24 de maio de 2013 neste sítio de CartaCapital.

O projeto agrícola vicejou? Infelizmente, não. Pelo contrário, encontrei-o decadente, quase no bico do corvo, tentando renascer por trabalho de poucos.

Fragmentou-se, sofreu com escândalos políticos, episódios de má gestão interna, perdeu-se na burocracia de habilitação a programas públicos. Se pobres eram, pobres continuaram.

O maior baque veio quando a prefeitura de Araraquara foi desqualificada do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), oito meses atrás, devido investigação do Ministério Público e da Polícia Federal, apontando desvio de verbas em benefício de políticos da região.

Os assentados tiveram de interromper a produção de verduras e legumes que entregavam à Prefeitura para distribuição em instituições carentes, e que era paga com os repasses do governo federal.

Os recursos desaguaram na lagoa da corrupção e, na época, prisões foram feitas, processos instaurados, políticos perderam mandatos e secretários municipais seus cargos. Para os que plantavam na terra e disso viviam, penalidades de pouca valia.

Nesta semana, após providências ditas saneadoras, Araraquara foi readmitida no programa, o que trouxe algum alento para os produtores do assentamento e da cooperativa.

Não tenho certeza se o leitorado tem conhecimento do número de programas sociais ligados à agropecuária e mantidos com recursos públicos dos níveis federal, estadual e municipal.

Se eu fosse pesquisá-los apenas nos sítios oficiais de ministérios e secretarias estaduais e municipais da Federação de Corporações, levaria o resto da vida, se longa o suficiente ela for.

Pior. No final, tantas são as benesses públicas existentes, que eu imaginaria a maior parte dos brasileiros com vida digna, o que não é verdade.

Inúmeros programas se superpõem em repasses de recursos entre administrações dos mais diversos matizes. Correm através de tubulações corroídas por legislações ultrapassadas, normas confusas, burocracia exacerbada e corrupções várias.

Depois de volumosa burocracia, se perdem no caminho. Aos beneficiários poucos reais chegam. Técnicas agropecuárias e de gestão, menos ainda.

Prestam-se, então, a que os fartos cargos de chefia desses organismos governamentais, certamente preenchidos por aparelhamento político ou inação da cultura barnabé?

Falo de situações verificadas no estado mais rico da Federação. Em localidades distantes menos de 400 km da maior cidade da América do Sul, onde viradas culturais e gastronômicas, com galinhada-no-viaduto a 10 paus, convivem com shows-Telós e restaurantes de luxo pagos com ao menos 20 onças-pintadas.

O leitorado aí na faixa exclusiva de ônibus, ou no carro se irritando com ela, pode então imaginar como anda a vida dos assentados na Paraíba, dos índios desmarcados pelas invasões de suas terras, e dos quilombolas, por muitos confundidos com rara espécie de fruta?

Acham mesmo que vai dar certo ou o futuro continuará debaixo das asas do patrimonialismo secular que nos faz pensar sermos modernos habitando esta paróquia?

Disparada de preços. Na última coluna, argumentei que em exercício tão sazonal de divulgação quanto o é a produção agrícola, folhas e telas cotidianas procuravam implicar os preços dos alimentos na persistência da inflação brasileira.

Já que para navegar e viver neste país se precisa do timão dos índices, reproduzo notícia do Valor Econômico, de 17/04: “o IGP-M subiu 0,83% na segunda prévia de abril, ante 1,41% no mesmo período em março, segundo a FGV. A desaceleração foi influenciada por uma alta menor no grupo de produtos agropecuários”.

Deverá cair ainda mais. Página virada, pois. Salvo adversidades climáticas severas, as sobrancelhas de William e Patrícia só voltarão a arquear “no mesmo período do ano anterior”, termo caro aos adeptos do deus planilha.

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