Economia

Maioria dos trabalhadores por conta própria gostaria de deixar a categoria, aponta estudo

Sondagem do Mercado de Trabalho aponta que a modalidade é resultado do desemprego; principal fator para deixar a categoria é o desejo por renda fixa

Comércio ambulante na Rodoviária do Plano Piloto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas divulgou nesta quarta-feira 15 os resultados da Sondagem Mensal do Mercado de Trabalho. O estudo aponta que a significativa maioria dos trabalhadores por conta própria gostaria de deixar a categoria, principalmente na região Nordeste.

Em 2017, foi aprovado um conjunto de alterações nas leis de trabalho conhecido como Reforma Trabalhista. Incentivada pelo então presidente Michel Temer, a medida foi acolhida pelo setor empresarial como um marco para a modernização nas relações de trabalho, o que supostamente permitiria a geração de mais empregos no País.

A nova legislação, somada aos problemas estruturais de uma economia cada vez mais desindustrializada, teve como consequências o aumento da informalidade no trabalho.

Maioria dos brasileiros gostaria de deixar de trabalhar por conta própria

No Brasil, segundo o IBGE, 25% das ocupações são de pessoas que trabalham por conta própria. Essa modalidade permite ao indivíduo uma percepção de maior flexibilidade no horário de trabalho, mas o impede de ter acesso a direitos trabalhistas básicos, por exemplo. Segundo dados do instituto referentes a outubro do ano passado, 25,7 milhões de pessoas trabalham por conta própria no País. 

O FGV Ibre perguntou aos entrevistados que trabalham por conta própria se eles gostariam de deixar a condição e trabalhar para uma empresa privada ou pública: 69,6% disseram que gostariam de ter algum vínculo formal com uma empresa.

Dividindo por regiões, o índice é superior no Nordeste, onde 76,7% desejam deixar de trabalhar por conta própria e passar a ter um vínculo empregatício. 

No Centro-Oeste, o registro foi de 75,2%, enquanto a mesma pergunta foi respondida positivamente por 69,2% dos entrevistados do Sudeste e do Norte. No Sul, 60% responderam que desejariam ter uma ocupação em uma empresa.

Por que deixar de trabalhar por conta própria?

O estudo aponta que a principal motivação para a preferência é a vontade de ter um rendimento fixo (38,4% dos entrevistados) e poder ter acesso ao conjunto de benefícios que um vínculo formal com uma empresa pode proporcionar (36,5%).

O FGV Ibre perguntou às pessoas que preferem o trabalho por conta própria o motivo da escolha. Na região Sul, onde 40% afirmaram que gostariam de manter essa categoria de ocupação, esse grupo apontou que a possibilidade de ter flexibilidade de horários (16,5%) e a crença de que os rendimentos são maiores nesse tipo de trabalho (13,6%) são as principais razões para a permanência.

Por que as pessoas passaram a trabalhar por conta própria?

Um dos mantras da noção de “empreendedorismo” é de que essa forma de trabalho livra os indivíduos das supostas amarras da legislação e lhes permite, de modo livre e autônomo, obter maiores rendimentos por meio de uma atividade própria. Esses são, na visão estritamente mercadológica, fatores motivadores.

A maioria das pessoas que trabalham por conta própria e foram ouvidas pela pesquisa, porém, disse que, antes de passar à modalidade, tinha um emprego com carteira assinada. Essa condição foi assinalada por 57,1%. No Sudeste, no Centro-Oeste e no Norte, mais de 60% trabalhavam com carteira assinada anteriormente.

Diferindo da média nacional, no Nordeste o índice foi de 39,8%. Entretanto, foi na região que o estudo observou o mais alto índice de pessoas que disseram que, antes de trabalharem por conta própria, estavam empregadas, mas sem carteira assinada (28,9%).

Dessa maneira, o estudo captou que a maioria das pessoas passou a trabalhar por conta própria porque perdeu seus empregos anteriores. Esse fenômeno costuma ser conhecido como “empreendedorismo por necessidade”. Ele não guarda relação com o incentivo costumeiramente feito ao empreendedorismo como uma opção superior à relação formal de trabalho.

O FGV Ibre mostrou que 32,1% dos entrevistados disseram que o principal motivo para trabalhar por conta própria foi o fato de estarem desempregados e precisarem de uma renda. Em seguida, veio a independência, apontada por 22,9%.

Como as pessoas se sentem em relação à segurança da sua fonte de renda?

Para entender como os trabalhadores percebem a segurança sobre as suas próprias ocupações, o FGV Ibre perguntou sobre a chance que as pessoas empregadas acreditam ter de perder a principal fonte de renda nos próximos 12 meses.

58,7% afirmaram ser improvável ou muito improvável que isso aconteça, contra 41,3% que disseram ser provável ou muito provável.

Entretanto, as respostas mostraram dinâmicas diferentes nas regiões. No Norte e no Nordeste, a maioria disse achar provável/muito provável perder a principal fonte de renda no horizonte de um ano, com índices de 55,2% e 50,2%, respectivamente. Esse fator mede aquilo que se pode denominar de percepção de vulnerabilidade. No Sul (33,1%) e no Sudeste (37,9%), por outro lado, uma parcela menor de pessoas respondeu ser provável/muito provável que isso aconteça. 

A Sondagem do Mercado de Trabalho consulta cerca de duas mil pessoas físicas com mais de 14 anos, todos os meses. A próxima divulgação será em abril. A partir de então, segundo a FGV, a pesquisa passará a ser divulgada trimestralmente.

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