Economia

Lula terá semana decisiva em Brasília para desatar nós sobre PEC e lidar com pressão por ministro da Fazenda

O governo enfrenta dificuldade na articulação com o Congresso a fim de definir aspectos centrais da proposta, como o prazo extrateto do Bolsa Família

Foto: Sergio Lima/AFP
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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma semana decisiva para os rumos iniciais do novo governo. Ele deve desembarcar em Brasília na próxima segunda-feira 28 com o objetivo de destravar as negociações em torno da PEC da Transição, solução encontrada para garantir o pagamento do Bolsa Família de 600 reais.

Lula também terá de lidar com a pressão para indicar seu ministro da Economia – ou da Fazenda, como deve voltar a se chamar a pasta a partir de 2023. Na sexta-feira 25, Fernando Haddad (PT), o favorito para chefiar a área, representou o presidente eleito em um evento organizado pela Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban.

Depois da agenda, Haddad foi questionado sobre a possibilidade de assumir a Economia. Segundo ele, “quanto mais liberdade todos nós dermos ao presidente para ele compor a sua equipe, tanto melhor”.

“Não cabe a nenhum de nós, colaboradores que estamos torcendo pelo melhor para o Brasil, nos insinuarmos, nos colocarmos”, respondeu Haddad em entrevista à GloboNews. “A gente se coloca à disposição do País, mas quem compõe o ministério é o presidente Lula, no tempo que ele achar adequado.”

De acordo com a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, Lula terá encontros com líderes de partidos e parlamentares na capital federal. Ele também se reunirá com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

“Ele deve passar em Brasília de segunda a sexta para fazer essas conversas, para a gente também encaminhar a PEC”, disse Gleisi a jornalistas.

Em São Paulo, Lula participou na sexta-feira de uma reunião com líderes do PT e aliados para tratar da PEC e da possibilidade de antecipar a indicação de seu ministro da Fazenda. Gleisi, porém, disse que não houve a definição de um nome.

“O presidente tem vários nomes na cabeça, já tem mais ou menos o que está pretendendo para o ministério, mas ele também não está com pressa para essa definição. Vai fazê-lo no momento que achar oportuno, achar correto. Ele quer ter bastante segurança nesse sentido.”

Segundo Gleisi, “pode ser que ele fale alguma coisa [em relação aos ministérios] ou não, mas não é essa a finalidade da ida dele a Brasília”.

A Proposta de Emenda à Constituição defendida pela equipe de Lula abre um espaço fora do teto de gastos de 198 bilhões de reais. Além de assegurar o novo Bolsa Família, poderia turbinar investimentos e recompor gastos em áreas prioritárias, como saúde e educação.

O novo governo defende que a licença para o Bolsa Família funcionar fora do teto deveria durar, no mínimo, quatro anos. A proposta, porém, enfrenta resistência no Parlamento, especialmente de lideranças do Centrão, que desejam avalizar o extrateto por apenas um ano. Seria uma forma de exercer nova pressão sobre Lula em 2023.

Na sexta 25, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), homem-forte do governo de transição para assuntos ligados ao Orçamento, se reuniu com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que apresentou um texto alternativo ao projeto lulista.

Mais “modesta”, a proposta de Tasso defende abrir caminho para um gasto extrateto de 80 bilhões de reais. O tucano afirma que suas sugestões são suficientes para garantir “a capacidade da economia de gerar empregos e renda, além de contribuir para a inflação permanecer sob controle”.

Após o encontro, Dias declarou a jornalistas que Tasso “coloca uma alternativa [para] que seja possível garantir uma adequação do teto, com um valor acrescido ao valor atual previsto para 2023, e que neste comporte o valor necessário para o Brasil, mas também mantendo o teto”.

A cobrança para Lula indicar um responsável pela Economia também tende a ganhar tração nos próximos dias. Na quinta 24, o senador Jaques Wagner (PT-BA) afirmou que falta a indicação do responsável pela área no novo governo para destravar as negociações da PEC da Transição no Congresso.

“Acho que falta mais por enquanto um ministro da Fazenda”, declarou o parlamentar petista no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. “Acho que facilita [a negociação], mas não depende de mim. Estou dando uma opinião, quem vai decidir é o presidente da República.”

Horas depois, em resposta a Wagner, Gleisi Hoffmann atribuiu o atraso na apresentação da PEC a uma “falta de articulação política no Senado”.

“Eu acho que foi a forma como iniciou, talvez não tenha sido conversado com todos os líderes, com todas as bancadas. Isso acabou chateando o pessoal. Acho que política também a gente faz conversando”, disse a deputada federal.

Como informa a edição desta semana da revista CartaCapital, Lula confidenciou a um interlocutor antes de embarcar para o Egito, neste mês, que para uma certa pasta tem um “plano A”: Haddad, para a Economia.

O ex-candidato a governador de São Paulo pelo PT era o único político ao lado de Lula nos quatro compromissos em Lisboa. Lá, o sucessor de Bolsonaro reuniu-se com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e depois com o primeiro-ministro, António Costa, almoçou com empresários e participou de um evento com a comunidade brasileira. “Temos certeza de que nós vamos recolocar o Brasil no trilho do desenvolvimento com justiça social”, afirmou o ex-prefeito a essa comunidade, síntese da razão de ser o favorito para a vaga de Paulo Guedes.

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