Economia

Indicados por Bolsonaro se apoiaram em boatos para cortar a Selic em apenas 0,25, diz economista

Segundo André Roncaglia, racha no Copom indica aumento de volatilidade impulsionado pelo mercado diante do processo de sucessão de Campos Neto

O economista André Roncaglia. Foto: Divulgação
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Os diretores do Comitê de Política Monetária do Banco Central indicados por Jair Bolsonaro (PL) votaram com base em boatos para reduzir a taxa básica de juros em apenas 0,25 ponto percentual, enquanto os nomeados pelo presidente Lula (PT) se apoiaram nos fatos para tentar cortar a Selic em 0,50. A avaliação é de André Roncaglia, doutor em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP e professor da Unifesp.

Escolhidos por Bolsonaro, votaram pela queda conservadora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os diretores Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.

Já os quatro nomeados por Lula defenderam em vão um corte de 0,50: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.

Com a Selic em 10,5% ao ano, o Brasil continua a ter a segunda maior taxa real de juros no mundo, conforme um ranking atualizado pela consultoria MoneYou.

Na avaliação de André Rongalia, o racha no Copom sinaliza não apenas visões diferentes sobre a economia, mas um possível aumento de volatilidade impulsionado pelo mercado diante do processo de sucessão de Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro.

Segundo ele, a tendência é que o mercado eleve a chamada taxa terminal da Selic – o índice dos juros básicos ao fim do ciclo de cortes – com o objetivo de assegurar um retorno maior ante o “risco” de, após a saída de Campos Neto, haver uma diretoria majoritária em prol de um corte mais acelerado.

“O fato de não haver qualquer sinalização sobre novos cortes joga de fato uma incerteza sobre o futuro desse ciclo de cortes da Selic”, disse Roncaglia a CartaCapital.

O economista entende que os diretores indicados por Lula votaram nesta quarta com base nos fatos: inflação em queda, desaceleração do crescimento econômico em comparação com o ano passado e elevação do desemprego na margem, o que já aponta para um arrefecimento da atividade compatível com a manutenção do ritmo de cortes na Selic.

“Por outro lado, os diretores antigos acabaram votando em cima de boatos, tanto as incertezas associadas ao cenário externo, que ainda não não tiveram qualquer agravamento, quanto um suposto processo de deterioração fiscal por conta da mudança da meta, muito embora o arcabouço persista na sua função de tentar estabilizar a dívida pública.”

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