Economia

Ensino de economia ou camuflagem do jogo dos poderosos?

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A macroeconomia ensinada nas universidades não explica o mundo real de forma adequada (Foto: stevepb / Pixabay / Creative Commons)
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A macroeconomia lecionada visa dificultar o entendimento do mundo real e há um interesse político nisso, defende professor

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Por que entender macroeconomia? Assim o professor paquistanês Asad Zaman, economista, cientista social e vice-presidente do Instituto de Economia do Desenvolvimento do Paquistão, em Islamabad, inicia seu curso intitulado Como a Teoria Macro foi Elaborada pelos Poderosos (https://rwer.wordpress.com/). Se nós entendermos macroeconomia, ou macro como se costuma chamá-la, diz, seremos capazes de compreender as razões dos principais eventos econômicos que acontecem ao nosso redor.

Por exemplo, a desigualdade crescente, os efeitos da austeridade, o Brexit, as iniquidades do sistema financeiro pós-Bretton Woods baseado no dólar, os impactos da economia emergente da China na finança global e muitas outras questões de vital importância para a condução da política econômica.

 “Infelizmente, os cursos padrão em macroeconomia avançada atualmente ensinados nas principais universidades do mundo são mais do que inúteis para esse propósito. Grandes economistas admitem que nós necessitamos substituir ‘o edifício todo’ da macro contemporânea e que nossos principais modelos estão em forte conflito com tudo aquilo que conhecemos sobre a realidade”, alerta o professor.

A título de exemplo cita o trabalho de David Romer “O Problema com a Macroeconomia”, onde se diz que os teóricos ignoram por completo a forte oposição entre as suas teorias e a realidade e se contentam em construir modelos matemáticos sem relação com o mundo real.

Os principais livros-texto sobre macro mostram ao estudante o caminho para fazer manipulação matemática avançada, mas nada ensinam sobre os acontecimentos ao nosso redor, motivo pelo qual os economistas (com raras exceções, deve-se acrescentar) foram totalmente surpreendidos quando a crise financeira global explodiu em 2008.

De acordo com todos os modelos macro em uso naquele momento e que continuam a ser utilizados hoje, um evento como aquele era impossível, diz Zaman.

“Não é só que aquilo que é ensinado seja irrelevante. O conteúdo é, na verdade, desorientador e podemos argumentar que o é deliberadamente. Aprender a verdade sobre como a economia funciona seria muito perigoso aos ricos e poderosos que se beneficiam enormemente dos mitos que são ensinados nos livros-texto de macroeconomia moderna, amplamente acreditados no mundo todo”.

“Muitos e muitos mitos apresentados como realidade podem ser relacionados, mas talvez o principal seja o da ‘neutralidade da moeda’ ”, exemplifica o economista. De acordo com a crença dominante, a moeda não desempenha nenhum papel importante na economia além de afetar os níveis dos preços. Se dobrarmos a quantidade de moeda, os preços dobrarão e não haverá outro efeito na economia real. Em outras palavras, o dinheiro é um véu e nós temos que enxergar através desse véu para entender como funciona a economia real.

Nada poderia ser mais distante da verdade, entretanto. “Como entendeu Keynes, o dinheiro não é neutro no curto prazo nem no longo prazo. Na verdade, a quantidade de moeda tem importância decisiva na economia. Infelizmente, todas as descobertas de Keynes foram suprimidas e ocultadas.”

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O professor paquistanês critica os economistas John Richard Hicks e Paul Samuelson por terem patrocinado uma visão distorcida da teoria keinesiana, que reinstaurou a falaciosa neutralidade da moeda e tornou-se amplamente conhecida como economia keynesiana, apesar de ter pouquíssimo a ver com as teorias de Keynes. “O ponto de partida correto para iniciar o estudo de macroeconomia é o entendimento do papel da moeda na economia”, recomenda Zaman.

A “sacada” principal de Keynes é muito simples de entender, prossegue. A dificuldade, ensinou o mestre inglês, reside não tanto em desenvolver novas ideias como escapar das antigas. A economia precisa de dinheiro para funcionar. Tocar todo e qualquer negócio requer dinheiro e se ele for insuficiente, o empreendimento não dará certo. A redução do nível de atividade levará ao desemprego, que provoca grande dano individual àqueles que estão desempregados.

É dever do governo prover dinheiro em quantidades suficientes para possibilitar o pleno emprego. Assim como uma grande escassez de dinheiro é perigosa, uma quantidade excessiva dele é danosa e conduz a pressões inflacionárias que causam muitos tipos de danos. Um deles é a falta de estabilidade no valor do dinheiro.

Assim, sublinha o professor, a teoria keynesiana é o exato oposto à ideia de que a quantidade de dinheiro não importa.

A quantidade exata de dinheiro é extremamente importante para a economia. É obrigação do governo administrar a quantidade de dinheiro e determinar com exatidão o total correto, nem excessivo nem escasso.

Neste ponto da sua explanação Zaman faz uma conexão fundamental para a compreensão política da importância do dinheiro ou da moeda na economia: “Uma ressalva precisa ser acrescentada — não é apenas a quantidade de dinheiro que importa, também é importante quem tem o dinheiro. Se há muito dinheiro mas ele está nas mãos erradas, as recessões ainda podem acontecer.

De modo semelhante, dependendo de como o dinheiro é distribuído, diferentes tipos de efeitos econômicos podem ocorrer. Assim, além do sentido geral estabelecido na teoria de Keynes, é fundamental examinar cuidadosamente as diferentes classes na sociedade, quais classes detêm o dinheiro e fazer uma análise precisa do impacto e das consequências das mudanças na quantidade de moeda na sociedade.”

Se o dinheiro está portanto longe de ser neutro, ao contrário, é decisivo no funcionamento da economia e isso é tão óbvio que mesmo uma criança pode entender, acrescenta o professor paquistanês, a questão seguinte em importância é: como e por que foi esse conhecimento suprimido?

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