Economia

Após alta histórica nos juros dos EUA, Banco Central brasileiro eleva a Selic para 12,75%

A taxa brasileira é a maior anunciada pela instituição em cinco anos

Banco Central
Edifício-sede do Banco Central. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil Edifício-sede do Banco Central. Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
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Nesta “super quarta”, após o anúncio do Federal Reserve sobre o aumento histórico na taxa de juros dos Estados Unidos, o Banco Central brasileiro também comunicou mais uma elevação no índice, para 12,75%.

É o décimo aumento consecutivo na taxa brasileira. Em fevereiro, o País voltou a ter dois dígitos depois de quatro anos, e em março atingiu o maior nível de juros em cinco anos, com 11,75%.

A medida segue um plano do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de combate à inflação. Na segunda-feira 2, o mercado elevou pela 16ª semana seguida a projeção para a inflação em 2022.

De acordo com o Relatório Focus, a perspectiva é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, que mede a inflação, feche o ano em 7,89%. A estimativa é de que a taxa de juros atinja os 13,25%.

Conforme CartaCapital já mostrou, não há consenso entre economistas de que a elevação da taxa de juros seja a medida mais indicada para combater a inflação. Para alguns, o aumento nos juros é a providência mais tradicional para deter a alta inflacionária, mas, para outros, trata-se de uma penalização maior à população.

O debate se dá porque o aumento na taxa de juros influencia diretamente os cálculos para a obtenção de crédito, como em empréstimos e financiamentos. Com a medida, a população, que já enfrenta dificuldades para consumir, devido à alta de preços, tem ainda menos possibilidades de arcar com os seus gastos.

Para Josian Teixeira, gestor na consultoria de investimentos Lifetime Asset Managements, se o Banco Central não aumentasse a taxa de juros, a alta da inflação seria ainda mais repassada para os consumidores.

Segundo ele, os alimentos, como o arroz e o feijão, estão entre os principais produtos que podem ser atingidos por uma alta maior nos preços, caso os juros não sejam corrigidos para cima.

“É um efeito forte, drástico, mas, depois de seis a oito meses, que é o tempo que se leva para o aumento dos juros chegar à economia, a expectativa de inflação fica menor”, afirma. “O aumento dos juros tende a beneficiar as classes mais baixas nesse período para frente.”

A expectativa do economista é de que o Banco Central anuncie mais um aumento em junho e que o índice se estabilize até o fim do ano. Já no caso dos Estados Unidos, país que iniciou o ciclo de aumento dos juros mais tarde que o Brasil, a projeção de Teixeira é de que haja aumentos sucessivos até dezembro e que em 2023 ocorram até quatro anúncios da mesma medida.

Os Estados Unidos aprovaram o maior aumento da taxa de juros desde 2000. O reajuste é 0,5%, levando o país à faixa entre 0,75% e 1%. O índice de inflação é de 8,5%, com apenas 3,5% no nível de desemprego. O ciclo americano foi iniciado em março, quando o Brasil já estava com dois dígitos na Selic.

Para Antônio José Alves Júnior, professor de Economia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o contexto da elevação dos juros nos Estados Unidos é bem diferente da realidade brasileira.

Na visão do especialista, os americanos têm o objetivo explícito de “conter a demanda”, uma vez que o país está numa situação próxima ao pleno emprego e com salários em ascendência.

Com o lockdown na China pela Covid-19, é esperada mais uma interrupção nas cadeias de suprimento, e a guerra da Ucrânia ainda deve gerar novos problemas de desabastecimento na economia americana.

A observação do Federal Reserve é de que a demanda pode estar influenciando o índice de inflação, que já se encontra bem alto para a meta de 2%.

No caso brasileiro, não haveria o problema de demanda. O desemprego está elevado (11,2%), os níveis de demanda estão baixos e as previsões indicam um crescimento pífio no Produto Interno Bruto neste ano.

Para Alves Júnior, que foi chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a política de aumento dos juros no Brasil não tem feito a economia reduzir os preços.

Ele reivindica a intervenção do Estado nos preços dos produtos, como nos combustíveis, desfazendo a política de paridade dos preços com o mercado exterior, e nos alimentos, ampliando a produção voltada para o mercado interno e estabelecendo políticas diretas para itens específicos, como a carne.

O professor aponta para uma “trajetória esgotada” do Banco Central que pode ser ainda mais prejudicada pelos aumentos nas taxas dos juros americanos. Isso porque, além de enfrentar dificuldades para reduzir a inflação, o Brasil pode encontrar novos obstáculos para atrair dólares, porque, ainda que os juros aqui estejam altos, o aumento nos juros dos Estados Unidos deve voltar a fragilizar a nossa moeda.

“Enquanto os Estados Unidos entram no aperto da economia monetária, o Brasil já o fez, colheu pouquíssimos resultados e vai ter que se tornar mais agressivo diante da política dos Estados Unidos. Até onde isso vai parar?”

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