Economia

A Semana do Mercado: PIB, Powell e pesquisas nas telas

Aqui, a Bolsa abriu em baixa refletindo a aversão ao risco do exterior, com baixa das ações de empresas ligadas a commodities, enquanto os papéis do varejo sobem

Fotos: Ricardo Stuckert e Mauro PIMENTEL / AFP
Apoie Siga-nos no

Os destaques na agenda econômica dos mercados nesta semana são o PIB do segundo trimestre, que o IBGE divulgará na quinta-feira, e o IGP-M de agosto, publicado pela FGV, amanhã. Também amanhã sai a Pnad Contínua do trimestre até julho e os dados do governo central de julho, com as estatísticas fiscais atualizadas dos meses de junho e julho. No fim da semana, saem os dados do mercado de trabalho com carteira assinada do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged.

Já na política, oito pesquisas eleitorais para a Presidência devem chamar a atenção, começando pela sondagem BTG/FSB desta manhã, que mostrou Lula com 43% e Bolsonaro com 36% no primeiro turno, diminuindo a diferença para 7 pontos percentuais. Também nesta segunda, nova pesquisa Ipec deve ser divulgada no Jornal Nacional, da TV Globo. Na terça, o instituto MDA lançará a tradicional sondagem encomendada pela Confederação Nacional do Transporte. Na quarta serão três levantamentos: Genial/Quaest, PoderData e Ipespe, encomendada pela XP Investimentos. Uma nova pesquisa do Datafolha sairá na quinta e, no sábado, será a vez de um novo levantamento do Ipespe, desta vez encomendado pelo próprio instituto.

O pano de fundo que orienta os mercados do mundo, porém, ainda será a política monetária norte-americana, na sequência do mais recente pronunciamento do presidente do Fed, Jerome Powell.

Powell foi curto e grosso: o juro vai subir até que a inflação (a maior inflação desde os anos 80) ceda, ainda que isso cause “alguma dor” a famílias e empresas, leia-se desemprego. “Sem a estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém. Em particular, sem estabilidade de preços, não alcançaremos um período sustentado de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiem a todos”, disse ele na sexta, durante o simpósio de bancos centrais de Jackson Hole.

Por isso, a publicação do relatório oficial de empregos dos EUA referente a agosto, o payroll, na sexta-feira, é o destaque da semana dos mercados no plano global. “A divulgação do dado de agosto é especialmente importante porque deverá servir de fiel da balança para a política monetária praticada pelo Fed, de quem a economia mundial segue refém e em compasso de espera”, assinala o boletim diário da casa de análise Levante. “Vale lembrar que a Autoridade Monetária americana vem contando com a descompressão do mercado de trabalho americano para que, por meio dos salários, torne-se viável a desinflação em sua economia”, explica.

Na cabeça do Fed, os norte-americanos estão aproveitando os cheques do auxílio pandemia e o chamado “efeito riqueza” da valorização das ações até o começo deste ano para trabalhar menos. “As pessoas estão, mesmo, valorizando mais o tempo livre e precisam saber qual é o preço justo disso”, disse o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard. 

Nas projeções econômicas mais recentes do Fed, a mediana ficou numa taxa de desemprego de longo prazo de 4%, compatível com a meta de 2% de inflação. Um “pouso suave” na queda da inflação demandaria um aumento gradual do crescimento do desemprego para 3,7% até o final deste ano, 3,9% no próximo ano e 4,1% em 2024. Mas os economistas do Fed de San Francisco calculam que, para baixar a inflação no curto prazo, seria necessária uma taxa de desemprego de 6%, ou seja, 4 milhões de novos desempregados. Entretanto, a consulta da agência Reuters entre analistas do mercado aponta que a taxa de agosto deve repetir os 3,5% de julho. 

Ecoando Powell, Philip R. Lane, integrante da Executiva do Banco Central Europeu (BCE) e economista-chefe da instituição, disse que é preciso aumentar as taxas de juros em um “ritmo constante” até atingir o fim de seu ciclo. “Um ritmo constante – nem muito lento nem muito rápido – para fechar a lacuna em direção à taxa terminal é importante por várias razões”, afirmou. “O tamanho apropriado dos aumentos será maior quanto maior a diferença em relação à taxa terminal e quanto mais distorcidos os riscos para a meta de inflação”. Integrantes do BCE têm defendido um aumento de 75 pontos-base no próximo mês, após um movimento de 50 pb em julho. Lane, porém, não deixou clara sua preferência.

Com a expectativa de que o Fed e seus pares serão mais agressivos com os juros, as bolsas ao redor do mundo iniciam a semana com o mesmo mood baixista do final da semana passada, enquanto os títulos do Tesouro norte-americano de curto prazo (dois anos) atingem o maior nível em 15 anos, desde 2007. Nos EUA, os índices futuros pré-abertura dos pregões, com a Nasdaq em baixa de mais de 1%, o Dow Jones da Bolsa de Nova York em queda de 0,78% e o índice S&P 500 caiu 0,84%.

Bolsa em baixa, previsões otimistas

Aqui, a Bolsa abriu em baixa refletindo a aversão ao risco do exterior, com baixa das ações de empresas ligadas a commodities, enquanto os papéis do varejo sobem, após dados de emprego do Caged abaixo do consenso. O saldo líquido de empregos formais — a diferença entre admissões e demissões — no Brasil ficou no campo positivo, com 218.902 vagas em julho, abaixo da expectativa dos analistas, que previam o saldo positivo de 250 mil vagas. Os números também vieram abaixo do mês anterior. Em junho, o país registrou saldo líquido positivo em 277.944 vagas.

Os economistas de mercado, entretanto, continuam projetando mais alívio na inflação brasileira este ano graças às medidas do governo para conter a alta dos preços e reduções nos custos de combustíveis, enquanto a perspectiva de crescimento econômico melhorou para 2022, mas seguiu piorando para 2023, na pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira. As projeções para o IPCA deste ano estão em 6,70%, contra 6,82% no levantamento anterior. A perspectiva para os preços administrados passou a queda de 1,96%, de recuo de 1,80% antes, depois de medidas como a imposição de teto para as alíquotas de ICMS e, mais recentemente, reduções de preços de combustíveis anunciadas pela Petrobras nas refinarias.

Para o ano que vem, a inflação deve ficar em 5,30%, um recuo de 0,03 ponto percentual ante o levantamento da semana anterior, com alívio de 0,12 ponto na perspectiva para o avanço dos preços administrados, a 6,7%. Nos dois casos, entretanto, a inflação terminaria acima do teto da meta oficial, que é de 3,5% para 2022 e de 3,25% para 2023, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

A projeção para a taxa Selic no fim de 2022 completou a 10ª semana consecutiva em 13,75% no Boletim Focus. Este é o atual patamar da taxa, o que mostra a expectativa majoritária do mercado financeiro de que o ciclo de alta de juros se encerrou no Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto. Há um mês, o percentual já era de 13,75%. Da mesma forma, a mediana para a Selic no final de 2023 permaneceu em 11,00%, mesmo porcentual de quatro semanas antes. Já a previsão para o PIB é de crescimento de 2,10% este ano, desacelerando a 0,37% em 2023. 

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo