Economia

A Semana do Mercado: Inflação, juros e recessão ainda no centro das atenções

A instabilidade tende a dominar os mercados nesta semana se os indicadores a serem divulgados na quarta-feira 11 superarem as projeções

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

Depois de uma semana marcada por decisões de taxas de juros dos bancos centrais dos Estados Unidos (Fed) e do Brasil, queda generalizada das bolsas e outros ativos de risco e fortalecimento do dólar mundo afora, a instabilidade tende a dominar os mercados nesta semana se os indicadores a serem divulgados na quarta-feira 11 superarem as projeções.

Mas, como na semana passada importaram menos os pontos percentuais da elevação dos juros do que os pronunciamentos das autoridades monetárias, também nesta semana os agentes e analistas do mercado concentrarão suas atenções em discursos de vários dirigentes do Fed e, aqui, na publicação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom.

Os dados do índice de preços ao consumidor dos EUA para abril, a serem divulgados na quarta-feira, apontarão se a maior escalada dos preços em mais de 40 anos já bateu no pico. A taxa anual de inflação atingiu 8,5% em março, com preços recordes da gasolina. Economistas preveem uma taxa anual de 8,1%. Se passar disso, ela reforçará os dirigentes do Fed que defendem maior rigor na política monetária. Daí as atenções se voltarem para uma série de pronunciamentos de dirigentes do Fed nesta semana, incluindo os governadores do Fed de Atlanta, Nova York, Minneapolis, Cleveland e San Francisco. Índices de preços também são aguardados na Alemanha (na quarta-feira) e na China (na terça).

E, por falar no país asiático, o mundo vai continuar monitorando a política de Covid zero do país, que impôs novos lockdowns após um novo surto da variante Ômicron. Uma possível desaceleração da economia chinesa, com impactos na cadeia de suprimento e logística, também tem desanimado o mercado nos últimos dias.

No front interno, também na quarta-feira sai o Índice de Preços ao Consumidor, o IPCA, referente ao mês de abril, cuja prévia (o IPCA-15) avançou 1,73%, a maior taxa para o período em 27 anos. Para o mês cheio, os economistas do Bradesco esperam uma alta de 0,98%, enquanto os do Itaú apostam em 1,04% – o que levaria a inflação de 12 meses a 12,11% – e que será o pico da inflação em 2022. Segundo eles, com o impacto baixista da bandeira verde sobre os preços de energia elétrica, o indicador deverá continuar a ser pressionado pelos preços de alimentos e os componentes do chamado “núcleo da inflação”, isto é, a apuração que exclui os preços mais voláteis de alimentos e energia.

Diz a análise do Itaú: “A leitura será novamente pressionada pelos preços administrados, refletindo principalmente o reajuste da Petrobras anunciado em meados de março. Outros itens regulamentados, como produtos farmacêuticos, vão acelerar nessa leitura. Por outro lado, a energia elétrica apresentará alguma deflação, refletindo a mudança para a bandeira tarifária verde em meados de abril”.

Mas, antes do IPCA, na terça-feira 10 tem outro destaque na agenda, bastante aguardado pelos investidores: a ata da última reunião do Copom, que elevou a taxa básica, a Selic, em um ponto percentual, para 12,75% a.a. “Aparentemente, a decisão de prolongar ou interromper o ciclo de aperto monetário será tomada reunião a reunião”, afirma a equipe do Itaú. “Esperamos que termine com a Selic em 13,75%, com duas altas extras de 50 pontos base, mas a divulgação da minuta na próxima terça-feira pode nos levar a rever essa projeção, se necessário.”

O problema é que não estava claro até a manhã desta segunda se a retomada da greve dos servidores do BC poderá atrasar, de alguma forma, a publicação da minuta. Também não está prevista a divulgação do Relatório Focus, com a previsão dos economistas. O último Boletim Focus, que acompanha semanalmente as projeções de indicadores econômicos de 100 economistas do mercado, divulgado em 2 de maio, mostrou a 16ª alta consecutiva das estimativas, apontando um IPCA acumulado no ano de 7,89%.

A semana também trará a divulgação dos dados de vendas no varejovendas de veículos e produção de veículos na terça; confiança do consumidor da Reuters na quarta; e crescimento do setor de serviços na quinta. Sobre este cenário, prossegue o calendário de resultados trimestrais das empresas, com os balancetes de mais de 80 companhias esperados para os próximos dias.

Mas nem mesmo resultados fortes de alguns dos principais papéis da Bolsa, como Petrobras e Bradesco, têm segurado a bolsa. Na sexta, os papéis de ambas as companhias tiveram respectivas altas de 3,3% e 2,1%, após a divulgação de balanços, mas o Ibovespa fechou em queda, acumulando uma baixa de 13,8% em relação à pontuação máxima do mês passado. E pode ser que hoje mesmo o índice passe a ser negativo no acumulado do ano.

Parte da piora de percepção sobre o mercado local também deriva da China, cuja balança comercial divulgada nesta manhã mostrou forte desaceleração das exportações em abril. A queda foi de 3,9% nas vendas ao exterior, o que fortaleceu o receio de os lockdowns ameaçarem a atividade econômica de outros países.

Nesta madrugada, o minério de ferro desabou cerca de 7% na bolsa de Dalian, com investidores prevendo menor demanda do gigante asiático – o que afeta diretamente a Vale, carro chefe do Ibovespa.

Já o dólar, que poucas semanas atrás bateu os 4,60 reais, terminou a última sessão cotado a 5,07 reais, reagindo à onda global de valorização da moeda que se seguiu à divulgação dos dados sobre emprego nos EUA. A taxa de desemprego norte-americana manteve-se estável, em 3,6% no mês de abril, com a criação líquida de 428 mil postos de trabalho, mostrando que o mercado de trabalho segue firme e forte, com os salários pressionados – ou seja, nada para aliviar as preocupações com as taxas de juros mais altas dos EUA e os temores de recessão.

O índice do dólar, que acompanha os movimentos da divisa em relação a uma cesta de seis moedas de mercados desenvolvidos, atingiu uma alta de 104,20 na sexta e hoje apontava 104,19, depois de haver caído para 103, no fechamento de sexta.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.