Economia

A Semana do Mercado: Covid na China, Fed e PEC dos benefícios movimentam as bolsas

Em linha com o movimento mundial, o Ibovespa operava em baixa de 1,6%, na casa dos 98.600 pontos, no início dos negócios da semana

Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
Apoie Siga-nos no

Bolsas em queda, dólar em alta refletem, nesta manhã, a expectativa dos investidores com a retomada de restrições à atividade na China visando controlar a variante Ômicron BA.5, tida como a cepa mais contagiosa da Covid 19. Também continua pesando a expectativa com o grau de aperto da política monetária do Federal Reserve, o Fed, banco central dos Estados Unidos, que na quarta-feira divulga seu Beige Book – o relatório mensal dos 12 distritos da instituição sobre o estado das economias locais e que informa as decisões sobre juros do Comitê Federal de Mercado Aberto, o Fomc. No front doméstico, os mercados financeiros já operam no “modo eleição” aguardando, para amanhã, a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria e amplia benefícios sociais a três meses das eleições.

A bolsa de Xangai caiu mais de 1% nesta madrugada, enquanto o Hang Seng, de Hong Kong, tombou mais de 2%. O pessimismo também atingiu as negociações de minério de ferro, que caiu mais de 3% em Dalian, indicando um pregão de perdas para as mineradoras e siderúrgicas brasileiras. O movimento se espalhou pela Europa, onde as principais bolsas operam em queda e o euro voltou a se desvalorizar perante o dólar, com a cotação se aproximando cada vez mais da paridade de 1 euro para 1 dólar, ante as perspectivas de recessão.

Na mesma toada, as bolsas americanas, no pré mercado, também sinalizavam baixa, aguardando, além do relatório do Fed, a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de junho, também na quarta. Os dados do mercado de trabalho americano da semana passada, que vieram mais altos do que o esperado, reforçaram as expectativas de um Fed mais agressivo nos próximos meses. A aposta da maioria dos analistas e investidores é de novo aumento de 0,75 ponto porcentual na reunião do Fomc no fim do mês, como indicaram em relatório estrategistas do Bank of America (BofA) e do Morgan Stanley, no fim da semana passada. Para eles, o pior nas bolsas está para vir no segundo semestre. Os analistas do BofA assinalaram que os investidores estão com o caixa repleto e privilegiando os títulos do Tesouro dos EUA, considerado um porto seguro na volatilidade dos mercados, em detrimento das ações. Tanto é que os fundos de ações globais acusaram resgate líquido de 4,6 bilhões de dólares na semana passada, enquanto os fundos de treasuries e outros papéis públicos viram entrar 2,4 bilhões líquidos.

A situação é semelhante aqui: nos seis primeiros meses do ano, os fundos de renda fixa registraram captação positiva líquida de 88,8 milhões de reais, na contramão dos fundos de ações e multimercados que tiveram uma saída líquida de 111,3 bilhões. No conjunto, os fundos de investimentos acompanhados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) registraram captação líquida de meros 8 bilhões de reais no primeiro semestre. É um resultado do aumento da taxa de juros e da atratividade maior dos investimentos isentos, como LCIs, LCAs, em relação aos fundos. É um reflexo da aversão ao risco”, explicou o vice-presidente da Anbima, Pedro Rudge.

Nada indica mudança significativa deste cenário, pelo que se vê nas projeções captadas junto a economistas do mercado compulsados pelo Banco Central, que  revisaram para baixo a previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao final deste ano, passando de 7,96% para 7,67%, porém  subiram a estimativa da inflação para 2023, de 5,01% para 5,09%, e de 4,70% há um mês. Para 2024 também houve ligeira alta de 3,25% para 3,30%, enquanto para 2025 a estimativa manteve-se em 3%. As expectativas estão acima das metas de inflação para 2022, 2023 e 2024, que são de 3,50%, 3,25% e 3%, respectivamente, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Com isso, a projeção para a Selic ao final deste ano seguiu em 13,75%, de 13,25% há quatro semanas. Para 2023 a previsão foi mantida em 10,50% e a de 2024 avançou de 7,75% para 8%. Já a previsão de 2015 se manteve em 7,50%.

Assim, em linha com o movimento mundial, o Ibovespa operava em baixa de 1,6%, na casa dos 98.600 pontos, no início dos negócios da semana, enquanto o dólar comercial era cotado a 5,35, com alta de 1,5%. Isso apesar de números positivos para o segundo trimestre já divulgados, como indicadores antecedentes e dados do mercado de trabalho. Nesta semana,  o destaque da semana fica por conta dos dados de atividade que serão divulgados ao longo dos próximos dias e devem confirmar tal percepção. O IBGE divulga os números do setor de serviços amanhã e das vendas no varejo na quarta, ambos referentes ao mês de maio. Assim como na indústria (+0,3%), a expectativa é de que os setores mostrem resultados positivos no mês, impulsionados pelas medidas de transferências de recursos adotadas pelo governo, melhora do mercado de trabalho, continuidade do processo de normalização das atividades presenciais e avanço do crédito.

Para o setor de serviços, a expectativa é de avanço de 0,2%. Já as vendas no varejo (ampliado) devem acelerar, beneficiadas especialmente pela liberação de recursos do FGTS, com expansão projetada de 1,8% em maio, quarta alta mensal seguida. O Banco Central, por sua vez, deve divulgar o índice IBC-Br (proxy mensal do PIB) de maio na quinta, após atualizar a série na última semana. O indicador também deve registrar alta no mês, refletindo a expectativa de avanço dos principais setores no período. Assim, a expectativa é que a atividade econômica siga aquecida, puxada, em especial, pelo consumo das famílias, sustentando o crescimento do PIB do 2º trimestre. Diante de tal quadro, é possível que as projeções para o crescimento deste ano sigam com viés de alta, sendo que alguns analistas já projetam expansão acima de 2,0%.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo