Economia

A Semana do Mercado: atenções voltadas para a política monetária, aqui e lá fora

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 13

Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
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Decisões e embasamentos de política monetária são o destaque no radar das mesas de operações nesta semana, voltados principalmente para o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, em busca de sinais de quando e quanto começarão a subir as taxas de juros básicas – que desde o início da pandemia, há quase dois anos, estão em zero por cento, em termos reais, isto é, descontada a inflação.

A despeito das características de uma redução mais acentuada das compras de títulos de dívida no mercado por parte do Fed, a ideia que o presidente do BC norte-americano vem passando é de que os juros só subirão quando o programa de estímulo monetário estiver concluído. A decisão, esperada para esta quarta-feira 15, mantém os investidores mais cautelosos do que o normal.

A casa de análise Levante Ideias de Investimento ressalta que a inflação nos EUA acumulada em 12 meses, até novembro, chegou a 6,8%, índice mais elevado desde novembro de 1982. Ou seja, há quase 40 anos. Assim como no Brasil, os índices de preços americanos têm sido turbinados por itens específicos. Os preços da energia avançaram 3,5% em novembro, e os preços da gasolina subiram 6,1%. Em 12 meses, a alta da energia foi de 33% e o gasto nas bombas de combustível ficou 58% mais caro.

Outro sinal inequívoco do aquecimento da economia do Tio Sam é a queda recorde nos pedidos iniciais de seguro-desemprego. O resultado da semana encerrada em 4 de dezembro foi de 184 mil pedidos, uma queda de 43 mil em relação ao nível revisado da semana anterior. Foi o menor número semanal de pedidos desde os 182 mil na semana encerrada em 6 de setembro de 1969. A média móvel de quatro semanas caiu para 218,75 mil pedidos, uma diminuição de 21,25 mil em relação à média revisada da semana anterior.

“Com tantos números indicando o aquecimento da economia, a expectativa dos investidores é que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, deve acelerar na retirada dos estímulos à economia. A expectativa agora é que, na reunião marcada para a terça-feira (14) e para a quarta-feira (15), Jerome Powell, presidente do Fed, anuncie que a compra será reduzida em 30 bilhões de dólares por mês, em vez dos 15 bilhões anunciados em outubro”, assinalam os analistas da Levante.  Assim, o programa que vinha injetando 120 bilhões de dólares na economia todos os meses deverá se encerrar até março do ano que vem, o que significaria que, a partir daí, o Fed começará a subir os juros, em três momentos no próximo ano, três em 2023 e dois em 2024, diz a Levante. Ou seja, a pressão de alta dos ativos, em todo o mundo, causada pela liquidez abundante vai arrefecer.

No front doméstico, aponta o Informativo Semanal de Economia Bancária – ISEB, da Federação Brasileira de Bancos, as atenções do mercado estarão voltadas para os documentos que o Banco Central divulgará nesta semana: a Ata da última reunião do Copom, amanhã, e o Relatório Trimestral de Inflação, que traz as novas projeções de inflação e PIB, na quinta. Na última reunião, o Colegiado voltou a elevar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 9,25% a.a., além de antever outro ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. O movimento era esperado, mas o tom adotado foi bem mais duro (ou hawkish, no jargão dos mercados), sinalizando que o Comitê fará o que for preciso para levar a inflação à meta e garantir a ancoragem das expectativas, mesmo com a evidente perda de tração da economia.

Comentando a decisão e o comunicado do Comitê, os economistas da Itaú Asset Management notam que o BC “reconhece que o aperto monetário esperado seja insuficiente para assegurar o cumprimento da meta de inflação em 2022”. De fato, considerando a trajetória esperada para a Selic na pesquisa Focus, que teria um pico de 11,75% em 2022 e encerraria tal ano em 11,25%, o modelo do BCB indica que o IPCA terminará 2022 significativamente acima da meta (4,7%), mas desacelerará para um nível consistente com a mesma taxa em 2023 (3,2% ). Lembrando que o centro das metas de inflação é de 3,50% para 2022 e 3,25% para 2023.

Assim, o Copom optou por sinalizar que buscará a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que hoje inclui os anos calendários 2022 e 2023. Para tanto, o Copom reforçou que o plano de voo embute uma nova elevação da mesma magnitude na primeira reunião do próximo ano, mas inovou ao afirmar que o “risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos” torna apropriado que o ciclo de aperto avance “significativamente” para território contracionista. Tal passagem, somada à consideração de que o Comitê pretende “perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, reforça a possibilidade de a Selic encerrar o atual ciclo em um nível acima do indicado na trajetória do Focus.

O Relatório Focus de hoje trouxe poucas alterações nas expectativas para 2021 dos economistas consultados semanalmente pelo BC. Os prognósticos para 2022, porém, continuam mudando. Agora, a projeção para a taxa referencial Selic no fim de 2022 subiu para 11,50%, ante 11,25% da semana anterior e 11% há quatro semanas. A projeção de crescimento da economia para o ano que vem recuou levemente para 0,50%, contra 0,51% da semana anterior, mas registrou uma forte queda ante os 0,93% de quatro semanas atrás.

No campo da política, a Genial Investimentos lembra que esta será provavelmente a última semana de 2021 antes do recesso parlamentar, que, normalmente, começa entre os dias 20 e 23 de dezembro. Será uma semana bastante ativa no Congresso. Vários projetos estão em discussão e devem ser votados antes do recesso. Em especial, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), se comprometeu a colocar em votação no plenário da Casa a parte da PEC dos Precatórios que foi modificada no Senado e que teve de voltar para votação na Câmara.

Segundo o acordo, a proposta será enviada diretamente para votação no plenário da Câmara. Esta parte da PEC cria um subteto para o pagamento dos precatórios e gera mais espaço dentro do teto para aumentar gastos em 2022. Caso a Câmara faça alguma modificação, o projeto retorna para votação no Senado. Além da PEC dos precatórios, estarão em votação o novo marco regulatório das ferrovias, a BR do Mar, que, se aprovado, irá para a sanção do presidente da República, além do projeto do Orçamento de 2022. O projeto de Orçamento já foi lido na Comissão de Constituição e Justiça e, segundo o relator, deverá ser colocado em votação na Comissão nesta semana. Uma vez aprovado deve ser levado diretamente para a votação no plenário.

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