Economia

A Semana do Mercado #26: a agenda política se sobrepõe à pauta econômica

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 6

Bolsonaro gera aglomeração em ato do 7 de Setembro, em 2020. Foto: Sergio LIMA / AFP
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A agenda política definitivamente se sobrepõe à pauta econômica nesta semana, sobretudo por causa das manifestações de amanhã, 7 de Setembro, que devem colocar ainda mais tensão sobre as relações entre os Poderes no curto prazo. “Às vésperas de atos programados para o 7 de setembro no Brasil, o mercado segue atento aos ruídos no ambiente político, especialmente de olho na instabilidade das relações institucionais”, assinala análise semanal da Itau Asset Management.

“O cenário será dominado pelas manifestações do dia da independência, que se transformaram em uma disputa pública entre o STF e o Presidente da República”, antecipa a Genial Investimentos no boletim desta manhã, sublinhando que, “no final, o conflito [entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal] terá solução pacífica”, mas o desempenho da economia não restará incólume. A a Levante Ideias de Investimentos salienta .“O ambiente político da semana ficará contaminado pelos desdobramentos das manifestações e o Congresso Nacional deve pautar a agenda legislativa de acordo com o clima posterior às manifestações.”

Segundo Felipe Ferreira, diretor da ComDinheiro, as manifestações são um fator de risco, na medida em que “os manifestantes pró governo apontam contra outras instâncias do poder; isso traz inquietude, aumenta a percepção de risco”. Por outro lado, manifestações contra o governo suscitam questionamento sobre a capacidade do Executivo de exercer o poder e o ideal para o ambiente de negócios seria um dia 7 com manifestações pacíficas e sem muito alarde. “Mesmo que falem muito, se tiver pouca repercussão isso não impactará no mercado. Mas, se um ou outro lado mostrar muita força podemos caminhar para um modelo de instabilidade, com ações de todos os setores caindo ao mesmo tempo”, avalia.

No dia seguinte às manifestações, na quarta-feira, a Câmara pretende iniciar a votação do novo Código Eleitoral e pode aproveitar a cobertura mais ampla dos atos do feriado para acelerar o processo de tramitação deste polêmico projeto de lei. No STF, será retomado o julgamento do marco temporal para demarcação de terras indígenas, assim como um mandado de segurança que busca barrar a votação do novo Código Eleitoral. O marco temporal é um tema que mobiliza grande parte do mundo político, em especial o agronegócio e a bancada ligada aos povos indígenas. 

De acordo com Vanessa Blum Colloca, diretora da corretora de câmbio GetMoney, os investidores seguem monitorando ainda o andamento da segunda fase da reforma tributária, que agora será apreciada pelo Senado – onde o texto certamente encontrará resistência. Os estados vão trabalhar para derrubar no Senado a alteração da reforma do IR. O Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do DF (Consefaz) estima que, da maneira com que foi aprovado na Câmara, o texto vai impor a governos e municípios uma perda de 19,3 bilhões de reais em arrecadação. O maior impacto está na redução da alíquota para dividendos a 15%. Segundo os cálculos, os Estados amargariam uma perda anual de 9,9 bilhões de reais e os municípios, de 9,3 bilhões de reais. Já para a União, o impacto fiscal da reforma seria negativo em 22,1 bilhões de reais, detalha Vanessa.

Na pauta econômica, a atenção do mercado se concentrará no Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, que será divulgado na quinta. A expectativa é de uma alta de 0,71%, com nova aceleração no acumulado em 12 meses, de 8,99% para 9,50%. Para os economistas da Febraban, as maiores pressões devem vir dos alimentos in natura (impactados pelo clima adverso) e da gasolina e do gás de cozinha, estes puxados pelos reajustes da Petrobras.

Já a conta de energia elétrica deve mostrar uma alta mais contida, s reacomodando após o forte aumento no valor adicional da bandeira vermelha. Este alívio, no entanto, vai dura pouco, pois a partir do dia 1º setembro começa a vigorar a nova bandeira tarifária de “escassez hídrica”, cujo valor extra é de R$ 14,20 pelo consumo de 100kWh, bem acima dos R$ 9,49 (teto) cobrados até então. Ainda, o processo de reabertura das atividades deve continuar permitindo um maior repasse dos preços do atacado para o varejo, com dinâmica mais forte nos preços dos serviços e dos produtos industriais (vestuário, artigos de residência, etc.). 

Os economistas do mercado ouvidos semanalmente pelo Banco Central voltaram a elevar suas estimativas para a inflação e a rebaixar as projeções para o PIB, de acordo com a pesquisa Focus divulgada hoje pela manhã. O Focus apontou expectativa de avanço do IPCA de 7,58% este ano e 3,98% no próximo. Na semana anterior, as projeções eram de 7,27% e 3,95%. Como a inflação alta chama juro alto, os economistas repicaram a projeção da Selic para 7,63% no final de 2021 na mediana das projeções e a 7,75% em 2022, contra 7,50% para ambos os casos na semana passada. Para o PIB deste ano, as projeções desta semana ficaram em 5,15%, ante 5,22% na semana anterior, enquanto caíram de 2,0% para 1,93% em relação a 2022.

O Banco Central volta a se reunir nos dias 21 e 22 de setembro para decidir sobre os juros diante de um pano de fundo de inflação persistentemente alta e fraqueza da atividade econômica.

O cenário inflacionário se complica ainda mais com a implementação da bandeira tarifária “escassez hídrica”, que trará aumento adicional de 6,78% na tarifa média dos consumidores regulados.

O centro da meta oficial para a inflação em 2021 é de 3,75% e para 2022 é de 3,50%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Para a economia, as estimativas foram reduzidas para ambos os anos, chegando a um aumento previsto do Produto Interno Bruto de 5,15% em 2021 e 1,93% em 2022, de 5,22% e 2,00% antes. Entre abril e junho, o PIB brasileiro registrou queda de 0,1%, mostrando perda de força depois de uma expansão de 1,2% no primeiro trimestre e abaixo da expectativa de um avanço de 0,2%.

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