Economia

A semana do mercado #01: Selic pouca, fuga do risco e Ata do Copom

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura da bolsa nesta segunda-feira 22

(Foto: Agência Brasil)
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Na edição de estreia de A semana do mercado, o editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura das negociações.

Confira a seguir.

Selic de 2,75% é pouco

O mercado financeiro não ficou satisfeito com a bordoada de 0,75 ponto percentual que elevou a taxa básica de juros de 2% para 2,75% a.a. na semana passada. E pela 11ª semana consecutiva, inflaram hoje sua previsão para o IPCA — o índice oficial de preços – em 2021.

O Relatório de Mercado Focus, divulgado na manhã desta segunda-feira 22 pelo Banco Central, indica uma deterioração das expectativas que a decisão inesperada do Copom da semana passada não foi capaz de dissipar. Projeta 4,71% para o IPCA deste ano, ante estimativa 4,6% na semana anterior. Por conta disso, o Focus elevou a previsão da taxa referencial Selic para dezembro: 5% ante os 4,5% previstos na semana passada. O dólar – que vários agentes e analistas dentro e fora do mercado percebiam como alvo da bordoada do Copom – permaneceu inalterado em 5,30 reais para dezembro e a estimativa de crescimento da economia está em 3,22%, praticamente estável ante os 3,23 % da semana anterior.

Até parece que os vigilantes dos juros da Faria Lima se louvaram na expectativa de inflação para os consumidores para os próximos 12 meses da Fundação Getúlio Vargas, que subiu 0,2 ponto percentual no mês de março  — para 5,5%. O valor é maior desde novembro de 2018, mesmo diante de sete períodos consecutivos de alta. Comparado ao mesmo mês do ano anterior, a mediana subiu 0,7 p.p.

Mas muito mais provável é que estivessem de olho na divulgação, na quinta-feira, do IPCA-15, que “deve mostrar forte alta, de 0,94%, acelerando no acumulado em 12 meses de 4,57% para 5,53%, já acima do teto da meta estipulada para 2021 (5,25%)”, segundo boletim da Febraban. 

Daí a desconfiança de que o Copom terá que ser ainda mais duro com uma inflação que não vem do aquecimento da atividade, muito menos do pleno emprego, como seria o normal. “O que está motivando a desconfiança de que a Selic vai ter que subir mais ainda, talvez mais 1 ponto percentual cheio, é do cenário fiscal, dos problemas sérios de gargalos de produção que impactam nessa inflação de custos”, disse o estrategista da administradora de recursos Ouro Preto, Bruno Komura.

Ele se referia às expectativas embutidas nos contratos futuros de juros de prazos mais curtos que subiram na sexta indicando chances de a Selic subir até 1% na próxima reunião do Copom. “Com isso, a expectativa que era de uma Selic de 4% a 4,5%, mas já está passando para 6% a 7%”, acrescentou.

Segundo analistas, o sobe e desce deve prevalecer ao longo desta semana nos mercados mais sensíveis à política

Ata e Relatório de Inflação dão o norte

Sem indicadores internacionais relevantes, os mercados domésticos tenderão a se nortear basicamente pela inflação nacional. Nesta semana, serão divulgadas a Ata do Copom e o Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, trazendo mais informações quanto à condução da política monetária e as novas projeções de inflação do BC. A Ata deve trazer mais detalhes sobre o processo de “normalização parcial” apontado pelo Copom, enquanto o RTI trará as projeções de inflação atualizadas, contribuindo para o mercado a ajustar as projeções da Selic deste e do próximo ano.

As projeções para o dólar tampouco sofreram alteração, apesar de que parte nada desprezível de analistas do mercado financeiro, assim como economistas ligados à produção, entenderem que o Copom mirou no câmbio inchado que contamina a inflação de custos. O dólar previsto para dezembro permaneceu inalterado em 5,30 reais e a estimativa de crescimento da economia está em 3,22 por cento, praticamente estável ante os 3,23 por cento da semana anterior.

Entre a quarta-feira, quando o Copom se reuniu, e a sexta-feira, o dólar comercial teve queda de 1,81% em relação ao real, cotado próximo de R$ 5,48. Mas hoje a moeda subiu, e não só no Brasil. Basicamente por conta da Turquia, onde o presidente do Banco Central foi demitido, na sexta feira à noite, por ter elevado a taxa básica de juros. Sobre o pano de fundo do agravamento da pandemia de Covid 19, que afeta mais duramente os países emergentes, foi um sinal para os investidores e especuladores venderem as moedas desses países, inclusive o real. Pelo meio da tarde, o dólar comercial à vista subia 0,41%, para 5,508. 

Visto como uma garantia de que a Turquia do presidente Erdogan seguiria políticas econômicas ortodoxas, o chefe do BC turco Naci Agbal elevou a taxa básica de 10,25% para 19% – a última elevação de dois pontos percentuais na semana passada. Foi demais para Erdogan, que já demitiu dois outros presidentes do BC nos últimos dois anos.

Sem indicadores internacionais relevantes, os mercados domésticos tenderão a se nortear basicamente pela inflação nacional

Fuga do risco e instabilidade política

Também pesa sobre a Bolsa brasileira, que já tem os juros e as sequelas da Covid-19 para carregar, a aversão ao risco dos emergentes. Pelo meio da tarde, o índice Bovespa, depois de cair 1,47%, recuperava-se e apresentava baixa de 0,90%, com as ações ligadas à exportação de commodities, Petrobras e Vale, puxando a desvalorização do índice. 

Segundo analistas, o sobe e desce deve prevalecer ao longo desta semana nos mercados mais sensíveis à política, a bolsa e o dólar, diante da pressão de sobre o governo federal crescendo substancialmente em linha com o agravamento da pandemia. Um sinal claro desse aumento da pressão veio com a divulgação da carta assinada por mais de 500 economistas, empresários e banqueiros exigindo uma administração “competente” da crise sanitária por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro.

“Com perspectivas de melhora do quadro ainda distantes – pelo contrário, a expectativa é que os números de março venham ainda piores que os atuais – até mesmo os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem admitido que haverá mais cobranças sobre o Executivo”, escreveram os analistas da empresa de análises Levante. “O mercado ainda não deve reagir às pressões políticas, mas vai monitorar o Congresso para saber se esse movimento vai, de fato, resultar em alguma ação contra o Executivo.”

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