Economia

A justificativa da Petrobras para reduzir os dividendos para R$ 72 bilhões em 2023; relembre o histórico

Antes, estatal pagava 60% do caixa livre em dividendos; agora, cifra caiu para 45%

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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A Petrobras informou, na noite desta quinta-feira 7, que o seu conselho de administração recomendou a distribuição de 14,2 bilhões de reais em dividendos. O valor, que deverá passar pela avaliação da Assembleia-Geral Ordinária, prevista para o próximo dia 25 de abril, é referente ao quarto trimestre de 2023.

Caso a proposta seja aprovada, os dividendos totais de 2023, já ajustados pela taxa Selic, vão somar 72,4 bilhões de reais. O montante representa uma redução no histórico de distribuição de dividendos para acionistas e uma quebra de expectativa do mercado financeiro, que estima em 90 bilhões o valor a ser repassado pela empresa no ano passado.

Como justificativa a redução no bilionário bolo de dividendos, a Petrobras disse que a aprovação “é compatível com a sustentabilidade financeira” e “está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural”. 

Para os acionistas, os dividendos referentes ao quarto trimestre representam 1,09 reais por cada ação preferencial ou ordinária, e devem ser pagos em duas parcelas: em 20 de maio e em 20 de junho. 

Segundo a companhia, a forma de distribuir dividendos consta na Política de Remuneração aos Acionistas, aprovada em julho do ano passado, que estabelece que, em caso de endividamento igual ou inferior a 65 bilhões de dólares, a Petrobras fica responsável por distribuir aos acionistas 45% do fluxo de caixa livre. Desde 2011, o percentual era de 60%.

Agora, resta saber como o mercado vai reagir à decisão de não pagar dividendos extras. Na Bolsa de Nova York, por exemplo, as ações da companhia caíram cerca de 10% nas negociações pós-mercado.

O histórico recente de dividendos da Petrobras

Nos últimos anos, a Petrobras não se furtou a pagar dividendos elevados, até mesmo para os padrões das principais companhias internacionais. A dinâmica justificou o interesse de investidores de fora, atentos aos altos valores pagos por cada ação. 

Em 2022, por exemplo, a companhia se tornou a segunda maior pagadora aos acionistas do mundo, segundo um levantamento da gestora Janus Henderson. 

Naquele ano, a estatal distribuiu robustos 215,8 bilhões de reais em remuneração aos acionistas (incluindo o governo), estimulada pelo crescimento nos lucros que decorreu da alta do petróleo após o começo da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Em 2022, o pagamento por cada ação equivalia a 17 de reais. Em 2023, o número caiu para a casa dos 8 reais. Já para este ano, a expectativa do mercado é que fique em 6 reais por ação.

Os valores não eram apenas altos. Eles representavam parcelas significativas do próprio lucro da estatal, comprometendo o potencial de investimento. Segundo um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o patamar de distribuição para acionistas, no período 2019-2022, não teve paralelo na história recente da companhia.

Entre 1995 e 2019, segundo o órgão, a companhia repassava aos acionistas, em média, 30% do que lucrava no ano. O pico aconteceu em 1996, com 54%. 

Em 2020, por sua vez, a distribuição alcançou 145%. Em 2021, houve queda, mas o percentual bateu os 95%, o que representava um valor nominal de 101,4 bilhões de reais Já 2022 foi marcado pelo fato de que a Petrobras pagou, sozinha, mais dividendos do que todas as outras companhias listadas na B3 – a Bolsa brasileira – juntas, de acordo com um levantamento da TradeMap.

Outra questão importante sobre a Petrobras – fundada ainda sob o governo Getúlio Vargas, no início dos anos 1950 – diz respeito a quem ela paga os dividendos. A União ainda é a principal acionista da petroleira, mas boa parte do valor distribuído tem como destino investidores privados.

Segundo dados da própria companhia, cerca de 50% do valor é pago para ações negociadas em dois locais: a Bolsa de Nova York e a B3. Nos Estados Unidos ou em São Paulo, os investidores que abocanham os dividendos são estrangeiros.

E o futuro?

Desde que chegou ao poder, o presidente Lula (PT), assim como integrantes do PT, critica os elevados dividendos pagos pela Petrobras, argumentando que a companhia deve priorizar os investimentos.

No seu primeiro ano do terceiro mandato presidencial, como mencionado, o valor nominal pago em dividendos, de fato, caiu, acompanhando o ritmo decrescente do lucro da companhia.

Para os próximos anos, a Petrobras deverá continuar distribuindo dividendos elevados, mas a um ritmo menor do que no passado recente. 

Segundo o novo plano estratégico da petroleira, divulgado em novembro do ano passado, a previsão é que, entre 2024 e 2028, os pagamentos fiquem entre 40 e 45 bilhões de dólares (195,7 e 220,2 bilhões de reais).

Por seu turno, os investimentos devem somar 102 bilhões de reais, o que representaria um aumento de 31% na comparação com o plano quinquenal anterior.

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