Diversidade
Um LGBT é agredido no Brasil a cada hora, revelam dados do SUS
Pesquisa inédita mostra que os negros são alvo de metade dos registros de violência contra população LGBT

Uma pesquisa inédita feita baseado nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que a cada uma hora um LGBT é agredido no Brasil. Entre 2015 e 2017, data em que os dados foram analisados, 24.564 notificações de violências contra essa população foram registradas, o que resulta em uma média de mais de 22 notificações por dia, ou seja, quase uma notificação a cada hora.
O levantamento foi realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), secretarias de Atenção Primária em Saúde e de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os pesquisadores coletaram as notificações feitas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que faz parte do SUS, e que, portanto, inclui diversos casos de violência que não foram denunciados.
A pesquisa mostra um cenário muito pior do que se imaginava, mas os números podem ser ainda maiores. Os pesquisadores dizem que há muitas pessoas que não registram a ocorrência, não procuram o sistema de Saúde e, quando procuram, muitos não colocam sua orientação sexual por medo ou vergonha, o que faz aumentar os casos de subnotificação da violência.
População negra é a mais atingida
De todas as agressões, mais da metade delas são cometidas em pessoas negras. A identidade de raça ou cor das vítimas foi descrita como branca em 41,4% dos casos, 1,8% amarelos ou índios e em 6,8% foi ignorada a raça.
Os pesquisadores explicam que não há como saber se as pessoas mais atingidas pela violência são negras, porque não há uma medição de quantos LGBTs negros existem no Brasil. O estudo apenas descreve o que foi identificado no sistema de informações usado pelo SUS.
Nos adolescentes, a porcentagem de negros é ainda maior: 57% dos LGBTs de 10 a 14 anos que foram agredidos são pardos ou pretos. Em todas as faixas etárias, a natureza de violência mais frequente foi a física (75%) e, em 66% dos casos, o provável autor é do sexo masculino.
Transsexuais e lésbicas são mais vítimas da violência
Os dados até então apresentados pela Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) mostram que o Brasil é dos países que mais mata travestis e transsexuais do mundo, e que elas são as mais atingidas dentro da sigla. E isso foi sustentado pela pesquisa divulgada agora. Das vítimas, 46% eram transexuais ou travestis.
As pessoas homossexuais são 57%, dos quais 32% lésbicas e 25% gays, mostrando que a violência contra gênero é algo relevante no quesito da agressão. E não só isso: pesquisadores ressaltam que, além do gênero, a raça e a classe são relevantes para se analisar a violência contra LGBTs.
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