Diversidade

“Precisamos levar essa coisa da militância para o Instagram”, diz fotógrafo pop nas redes

Com a fotografia, Tom Filho apresenta um mundo de diversidade em cenários improváveis

Modelos do fotógrafo Tom Filho (Foto: Tom Filho)
Apoie Siga-nos no

Um entulho no fim da rua, um varal com um lençol estendido, um fundo de quintal com algumas plantações ou até mesmo dentro de uma geladeira. Os cenários não parecem usuais para um post no Instagram, mas Tom Filho, baiano de 21 anos que faz sucesso na internet pelos retratos inusitados, quer ser reconhecido justamente por ser diferente. Os mais de 100 mil seguidores parecem apontar o caminho certo.

Os retratos, publicados no Instagram e no Twitter com milhares de compartilhamentos, trazem à tona a dinâmica das redes sociais por inovação na criação de conteúdo. Tom, no entanto, não veio para São Paulo em 2017 com a vida feita. Teve o primeiro emprego como assessor de telemarketing, ainda em Salvador, para conseguir comprar a primeira e única câmera que, para ele, era um instrumento para recuperar a autoestima.

Com ela, começou a fotografar colegas e tímidos primeiros clientes na capital paulistana. O processo, que começou de dentro, teve como efeito retratos que inspiram a percepção da beleza, principalmente, nas pessoas negras. Mas até a página dois.

“Autoestima é algo que a gente trabalha todos os dias em nós mesmos. O intuito é fazer com que elas se enxerguem com os meus olhos, e não com os dela. Tem muita gente que se vê de uma forma muito negativa por conta de muitos traumas e muitas coisas que aconteceram na infância, sabe?”, diz.

No universo do engajamento, no entanto, Tom percebeu que as curtidas para fotos das modelos negras tinham menos repercussão do que as das personagens brancas. Em uma publicação, provocou: “Do que vocês chamam isso na cidade de vocês?”

“As pessoas não curtem tanto e comentam tanto, mas eu sempre posto no meu perfil porque eu quero que as pessoas se acostumem muito com isso. É muito comum ver feeds de outros fotógrafos só com pessoas brancas, magras, loiras e de olhos azuis. Eu sou uma pessoa preta e eu não me sinto representado fazendo fotos de pessoas brancas sempre”, crava.

 

Pela fotografia, ele mesmo disse se curar da autoestima baixa quando, ainda na Bahia, fazia autorretratos. Do outro lado das lentes – único equipamento novo, diferente da câmera, a primeira a adquirir até hoje -, Tom conta que as pessoas ficam confiantes de que irão exalar uma beleza única e particular: a delas.

Num mundo de cliques e de questionamentos de alcance de questões sociais e raciais, o influenciador defende que as redes são, também, um lugar para a militância negra.

“Infelizmente, estamos vivendo em um momento em que não estamos no topo da sociedade, ainda falta muito. Precisamos levar essa coisa da militância também para o Instagram, um local muito difícil de se enxergar. O que mais importa é fazer com que as pessoas se sintam representadas”, conta. Pelas fotos abaixo, a estratégia parece estar dando certo.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo