Diversidade

15 personalidades LGBTs que se destacaram na luta pela igualdade em 2019

Em um ano de Bolsonaro, censura e preconceito, pessoas lutaram abertamente pela liberdade, pela felicidade e pelo amor

Pabllo Vittar (Foto: Reprodução Facebook)
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2019 foi o ano em que o Brasil elegeu para o comando do país um candidato que sempre fez questão de se assumir LGBTfóbico. Jair Bolsonaro nunca escondeu seu preconceito e, com o poder nas mãos, coloca em prática muito do que sempre acreditou. Em seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro, o presidente mostrou suas garras e disse que iria enfrentar a “ideologia de gênero” e valorizar a família, heterossexual e cisgênero, claro.

A partir daí, ladeira abaixo. Bolsonaro censurou comerciais que traziam diversidade, cortou investimento público em filmes e séries com temas LGBTs, acabou com canal de divulgação sobre prevenção de HIV/Aids e continuou, sempre que possível, atacando a comunidade LGBTQ+.

Tendo em vista que o presidente foi eleito por uma maioria de votos, o pensamento reflete o que parte da sociedade brasileira ainda pensa sobre a comunidade LGBT. E esse pensamento é mensurado em números. Segundo dados divulgados neste ano pelo Grupo Gay da Bahia, o Brasil registra uma morte por LGBTfobia a cada 23 horas.

Apesar dos retrocessos, alguns nomes estiveram na linha de frente contra o preconceito. Personalidades da música, do esporte, da política, da mídia, do cinema, do direito entre outras áreas utilizaram suas imagens para denunciar o cenário caótico do país.

Foi o ano, também, de criminalizar a LGBTfobia, igualando-a ao crime de racismo. Em decisão do STF de junho deste ano, o crime é inafiançável e imprescritível.

Confira a lista com 15 nomes LGBTs que se destacaram em 2019 na luta pela igualdade:

Pabllo Vittar

Pabllo Vittar é um ícone da música e do movimento LGBTQ+. A drag de 25 anos conquistou um espaço que abriu portas para outras manas se destacarem na música e em outras artes. Sempre levantando a bandeira do movimento para onde vai, Pabllo cantou, neste ano, em paradas ao redor do mundo e sempre aproveitou a situação para denunciar o cenário nada positivo em que se encontra o Brasil.

Momento auge do ano e de sua carreira foi quando a drag, usando um vestido rosa estilo Barbie, se apresentou na sede das Nações Unidas de Nova York. A cerimônia era para comemorar o aniversário da rainha da Inglaterra e contou com o show da brasileira, que aproveitou o momento para falar sobre preconceito e as dificuldades em ser LGBTQ+.

Pabllo é um menino gay que se monta para se apresentar. Sua imagem feminina com um nome masculino tira as pessoas do senso comum e ascende o debate sobre identidades de gênero. Pabllo é indestrutível e por isso é um LGBT que se destacou em 2019.

Jean Wyllys

Jean Wyllys é um dos principais nomes do movimento LGBT do Brasil. Formado em jornalismo, o baiano ganhou visibilidade quando participou e foi vencedor do programa Big Brother Brasil, na TV Globo.

Após sua vitória em 2006, Jean começou sua atuação na política e foi eleito deputado federal pelo PSOL em 2010. Desde então fez uma atuação forte em Brasília e foi o maior desafeto de Jair Bolsonaro e sua família.

Nas eleições de 2018, a mesma que deu a vitória para Bolsonaro, Jean foi eleito para mais um mandato, mas precisou ser interrompido por ameaças de morte com cunho homofóbicas.

No dia 19 de janeiro deste ano, Jean deixou o Brasil para se exilar na Alemanha. Seu mandato foi assumido por David Miranda, que era seu suplente. O ex-deputado está atualmente morando em Nova York, onde ministra aulas sobre fake news em Harvard.

Glenn Greenwald

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Glenn Greenwald é um jornalista americano residente no Brasil. Fundador do site The Intercept, ele foi destaque na imprensa em 2019 após divulgar reportagens que denunciavam diálogos considerados ilegais entre integrantes da operação Lava Jato.

O furo jornalístico do ano abriu brecha para que os condenados pela operação pedissem ao STF a anulação dos processos por falta de imparcialidade do ex-juiz da operação, o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. Um deles é o ex-presidente Lula, que aguarda julgamento na Suprema Corte e pode ser inocentado após os vazamentos feitos por Glenn.

Não demorou muito para que a sexualidade do jornalista fosse atacada na tentativa de desmoralizar o seu trabalho. Glenn é gay e é casado com o deputado federal David Miranda (PSOL). O casal possui dois filhos e mora na cidade do Rio de Janeiro.

Na internet, na imprensa, nas ruas e em outros vários lugares, as críticas ao trabalho do jornalista sempre acabam em assuntos ligados à sua sexualidade e sua família. O colunista da Jovem Pan Augusto Nunes chegou a falar em seu programa que o juizado de menores deveria investigar quem cuidava dos filhos do casal enquanto eles trabalhavam em Brasília, indagação nunca feita antes a um casal hétero que trabalha fora.

Quando encontrou com Nunes, Glenn tirou satisfação com o jornalista que, em resposta, o agrediu ao vivo durante o Programa Pânico. Glenn sempre levantou bandeira e lutou para que LGBTs possam ser quem quiser. Glenn é um exemplo para todos nós.

David Miranda

David Miranda é deputado federal do Rio de Janeiro e é o único parlamentar assumidamente gay da Câmara dos Deputados. O carioca era vereador de sua cidade, mas assumiu a cadeira no parlamento após o ex-deputado Jean Wyllys se exilar na Alemanha por sofrer ameaças de morte.

Desde que assumiu o mandato, David tem sido uma voz necessária dentro do Congresso brasileiro. O parlamentar já apresentou mais de 122 projetos de lei e tem feito uma atuação firme na oposição do governo de Jair Bolsonaro.

Junto de seu marido, Glenn Greenwald, David, que também é jornalista, luta pelo direito de sua família e por todos aqueles que pertencem à comunidade LGBT.

Erica Hilton

Foto: Pedro Maia Veiga/Bancada Ativista

Erica Hilton é codeputada estadual do Estado de São Paulo pelo PSOL. Junto com mais oito colegas, conquistou um mandato coletivo pela Bancada Ativista, o primeiro da história do país. Hilton é uma mulher, negra, trans e tem uma histórico inspirador de militância.

A paulistana tem 27 anos e uma trajetória muito parecida com a da maioria da população trans do Brasil: marginalização, expulsão de casa e prostituição compulsória muito cedo.

Mas isso não impediu que Hilton entrasse na universidade, na militância e agora na política. Estudante de gerontologia na Universidade Federal de São Carlos, a codeputada se divide entre a vida universitária e a atuação na Assembleia Legislativa de São Paulo, sempre defendendo a bandeira do movimento LGBTQ+.

Erica Malunguinho

Foto: Carol Jacob/Alesp

Erica Malunguinho é a primeira deputada trans eleita no Brasil e a primeira trans negra do mundo. Filiada ao PSOL, a parlamentar de São Paulo atua na Assembleia Legislativa do Estado e leva para a política sua luta por igualdade de gênero, de raça e direitos aos LGBTs.

Malunguinho foi vítima de um ataque transfóbico dentro da Alesp neste ano. O deputado Douglas Garcia, do mesmo partido de Bolsonaro, afirmou em sessão na Assembleia que se visse uma mulher trans em um banheiro feminino “tiraria a tapas”. Após a repercussão do caso, o mesmo deputado se assumiu gay, mas continuou se afirmando contra o movimento LGBT.

Erica foi uma presença essencial dentro do parlamento estadual. A deputada é autora de um projeto que transforma o “Transcidadania”, projeto que auxilia pessoas trans na cidade de São Paulo, em um programa estadual. Além disso, tem atuado com força para barrar retrocessos propostos contra a comunidade LGBT, como proibir trans de praticarem esportes e tratamento hormonal em adolescentes.

Linn da Quebrada

Foto: Reprodução

Linn da Quebrada é uma artista plural que se destaca na música, no cinema e na televisão. A paulistana de 29 anos faz de seu corpo sua plataforma política, artística e conquistou lugares nunca antes abertos para a população trans.

Em 2019, Linn lançou o documentário Bixa Travesty, em que é protagonista e participante do roteiro. Fez parte do elenco da série Segunda Chamada, da TV Globo, e anunciou um disco para 2020.

Sua arte traz a resistência que Linn enfrenta por ser uma mulher trans e negra em uma sociedade que mata essas pessoas. Ela traz em suas letras questionamentos sobre um povo que marginaliza e criminaliza pessoa trans, principalmente quando se trata da sexualidade dessa população.

Que em 2020 Linn quebre todas as barreiras e conquiste muito mais espaço.

Fabiano Contarato

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Fabiano Contarato é senador pela Rede e é o único parlamentar do Senado Federal assumidamente gay. Ex-delegado de polícia, Contarato derrotou no Espírito Santo o ex-senador Magno Malta, um político conservador ligado à bancada da bíblia e ao governo de Jair Bolsonaro.

Fabiano é casado e tem dois filhos. Sua família, que vive em Nova Venécia, é motivo de orgulho do político que em diversos momentos saiu em defesa do modelo de família não tradicional. Um desses momentos foi na sabatina do novo Procurador-Geral da República, Augusto Aras. O senador questionou se o jurista não reconhece sua família, uma vez que o procurador assinou uma carta da Associação Nacional de Juristas Evangélicos se comprometendo com a pauta cristã.

O político diz que não levanta bandeira, mas junto com David Miranda representa a comunidade LGBT no Congresso. São presenças necessárias dentro da oposição ao governo de Jair Bolsonaro.

Marta

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O ano foi dela, Marta, a jogadora que se tornou a maior goleadora de todas as Copas do Mundo. A camisa 10 da seleção brasileira já foi escolhida como melhor futebolista do mundo por seis vezes, sendo cinco de forma consecutiva. Um recorde não apenas entre mulheres, mas também entre homens.

No dia que a seleção se despediu da Copa do Mundo da França, Marta deu um depoimento emocionada que ganhou o mundo. “É um momento especial e a gente tem que aproveitar. Digo isso no sentido de valorizar mais. Valorize! A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar.”

Marta é lésbica e namora sua colega de time, Toni Deion Pressley. Ela não levanta bandeira do movimento, mas sua representatividade e atuação contam muito. A jogadora é uma mulher que inspira muitas meninas.

Artur Santoro

Foto: reprodução

Artur Santoro tem 24 anos e uma atuação inspiradora. O paulistano se destacou neste ano estando à frente ao projeto Batekoo, uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e cultura para a juventude urbana, com foco nos públicos negros, periféricos e LGBTs.

Nascido em 2014 em Salvador, o projeto surgiu como forma de uma despretensiosa festa voltada para essas comunidades e a partir da grande rede ao redor do Brasil, entenderam que a entrega estava além disso.

Hoje a Batekoo se tornou um projeto que agencia e produz artistas negros, LGBTs, da periferia e foca em uma ação educacional/pedagógico voltado à difusão de histórias e culturas afro-brasileiras e africanas e à capacitação de nossas comunidades nas mais diversas áreas de arte, música e produção cultural.

Esse ano Artur e outros integrantes do projeto levaram a Batekoo para Nova York, Chile, Espanha, Itália, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Portugal, Alemanha, França e, agora na virada do ano, estarão em Joanesburgo.

Silvero Pereira

Foto:Reprodução

Silvero Pereira é ator e teve um grande destaque no cinema nacional neste ano. O cearense interpretou Lunga, o cangaceiro queer do filme ‘Bacurau’. E não foi só sua encenação espetacular que dominou. O ator desfilou pelo tapete vermelho do Festival de Cannes, onde Bacurau ganhou o prêmio do júri, vestido de Gisele Almodóvar, que diz ser seu alter ego.

Ele também ganhou o prêmio “Homem do Ano” da revista GQ. Ao subir no palco da premiação, Silvero foi vestido de Gisele e deu um discurso inspirador.

“Imagino que muita gente deve se perguntar agora: ‘como alguém pode ganhar um prêmio chamado “Homens do Ano” vestido dessa forma?’ ‘É para aparecer?’ Não, eu não quero likes. Eu vim do sertão do Ceará. Sei o que é passar fome e o que é passar sede. Eu fui violentado socialmente por diversos anos. Mas eu estou aqui e queria dizer que o meu lado feminino empodera o meu lado masculino. É por isso que eu vim assim”, disse.

Daniela Mercury

Foto: Tiago Zenero/PNUD Brasil

Daniela Mercury, uma das grandes cantoras do Brasil, tem feito uma atuação forte na defesa da causa LGBT desde que se assumiu lésbica publicamente. Em seus shows, a baiana faz questão de levantar a bandeira, mas não se limita apenas a isso.

Daniela e sua esposa, Malu Verçosa, estiveram em julho deste ano, mês do Orgulho LGBT, no Congresso Nacional para falar sobre combate ao preconceito. Além disso, a cantora esteve no STF para pressionar pela aprovação da criminalização da LGBTfobia.

Daniela sempre se posicionou contra temas polêmicos, como a censura, a religião e o conservadorismo.

Ludmilla

Foto: reprodução

Em 2019, Ludmilla assumiu o namoro com sua bailarina, Brunna Gonçalves. A cantora, ídolo pop, revelou o amor publicamente, distribuindo afeto por onde passava. Um espécie de grito de liberdade em um ano marcado por uma agenda baseada no preconceito.

Em dezembro, a carioca surpreendeu e realizou um casamento surpresa com sua amada. E ao contrário de muita gente, fez questão de registrar o momento com muitos beijos homoafetivos.

Paulo Iotti

Foto: Reprodução

Paulo Iotti é uma voz necessária dentro do mundo da Justiça. O paulistano tem 37 anos e em toda sua atuação com advogado conseguiu a aprovação do casamento LGBT no Supremo Tribunal Federal e, neste ano, a criminalização da LGBTfobia.

Em seu discurso, Iotti usou a primeira pessoa do plural para exemplificar as violências sofridas pelas pessoas LGBT. Antes do julgamento, ele destacou ainda a importância de gays, lésbicas, travestis e transexuais marcarem representatividade na tribuna

Iotti é membro do GADvS  (Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero), advogado, professor universitário e foi um personagem muito importante para o movimento LGBT deste ano.

Renata Carvalho

Foto: Reprodução

Estamos passando por um momento de censura no Brasil, principalmente dos filmes e séries que retratam o universo LGBTQ+. Entretanto, não podemos esquecer que a primeira pessoa censurada nessa onda conservadora atual foi a atriz transsexual Renata Carvalho.

Renata protagonizou a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, no qual ela interpretava Jesus Cristo voltando à terra. Por ser uma mulher trans, a atriz foi censurada pela justiça diversas vezes e teve seu espetáculo proibido em algumas cidades.

Neste ano, o espetáculo foi apresentado no Teatro Oficina, em São Paulo, em Berlim (Alemanha) e em Glasgow (Escócia).

Apesar dos prêmios recebidos e do reconhecimento da crítica, a dificuldade para encontrar papéis aos poucos se tornou um problema recorrente na vida de Renata, mas nunca impediu a atriz de batalhar por sua arte. Neste ano, Renata protagonizou o espetáculo Manifesto Transpofágico, que conta a história do corpo travesti. Um espetáculo necessário para os tempos atuais.

Renata Carvalho foi responsável pela fundação do Coletivo T – primeiro grupo a ser formado integralmente por artistas trans em São Paulo – e pelo Monart (Movimento Nacional de Artistas Trans), que, em 2017, lançou o “Manifesto Representatividade Trans”.

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