Cultura
Wagner Moura diz que ‘Marighella’ é visto como ameaça e condena atraso
O diretor afirma ainda que, pela primeira vez na vida, se sente ameaçado no Brasil. ‘É de cortar o coração’, diz
‘Marighella’ já gerou discussão, críticas ao governo e à ditadura, já foi elogiado em festivais, mas ainda não tem data de estreia no Brasil. E a demora não parece ser combinada.
Em entrevista concedida ao jornal britânico The Daily Telefgraph, o diretor Wagner Moura apontou que o filme é visto como uma ‘ameaça’ pelos distribuidores, e que a questão tem uma ‘conexão clara’ com a atual situação política do País.
“Eu estava preparado para o filme polarizar as pessoas e para as críticas, mas não estava preparado para nossos distribuidores não terem coragem de lançar o filme”, disse Moura, que está atualmente divulgando o longa no Festival de Cinema de Sydney, na Austrália.
Nas redes sociais, o autor do livro que inspirou o filme, Mário Guimarães, posicionou-se contra o atraso com traços de boicote promovido pela Paris Filmes, responsável pela distribuição no Brasil. Outras pessoas também passaram a criticar a falta de respostas:
(Brado do @BlogdoandreIki)
— Mário Magalhães (@mariomagalhaes_) June 7, 2019
E aí, @ParisFilmes? Cinema é coragem, ou deveria ser. pic.twitter.com/Yj6Go9wgYI
— Rita Lisauskas (@RitaLisauskas) June 8, 2019
https://twitter.com/rcsm777/status/1137339022043439105
“Senti que poderia estar em perigo”
O conteúdo do filme parece não ter impacto apenas nos interesses das Paris Filmes. Wagner Moura, que também é ator, afirmou à reportagem que ‘pela primeira vez na vida’ sentia medo de vir ao Brasil.
“Sempre que vou ao Rio ou a São Paulo, tenho que tomar cuidado. É de partir o coração”, acrescentou. Moura também é famoso por interpretar o papel do Capitão Nascimento nos filmes de Tropa de Elite, além de viver Pablo Escobar para a série Narcos, da Netflix.
Apesar de não ter previsão de estreia no Brasil, Marighella estreou em fevereiro no Festival de Cinema de Berlim – o Berlinale -, com direito a protestos e placa homenageando a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018.
Wagner Moura, a neta de Carlos Marighella, Maria, a atriz Bella Camero e Bruno Gagliasso no tapete vermelho (Foto: Tobias SCHWARZ / AFP)
“Nosso filme não é obviamente somente sobre os que resistiram nas décadas de 1960 e 1970, mas é também sobre os que estão resistindo agora”, disse o diretor na ocasião.
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