Cultura

Vacinação lenta e projeto do governo impõem dificuldades à música

Pandemia e política conservadora para o setor criam desafios até 2022 às artes não alinhadas ao poder vigente

Foto: br.freepik.com
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Há setores que já colocam o ano que vem em dúvida sobre a retomada das atividades. O motivo não é apenas a lenta imunização no País por conta da pandemia do novo coronavírus, mas também devido à acirrada disputa eleitoral que se ensaia em 2022.

No caso específico das artes, as incertezas terão efeitos maiores, devido à imposição mais intensa do projeto do governo a essa área, para atender a turba ideológica no período de eleição.

Uma turma do sertanejo reforçou apoio em encontro com o presidente no final de janeiro. Esse pessoal tem ligação com o projeto de Bolsonaro na cultura, ou pelo menos dialoga em parte com as ideias de costumes conservadores e não manifesta em seus trabalhos questões sociais, políticas e de gênero.

O grupo que eles representam domina audiência nas plataformas streaming de música, nas rádios e na arrecadação de direitos autorais. Mas há necessidade de se montar esquemas de marketing e promoção pesados para permanecer no topo. E precisam ter recursos para isso.

Assim, parte deles está de olho em arrecadar mais em shows, com políticas públicas que beneficie nesse aspecto (como o fim da meia-entrada para estudantes e apoio institucional às festas de peão, palco típico sertanejo), quando a pandemia passar.

Hoje, músicos vivem somente de shows. CDs, como se sabe, virou peça de museu e na internet a fórmula de ganhar dinheiro é ainda incerta. O mesmo ocorre com a classe musical que não dialoga com Bolsonaro e não tem qualquer tipo de ligação com seu projeto na cultura.

Esta última, aliás, caminha para um novo ano difícil, mesmo com possível retorno dos shows presenciais no formato antes existente.

Acontecendo a volta das apresentações musicais em 2022, sem políticas púbicas que o favoreçam com apoios, editais e patrocínios represados, sejam públicos ou privados (esses últimos por questões de recuperação financeira pós-pandemia), a situação deverá permanecer muito complicada – arte precisa de política pública que a estimule; se todos os setores da economia a tem (do industrial ao agronegócio), por que a cultura não pode ter?

Semana de 22

Logo em 2022, no centenário da Semana de 1922, quando as artes tomaram novos rumos no país, com discussões de uma cultura mais voltada à brasilidade e à liberdade. O que poderia ser motivo de sobrepujar, poderá ocorrer o contrário.

O processo que deverá desencadear em mais um ano árduo à música, não tem a ver somente com o período do governo Bolsonaro, mas vem desde a redemocratização do país.

Os grandes movimentos musicais emergidos pós-ditadura, como o rock nacional, o rap, o manguebeat e o neotropicalismo, foram todos muito importantes à música, mas não conseguiram colocar o caráter artístico transformador à frente da lógica mercadológico vigente, que impôs outros movimentos, ao seu bel prazer, de duvidosa qualidade material – cast de gravadoras e a programação musical tanto de rádio como de televisão dos anos 1950 a 1970 são exemplos antagônicos a essa lógica atual, embora no período do regime militar sofressem censura e limitações.

Na verdade, há influência do mercado em governos, na música ele sempre atuou dentro do conceito do neoliberalismo, sem ser incomodado, desde o início da redemocratização do País até hoje.

Nem nos governos Lula e Dilma foram incomodados, embora houvesse preocupação de ambos em valorizar a manifestação da cultura tradicional.

Faltou atenção do poder público de evitar sobreposições continuadas da lógica estritamente comercial em detrimento da cultura que sugere alguma reflexão e crítica. Deu no que deu.

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