Cultura

Tom Zé relança Tribunal do Feicebuqui e diz continuar ‘analfabeto’ nas redes

Músico, que lançou o EP em 2013 como resposta às críticas na internet por narrar comercial da Coca-Cola, vê com bons olhos as lives

Foto: Rogério von Krüger
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Tribunal do Feicebuqui, EP de Tom Zé lançado em 2013, foi agora oficialmente disponibilizado no streaming. O trabalho nasceu como reposta às críticas que o músico recebeu nas redes sociais, depois de participar da narração de um comercial da Coca-Cola exaltando o povo brasileiro com a chegada da Copa do Mundo de 2014. Alguns o censuraram por participar de uma propaganda da multinacional.

A ideia de relançar o EP foi de Marcus Preto, que concebeu e dirigiu. Segundo Tom Zé, Preto “argumentou que as músicas ainda soavam interessantes, apesar do tempo decorrido”.

De fato, elas são atualíssimas. E Tom Zé ainda se sente um desconhecedor da internet: “Até hoje sou um analfabeto nesses meios, dificuldade que é possível observar em quem nasceu bem antes do advento deles”.

No entanto, as redes sociais foram a salvadoras dos músicos na pandemia, com transmissões ao vivo, inclusive do baiano de Irará.

“Achei interessante atuar em lives porque minhas canções precisam também da atuação do corpo para exprimir certos significados. E o formato possibilita isso”, diz.

Questionado sobre como a pandemia tem o atingido, Tom Zé compara a uma entrevista que assistiu de uma pessoa que coordena um site de atendimento a vítimas dos impactos psicológicos da quarentena.

“Não tenho tido problemas agudos a tal ponto, pois venho trabalhando diariamente em composição em casa de manhã à noite”.

Faixas

O EP Tribunal do Feicebuqui foi na época colocado originalmente para download com cinco faixas. Logo depois, foi lançado em compacto de vinil, com duas faixas de cada lado (o máximo permitido para o formato), sendo que a música Irará Iralá foi deixada para ser incluída no álbum Vira Lata na Via Láctea, apresentado por Tom Zé em 2014.

Marcus Preto conta que, além do compacto de vinil só comportar quatro músicas, a opção de deixar Irará Iralá para o álbum seguinte se deve também ao fato da composição “não tratar diretamente do caso Tom Zé/Coca-Cola”.

As quatro faixas hoje disponibilizadas no streaming são: Tribunal do Feicebuqui (Marcelo Segreto, Gustavo Galo, Tatá Aeroplano, Emicida), Zé a Zero (Tom Zé, Marcelo Segreto, Tim Bernardes), Taí (Joubert de Carvalho, Tom Zé, Marcelo Segreto) e Papa Francisco Perdoa Tom Zé (Tim Bernardes).

Na primeira faixa tem-se uma enxurrada de termos que Tom Zé ouviu nas redes sociais por fazer um anúncio de refrigerante. No fim, a letra questiona ironicamente: “Que é que custava morrer de fome só pra fazer música?”

Em Zé a Zero, uma brincadeira com as suas origens: “Fazendo propaganda do Tom Zé / Tem sabor abacaxi / Mais potente que o chá / O xarope é xique-xique / Tudo made in Irará”.

Na terceira faixa, em vez de Coca-Cola, o baiano toma o refrigerante de criação nacional: “Se o rei ianque quiser um dia / Descer do tanque, do pedestal / Tomar a força do guaraná / Tem que vir aqui / Ou mandar buscar”.

Por fim, na última música do EP, o irônico pedido de perdão: “Papa Francisco, vem perdoar / O tipo de pecado que acabaram de inventar / O povo, querida, com pedras na mão voltadas contra o imperialismo pagão / Sou a garotinha ex-tropicalista / Agora militando em um movimento / Já não penso mais em casamento / Mas se tomo Coca-Cola acho que estou me vendendo”.

Saiba Tom Zé que os tribunais das redes sociais pioraram (ou se aperfeiçoaram). Agora não são só críticas. Por trás, existe uma horda que quer crescer com o cancelamento dos outros, numa sanha que mistura egolatria, má fé, falta de noção e busca de visibilidade a qualquer preço nas redes sociais, quando não está a serviço de um gabinete de ódio qualquer.

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