Cultura

Terra da Promissão

Quando me perguntam para quem escrevo, costumo responder que escrevo pra mim. Mas saber que outras pessoas gostam daquilo que gosto, isso é a comunhão

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Tendo visitado oito bibliotecas municipais no estado de São Paulo, era inevitável que elas, as bibliotecas, gerassem muito assunto. Pois é delas que tenho falado ultimamente. As más notícias a respeito do uso de algumas, mas também as boas recordações cuja prenhez carrego desde sempre e tanto bem me fazem.

Pois bem, uma das bibliotecas que em 2011, no mesmo projeto Viagem Literária, me causou muito boa impressão, foi a Biblioteca Municipal “Profa. Sinhá Hoeppner”, de Promissão. As instalações apropriadas, o público presente, o nível das perguntas, tudo que se espera de uma palestra num recinto sagrado, onde habitam os conhecimentos e a arte da humanidade.

Neste ano de 2013, voltei a Promissão. Mais exatamente no dia 27 de novembro, uma quarta-feira. Já na entrada me emocionaram as instalações e os funcionários conhecidos, de quem não me lembrava mais. E me informaram que a dona Cleuza, a responsável pelo Departamento de Cultura do município sofrera, naquela manhã, uma pequena cirurgia, além de haver outro evento cultural na cidade. Por isso não estava presente.

Mais emocionado fiquei ao subir a escada que dá para o mezanino, onde fica a sala para palestras. Logo atrás de mim subiram umas sessenta, oitenta pessoas, entre alunos e professores. Já conseguia lembrar quase tudo de dois anos atrás.

Uma das alunas de uma escola da rede pública sabia tudo a respeito de meus livros. Uma quase criança, uns quinze, dezesseis anos. E sua professora, sabiamente, convidou para a palestra apenas os alunos que se interessavam pelo assunto.

No meio da palestra, eis que apareceu no topo da escada uma senhora cuja fisionomia não me era totalmente estranha. Fiquei contente com a entrada de uma pessoa fazendo muito esforço por entre pernas e corpos de alunos para chegar até a mesa. A sala estava lotada. Me pediu o microfone e começou a me dar as boas vindas. Era a dona Cleuza, quem acabava de chegar.

Mais uma vez emocionado. Dois anos antes, ela nos lembrou, quando estive naquela biblioteca, durante a palestra inteira, como som de fundo, ouvia-se o Bolero, de Ravel, que me deu o título para um romance publicado em 2010. Dose dupla de emoção: ouvir a música que me acompanhou durante o tempo em que estive escrevendo o Bolero de Ravel, e saber que o livro estava sendo procurado pelos leitores. Quando me perguntam para quem escrevo, costumo responder que escrevo pra mim, pois sou meu primeiro leitor. Mas saber que outras pessoas podem gostar daquilo de que gostei, ah, isso é a comunhão, e não tenho tendência nenhuma para o solipsismo. Agora sim, o cenário estava completo e a memória percorreu celeremente dois anos para que me lembrasse de todos os detalhes daquela primeira visita. Promissão veio comigo pra casa.

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