Cultura

Sem ser inocente

Treze cantoras revivem suas intérpretes de inspiração

Camila Pitanga, uma Maysa pungente sem excessos
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Cantoras do Brasil


Direção Simone Elias


Canal Brasil


A partir de 6 de setembro, às 18h45

Começou de brincadeira, durante as filmagens de Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, no Pará. Poucos conheciam sua habilidade em cantar, ainda mais a exigente Dindi, de Tom Jobim. Camila Pitanga, cuja aparição sem sossego nas telas e jornais talvez faça reviver no observador a preguiça tropicalista, surpreendia ao quase falar as linhas da canção. Em sua interpretação afinada, e que se poderá atestar agora no programa Cantoras do Brasil, ela revive Maysa em medida difícil, pungente sem excesso.

No programa dirigido por Simone Elias e idealizado por Mercedes Tristão, Mariana Rolim e Simone Esmanhotto, sempre com o preto e branco contrastado da fotógrafa Joana Luz, os detalhes da feminilidade não estão apenas na voz. A movimentação das cantoras, seus cílios, sequilhos, brincos, riffs, sorrisos, humor e delicadeza funcionam como marcas femininas a reviver algumas lições do Ensaio de Fernando Faro. Entre uma interpretação e outra (serão sempre duas), cada cantora explicará a escolha por uma artista do passado, enquanto não se ouvirá a voz de quem as entrevista.

Serão opções pessoais, emotivas, como aquela de Gaby Amarantos, que faz Clementina de Jesus sorrir (justiça seja feita, a maioria das cantoras, aqui, capricha nesta antiga qualidade). Ou surgirão releituras curiosas, como a de Lurdez da Luz, que, após o convite para o programa, descobriu estar na mesma “parada” que Nara Leão, improvisando a voz do morro num trecho de canção. Sem ser inocente, sob a direção musical de Mauricio Tagliari, o elenco reivindica o domínio sobre o tema, ou sua respeitosa admiração.

Nina Becker, cuja paixão por Dolores Duran fora uma das razões para a existência do programa, acompanha-a há tanto tempo que é como se os bares esfumaçados da bossa nova fossem os seus. Mariana Aydar revê Clara Nunes também como se falasse. Serão 13 mulheres diante de 14 intérpretes do rádio. Lulina, que encara Miriam Batucada, vê-se na urgência de homenagear Ademilde Fonseca, que acabara de falecer, com a desafiadora História Difícil. Tulipa Ruiz alegra Dalva de Oliveira, Roberta Sá entende o samba de Carmem Miranda, Tiê tem a inocente malícia de Cely Campello, Luisa Maita quer a catarse de Elis Regina. Mallu Magalhães está com Elizeth Cardoso, Bluebell é jazzística como Sylvia Telles e Andreia Dias, na pele de Aracy de Almeida, surge apaixonada e sofrida. Um pouco da televisão brasileira quando entrevê a arte.

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Começou de brincadeira, durante as filmagens de Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, no Pará. Poucos conheciam sua habilidade em cantar, ainda mais a exigente Dindi, de Tom Jobim. Camila Pitanga, cuja aparição sem sossego nas telas e jornais talvez faça reviver no observador a preguiça tropicalista, surpreendia ao quase falar as linhas da canção. Em sua interpretação afinada, e que se poderá atestar agora no programa Cantoras do Brasil, ela revive Maysa em medida difícil, pungente sem excesso.

No programa dirigido por Simone Elias e idealizado por Mercedes Tristão, Mariana Rolim e Simone Esmanhotto, sempre com o preto e branco contrastado da fotógrafa Joana Luz, os detalhes da feminilidade não estão apenas na voz. A movimentação das cantoras, seus cílios, sequilhos, brincos, riffs, sorrisos, humor e delicadeza funcionam como marcas femininas a reviver algumas lições do Ensaio de Fernando Faro. Entre uma interpretação e outra (serão sempre duas), cada cantora explicará a escolha por uma artista do passado, enquanto não se ouvirá a voz de quem as entrevista.

Serão opções pessoais, emotivas, como aquela de Gaby Amarantos, que faz Clementina de Jesus sorrir (justiça seja feita, a maioria das cantoras, aqui, capricha nesta antiga qualidade). Ou surgirão releituras curiosas, como a de Lurdez da Luz, que, após o convite para o programa, descobriu estar na mesma “parada” que Nara Leão, improvisando a voz do morro num trecho de canção. Sem ser inocente, sob a direção musical de Mauricio Tagliari, o elenco reivindica o domínio sobre o tema, ou sua respeitosa admiração.

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