Cultura

Se todos fossem iguais a vocês

Tenho, dentro de casa, uma eleitora que considero exemplar

Marilia em Cuba. A política corre nas veias
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Muita gente não acredita, mas é verdade. Todos os dias, minha filha caçula grava os programas políticos na TV pra assistir tarde da noite, quando volta da faculdade. Senta e assiste inteirinho, prestando muita atenção.

Não é de hoje que minha filha caçula tem uma queda pela política. Desde pequenininha, anda pela cidade sempre observando os erros e apontando soluções para a metrópole em que moramos, a maior cidade da América do Sul. Parece uma prefeita em ação.

Ela é daquela que se interessa pelos candidatos. Vai atrás, procura saber quem é cada um, o que já fez, o que está prometendo fazer. Quer saber direitinho se é viável o que promete ou se é apenas um discurso vazio, papo furado eleitoreiro.

Acho que minha filha caçula é uma das poucas eleitoras que já leu o Plano Diretor para São Paulo. Por isso defende a unhas e dentes o atual prefeito, Fernando Haddad, o das bicicletas.

Ela se inflama quando começa uma polêmica como essa das ciclovias em São Paulo. Fica uma fera com a falta d’água na cidade, com os problemas na USP e com a truculência da polícia. Ela lê e relê o programa de governo dos candidatos para decidir em quem votar. Já viu uma coisa dessas?

Assistindo ao horário politico na TV, ela é capaz de parar e frisar a imagem de um candidato, para observar os detalhes. Por exemplo, chamou a atenção dela o desleixo de um candidato a deputado estadual, que tem o apelido de Bin Laden, e que escreveu o seu número com uma caneta Bic numa tosca página de caderno.

– Poxa, se não tem grana, pede alguém pra imprimir o número numa folha A4!

Não vou dizer aqui em quem ela vai votar porque o voto é secreto. Mas dá pra desconfiar. Principalmente quando ela vira quase que uma palestrante defendendo o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e o Bolsa Família. Ela fica orgulhosa quando nossa empregada conta que comprou, pelo quarto ano consecutivo, uma passagem de avião pra ver os pais em Pernambuco, quando ela sair de férias.

Minha filha caçula é um barato. Ela se interessa não apenas pelas eleições presidenciais. Quer saber quem é o melhor candidato para o governo estadual, para o Senado e também quem são os melhores candidatos a deputado federal e estadual.

Outro dia ela me contou que, para deputado federal, estava em dúvida entre a Luiza Erundina e o Ivan Valente. PSB ou PSOL? Acho que ela já fez a opção mas, de novo, não vou revelar aqui quem escolheu.

Minha filha caçula é mesmo uma garota valente. Ela adora analisar as pesquisas do Ibope, do Datafolha, do Vox Populi, todas elas. Faz cálculos, projeções, argumenta, se entusiasma, fica tensa, preocupada às vezes. Dá gosto ver.

Ela já colou um adesivo da candidata dela no vidro traseiro do carro e aprovou uma enorme bandeira que dependurei na varanda do nosso apartamento. Quando  viu, comentou:

– Boa, pai!

Quando ela completou dezesseis anos, a primeira coisa que fez foi correr pra tirar o seu Título de Eleitor. Sabe o quanto sofri durante mais de duas décadas sem poder votar. Toda eleição lá está ela, firme e forte, bem cedo no Colégio Oswald de Andrade, título na mão, pronta pra apertar o número e, em seguida, o confirma. Com vontade, com argumentos, fazendo jus a democracia em que vivemos.

Aqui em casa todos nós já escolhemos em quem votar agora em outubro, mas confesso, sinceramente, que se a Marilia Villas fosse candidata, eu mudaria o meu voto. Votaria nela, sem pensar duas vezes.

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