Cultura

Paisagem e verdade

As crianças deportadas e os retratos íntimos na nova Zum

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ZUM #3


Instituto Moreira Salles, 180 págs., R$ 45

Que ideia movimenta os ensaios trimestrais da revista de fotografia Zum? Não parece que seu intuito seja apenas contemporâneo.

A publicação revisita o passado de modo a explicar a presença ostensiva dessa arte no mundo de hoje. Para a Zum, a fotografia, mais que  conceitual, é uma arte urgente, histórica, a expressar a dor de cada um em sociedade. Francesca Woodman é uma das atrações neste terceiro número em que esse horizonte pessoal, mas também social, se impõe.

Até 1981, quando se suicidou, aos 22 anos, a americana fotografou em preto e branco paisagens fechadas. Nelas, a artista surgia imersa na arquitetura ou a desafiava. Contra o ideal de Jane Fonda, que naqueles anos reclamava a pele tonificada, Francesca adotava a psicologia explosiva. E havia quem, morto em 1992, aos 49 anos, como o italiano Luigi Ghirri, insistisse em um ponto de vista novo, sereno ao ponto da gelidez, sobre a história de seu país. Sua Itália não é quente. Os objetos da herança cultural do artista se ordenam estranhamente, despidos de caos.

Em palestra inédita, o fotógrafo August Sander diz o que não parecia óbvio em 1931: “Os olhos nos apresentam uma imagem exterior das coisas ao redor. O entendimento processa as coisas vistas, transformando–as em representações e construindo um mundo interior que  interpretamos das mais diversas formas”. Sander reivindicava a verdade da fotografia, mas também a de seu observador. Em outro texto, Stephen Shore lembra que há um  conhecimento visual anterior à foto. E que a imagem deve ter uma estrutura, ou constituirá “frase sem gramática”.

 

 

Qual seria então a estrutura, se tivesse havido, a orientar aquele  anônimo fotógrafo do DOI-Codi do Rio de Janeiro que, em junho de 1970, registrou crianças a  partir de 2 anos, fichadas como terroristas e deportadas? No lançamento dia 21, no Rio, será  exibido o filme no qual se baseou esta pesquisa, Brasil: um relato de tortura, como a  emonstrar que mesmo a pior foto não escapará de representar uma verdade, seja ela a mais terrível.

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Que ideia movimenta os ensaios trimestrais da revista de fotografia Zum? Não parece que seu intuito seja apenas contemporâneo.

A publicação revisita o passado de modo a explicar a presença ostensiva dessa arte no mundo de hoje. Para a Zum, a fotografia, mais que  conceitual, é uma arte urgente, histórica, a expressar a dor de cada um em sociedade. Francesca Woodman é uma das atrações neste terceiro número em que esse horizonte pessoal, mas também social, se impõe.

Até 1981, quando se suicidou, aos 22 anos, a americana fotografou em preto e branco paisagens fechadas. Nelas, a artista surgia imersa na arquitetura ou a desafiava. Contra o ideal de Jane Fonda, que naqueles anos reclamava a pele tonificada, Francesca adotava a psicologia explosiva. E havia quem, morto em 1992, aos 49 anos, como o italiano Luigi Ghirri, insistisse em um ponto de vista novo, sereno ao ponto da gelidez, sobre a história de seu país. Sua Itália não é quente. Os objetos da herança cultural do artista se ordenam estranhamente, despidos de caos.

Em palestra inédita, o fotógrafo August Sander diz o que não parecia óbvio em 1931: “Os olhos nos apresentam uma imagem exterior das coisas ao redor. O entendimento processa as coisas vistas, transformando–as em representações e construindo um mundo interior que  interpretamos das mais diversas formas”. Sander reivindicava a verdade da fotografia, mas também a de seu observador. Em outro texto, Stephen Shore lembra que há um  conhecimento visual anterior à foto. E que a imagem deve ter uma estrutura, ou constituirá “frase sem gramática”.

 

 

Qual seria então a estrutura, se tivesse havido, a orientar aquele  anônimo fotógrafo do DOI-Codi do Rio de Janeiro que, em junho de 1970, registrou crianças a  partir de 2 anos, fichadas como terroristas e deportadas? No lançamento dia 21, no Rio, será  exibido o filme no qual se baseou esta pesquisa, Brasil: um relato de tortura, como a  emonstrar que mesmo a pior foto não escapará de representar uma verdade, seja ela a mais terrível.

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