Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Odair José vê momento pior do que na ditadura: ‘Hipocrisia aumentou’

O cantor e compositor fala da carreira desde o período militar e enxerga a população brasileira manipulada

Foto: Rama de Oliveira/Divulgação.
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Odair José diz não se surpreender com o momento político conturbado. “Já havia algum tempo que observava que a coisa vinha desandando. Estava se preparando uma coisa que não seria legal, não foi legal, e não está sendo bom para as pessoas e para o País”, afirma.

No seu penúltimo álbum, Gatos e Ratos (2016), o cantor e compositor já expunha a preocupação com a situação e o ascendente conservadorismo. No último trabalho, Hibernar Na Casa Das Moças Ouvindo Rádio (2019), o tom político prosseguiu, mas os shows em torno do disco tiveram que ser cancelados por conta da pandemia.

O goiano começou a botar o pé na estrada para cantar no começo da ditadura, em 1964. Três anos depois chegou ao Rio de Janeiro. O primeiro LP saiu em 1969 de forma independente. Daí em diante foram dezenas de discos lançados e milhões vendidos.

“Daquele tempo para hoje não tem como comparar. Mudou muito. As pessoas se comunicavam de forma diferente”, conta. Ele fez uma música lançada em 1972 sobre telegrama (Mande Nem que Seja um Telegrama) que as pessoas nem sabem o que é isso hoje.

“Pegamos um clima pesado, inclusive no meu trabalho, porque tínhamos um governo militar, tínhamos a censura do Estado”, diz. “Mas essa hipocrisia da sociedade e da falsa moral sempre existiu”.

Naquela época, nas suas letras em forma de crônica, Odair já tratava de temas espinhosos, como prostituição, pílula anticoncepcional, opção sexual. “Tudo isso foi para o meu trabalho. Tempos eram difíceis, tinha censura”, relata. “Mas hoje em dia, para mim, a coisa está pior. Está pior porque a hipocrisia da sociedade aumentou. E vejo a população brasileira muito manipulada”.

Para ele, a internet ajuda muito nisso, apesar de considerá-la hoje uma ferramenta positiva e fundamental. Odair José é de uma época que para alcançar mais e mais ouvintes era preciso viajar para chegar aos rincões. Mas era muito complicado percorrer o Brasil, principalmente rumo ao Norte, onde levava o dia inteiro dentro de um avião para ir a um destino e para descer no aeroporto local à noite. Tambores de óleo em chamas iluminavam a pista, lembra o cantor.

Ano que vem, Odair José espera que a sociedade se desperte. “A força está com a população brasileira. Tem que entender na sabedoria que o que está aí não é bom”, diz.

Assista à íntegra a entrevista:

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