Cultura

O Sorriso Negro de Dona Ivone Lara

Álbum da cantora e compositora, lançado há quatro décadas, celebra a negritude, o samba, o carnaval e o amor

Foto: arquivo pessoal
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Sorriso Negro é uma exaltação à negritude. Composto por Adilson Barbado e Jorge Portela, o samba é indissociável de Dona Ivone Lara. A música foi gravada antologicamente por ela, com participação de Jorge Ben Jor, no álbum que leva o nome da composição.

Terceiro trabalho solo de Dona Ivone Lara, ele foi lançado em 1981 – o seu primeiro foi realizado tardiamente, aos 56 anos, em 1978, já aposentada como enfermeira e assistente social. O disco Sorriso Negro não é atribuído como o melhor da cantora (os dois primeiros parecem extrair melhor sua ascendência partideira), mas é emblemático.

O álbum, produzido por Sérgio Cabral com arranjos de Rosinha de Valença, tem participação de Maria Bethânia na primeira faixa: Sereia Guiomar, dela com Délcio Carvalho, seu mais importante parceiro, que trouxe densas letras à melodia refinada de Dona Ivone, embora não lesse partitura.

O álbum segue com duas composições só dela: De Braços com a Felicidade e Alguém Me Avisou (“Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há…”). Está última, a obra-prima síntese da música brasileira, que já havia sido gravada no ano anterior por um trio fenomenal: Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Em seguida surgem Unhas (com Hermínio Bello de Carvalho), Me Deixa Falar (com Délcio) e Nunca Mais (só dela) – as três mostram a beleza da melodia de Dona Ivone Lara.

E aí vem a faixa-título: “Um sorriso negro, um abraço negro /Traz felicidade / Negro sem emprego, fica sem sossego / Negro é a raiz da liberdade…” A gravação vai às origens do samba, num duo memorável de Dona Ivone com Jorge Ben.

Na faixa 8 (ou segunda do lado B, já que naquela época tratava-se ainda de registro em disco de vinil), Adeus de um Poeta (Tião Pelado), uma homenagem a Silas de Oliveira, um dos maiores compositores de samba-enredo de todos os tempos.

A música seguinte é justamente o samba-enredo que fez com Silas (assinado também por Bacalhau) em 1965 para sua escola, o Império Serrano. Com o título de Os Cinco Bailes da História do Rio, Dona Ivone entrou na música após completar a melodia. Foi a primeira mulher oficialmente a compor um samba-enredo por conta disso.

Três músicas e estilos diferentes encerram o trabalho autoral: Meu Fim de Carnaval Não Foi Ruim (só dela), Tendência (com Jorge Aragão) e a música de terreiro Axé de Ianga – Pai Maior (só dela).

Destaque entre essas, a composição Tendência (“Não, pra que lamentar / O que aconteceu, era de esperar…”), de execução obrigatória até hoje em rodas de samba.

Dona Ivone Lara, falecida em 2018 aos 97 anos, é o nosso orgulho de sorriso negro, que em 2022 completa o centenário de nascimento.

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