Cultura
O russo tranquilo
‘Na Neblina’, de Sergei Loznitsa, pode ser conferido na 36ª Mostra em sessão sábado 27, às 20h40, no Espaço Itaú da Frei Caneca, e em quatro reprises durante o evento, que homenageia o diretor
O feitio tranquilo e o rosto sorridente, que assim permanece até o fim do encontro, surpreendem durante a entrevista no Festival de Cannes deste ano. Sergei Loznitsa está longe de incorporar o ar sombrio de seus filmes, partidários de uma crítica ferrenha da atual Rússia. “Um realizador deve permanecer lúcido e distante o suficiente para melhor enxergar à sua volta”, diz em conversa com CartaCapital e mais dois jornalistas. “Meu país está se esfacelando, mas eu me mantenho íntegro. E, como você sugere, não vou perder o humor quando tudo já está difícil demais.”
Bielorrusso criado na Ucrânia, Loznitsa mostrou a que veio primeiro no documentário e, somente há pouco, na ficção com Minha Felicidade (2010). Seu novo filme, Na Neblina, mereceu o Prêmio da Crítica como um dos mais contundentes da seleção francesa e pode ser conferido na 36ª Mostra em sessão sábado 27, às 20h40, no Espaço Itaú da Frei Caneca, e em quatro reprises durante o evento, que homenageia o diretor com retrospectiva de 13 títulos.
Se em Minha Felicidade o foco é atual, com personagens vagando entre a decadência moral e vícios como a corrupção e a violência banal, neste seguinte a trama volta à Bielorrússia do período soviético e ocupada pelos nazistas para contornar os mesmos dramas. Um enforcamento coletivo no início poupa apenas um dos integrantes da resistência, sem explicações. O sobrevivente, um ferroviário, é levado de sua casa pelos partisans para ser morto na floresta como colaborador dos alemães.
O filme será esse percurso vagaroso e funesto do protagonista, enquanto se elucidam seus atos e razões, simbolizado pelo cadáver de um colega que carrega todo o tempo nos ombros. O peso da Rússia? “Pode ser inevitável pensar isso. Na verdade, carregar o corpo foi a maneira que encontrei para realizar o plano-sequência com aquele homem misterioso que não quer abandonar o amigo morto”, diz o diretor. Ele reconhece a afinidade com dramas como Vá e Veja, uma referência do compatriota Elem Klimov. A precisão dos planos e a economia de diálogos parecem refletir o matemático que um dia Loznitsa foi, antes de realizar investigações surpreendentes, como A Colônia (2001), sobre instituições de doentes mentais, e Cinejornal (2008), mergulho na era comunista por material de arquivo. “Nós, russos, somos assim, falamos o necessário e refletimos muito, o que talvez leve a incompreensões, a exemplo do que acontece ao personagem em meio a uma situação de mal-entendidos como é a guerra.”
O feitio tranquilo e o rosto sorridente, que assim permanece até o fim do encontro, surpreendem durante a entrevista no Festival de Cannes deste ano. Sergei Loznitsa está longe de incorporar o ar sombrio de seus filmes, partidários de uma crítica ferrenha da atual Rússia. “Um realizador deve permanecer lúcido e distante o suficiente para melhor enxergar à sua volta”, diz em conversa com CartaCapital e mais dois jornalistas. “Meu país está se esfacelando, mas eu me mantenho íntegro. E, como você sugere, não vou perder o humor quando tudo já está difícil demais.”
Bielorrusso criado na Ucrânia, Loznitsa mostrou a que veio primeiro no documentário e, somente há pouco, na ficção com Minha Felicidade (2010). Seu novo filme, Na Neblina, mereceu o Prêmio da Crítica como um dos mais contundentes da seleção francesa e pode ser conferido na 36ª Mostra em sessão sábado 27, às 20h40, no Espaço Itaú da Frei Caneca, e em quatro reprises durante o evento, que homenageia o diretor com retrospectiva de 13 títulos.
Se em Minha Felicidade o foco é atual, com personagens vagando entre a decadência moral e vícios como a corrupção e a violência banal, neste seguinte a trama volta à Bielorrússia do período soviético e ocupada pelos nazistas para contornar os mesmos dramas. Um enforcamento coletivo no início poupa apenas um dos integrantes da resistência, sem explicações. O sobrevivente, um ferroviário, é levado de sua casa pelos partisans para ser morto na floresta como colaborador dos alemães.
O filme será esse percurso vagaroso e funesto do protagonista, enquanto se elucidam seus atos e razões, simbolizado pelo cadáver de um colega que carrega todo o tempo nos ombros. O peso da Rússia? “Pode ser inevitável pensar isso. Na verdade, carregar o corpo foi a maneira que encontrei para realizar o plano-sequência com aquele homem misterioso que não quer abandonar o amigo morto”, diz o diretor. Ele reconhece a afinidade com dramas como Vá e Veja, uma referência do compatriota Elem Klimov. A precisão dos planos e a economia de diálogos parecem refletir o matemático que um dia Loznitsa foi, antes de realizar investigações surpreendentes, como A Colônia (2001), sobre instituições de doentes mentais, e Cinejornal (2008), mergulho na era comunista por material de arquivo. “Nós, russos, somos assim, falamos o necessário e refletimos muito, o que talvez leve a incompreensões, a exemplo do que acontece ao personagem em meio a uma situação de mal-entendidos como é a guerra.”
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