Cultura
O encontro entre duas linguagens
O suspense ‘Uma Família Feliz’ foi dirigido por José Eduardo Belmonte e escrito por Raphael Montes


Embora seja dirigido por José Eduardo Belmonte, Uma Família Feliz, em cartaz desde a quinta-feira 4, carrega muito do espírito narrativo de seu roteirista, Raphael Montes, autor de suspenses que caíram no gosto do público.
O encontro entre Belmonte, diretor de 15 longas-metragens e de séries como Carcereiros, e Montes, autor de oito livros e roteirista de séries como Bom dia, Verônica, é um enlace entre duas formas de linguagem.
O que atraiu o cineasta no projeto foi, especialmente, a possibilidade de experimentar uma estrutura narrativa diferente daquela que marca sua carreira – um cinema mais das sensações do que da trama. Ele usa a expressão storytelling para definir o que, na história, o fisgou.
Montes, naquele momento, não era o autor best seller que é hoje e o processo desenvolvido com Belmonte acabou fazendo com que trabalhasse não apenas como roteirista, mas como diretor-assistente
Em 2015, na fase de desenvolvimento do projeto, vivia-se o início da era mais intensa dos julgamentos sumários feitos pelo tribunal da internet. “Com o passar do tempo, fomos entendendo que o filme não era só sobre isso. Ele era também sobre depressão pós-parto e, sobretudo, sobre o mundo das aparências”, diz o cineasta.
Uma Família Feliz. Raphael Montes. Companhia das Letras (352 págs., 59,90 reais) – Compre na Amazon
Os dois protagonistas, interpretados por Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, são lindos, apaixonados, vivem em uma casa de classe média em um condomínio de luxo e têm duas filhas lindinhas. Mas algo começa a dar muito errado naquele ambiente asséptico quando nasce um novo bebê.
“Para mim, o mais difícil foi manter a tensão da história”, afirma o realizador, creditando ao trabalho de som de Miriam Biderman e Ricardo Reis parte do resultado alcançado.
Vindo de dois lançamentos pós-pandêmicos, As Verdades e O Pastor e o Guerrilheiro, Belmonte diz se sentir como se vivesse uma nova retomada do cinema brasileiro, com o público enfim voltando a comprar ingressos para ver filmes nacionais.
Uma Família Feliz ocupará, na estreia, cerca de 150 salas. E, poucas semanas atrás, a Companhia das Letras lançou o livro homônimo, que foi escrito depois do filme e, segundo Montes, possui ingredientes que estão ausentes da tela. •
Publicado na edição n° 1305 de CartaCapital, em 10 de abril de 2024.‘
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

‘Oppenheimer’ finalmente estreia nos cinemas do Japão
Por AFP
Prefeito de Rio do Sul, em Santa Catarina, veta mostra de cinema LGBT: ‘Princípios cristãos’
Por Ana Luiza Basilio
Lula sanciona cota para produções brasileiras nos cinemas e na TV paga
Por Victor Ohana
Região Norte tem menor acesso a cinemas, teatro e museus, mostra pesquisa do IBGE
Por Camila da Silva