Cultura

O choro que vem da Zona Leste de SP é alegre, virtuoso e representativo

Quarteto Pizindim lança seu segundo álbum do gênero instrumental; integrante fala do que é ser músico na periferia

Claudinho Martins, Emerson Bernardes, Rafael Esteves e Rodrigo Carneiro. Foto: Mirrah Iañez/Divulgação
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Claudinho Martins (percussão), Emerson Bernardes (cavaquinho), Rafael Esteves (bandolim) e Rodrigo Carneiro (violão sete cordas) são crias da Zona Leste de São Paulo. Eles formam o Quarteto Pizindim de choro, que lança agora seu segundo álbum.

De nome Memorando, o trabalho estava gravado desde a época de criação do grupo, mas surge neste momento finalizado em meio à pandemia, apresentando um som virtuoso, animado e representativo.

“Esse disco é a fase inicial do Quarteto, pois, apesar de termos lançado agora, o trabalho foi gravado em 2014, ano em que o grupo iniciou suas atividades. Na época, nós acabamos deixando o material na gaveta, já que não conseguimos dar continuidade nas finalizações”, conta Emerson Bernardes.

O Som que Vem do Leste (2016) foi o primeiro trabalho do grupo e retrata a origem de seus integrantes. “Mostra também como o choro pode fazer parte da vida de músicos que vêm da periferia, coisa que não é muito comum nos grupos de choro na atualidade”, diz o cavaquinhista.

Segundo Bernardes, apesar de existir um movimento preocupado com a inclusão social, a cena do choro ainda é elitista. “Esse trabalho [o primeiro disco] é autoafirmativo na sua essência, pois dizer no título que o som do Quarteto vem da Zona Leste é se mostrar como algo sublime e diferente do acontece no centro da cidade”.

A pandemia fez com que se desengavetasse o projeto Memorando. “Os dois trabalhos têm músicas autorais dos integrantes do Quarteto e de outros compositores. A diferença é que no O Som que Vem do Leste os compositores que gravamos são contemporâneos e no Memorando da era clássica do choro”, explica.

As sete faixas de Memorando são: Feijoada da Bia (Rafael Esteves), Água de Vintém (Chiquinha Gonzaga), 7 pra 7 (Rodrigo Carneiro), Choro pra Kamila (Luizinho 7 Cordas), Kariri com K (Rafael Esteves), Lídia (Anacleto de Medeiros) e Flor de Abacate.

O álbum novo do Quarteto Pizindim tem ainda participação de Koka Pereira (pandeiro; ele já integrou o grupo), Makiko Yoneda (piano), Samuel Marques (trombone), Eber Cardozo (sax) e Tico Macambira (pandeiro).

Dificuldades

O grupo já ganhou reconhecimento em festival e rodou por alguns palcos tradicionais do choro. “Muitos músicos que são da periferia e que querem tocar choro sempre têm dificuldades em se estabelecer. Os problemas são vários, desde a oportunidade de ter acesso à informação – tanto na questão musical como no currículo escolar – até na dificuldade de deslocamento da periferia para o centro da cidade (onde acontecem os shows)”, relata Bernardes. “Bem diferente do pessoal mais abastado que tem as contas em casa já todas pagas e podem focar mais na gestão da carreira e no estudo de música”.

Emerson Bernardes, 36 anos, mineiro criado no bairro de São Mateus, na Zona Leste da capital paulista, começou os estudos com o mestre Luizinho 7 Cordas. Passou pela Universidade Livre de Música até se tornar professor de cavaquinho. Acompanhou nomes como Dona Ivone Lara, Fabiana Cozza, Ney Lopes, Xangô da Mangueira, Diogo Nogueira, Monarco, entre outros. Já participou de turnês na Espanha, Rússia e Argentina.

Claudinho Martins, 46 anos, toca desde os nove e formou quarteto de choro só com os irmãos e chegou a lançar um disco. Apresentou-se com muitos instrumentistas e com músicos do samba e da MPB e já embarcou para Paris com a Companhia Brasileira de Dança Contemporânea. Dedicou-se a ensinar percussão em projetos desenvolvidos em comunidades da Zona Norte de São Paulo, embora more no extremo da Zona Leste.

Rafael Esteves, 37 anos, morador da Zona Leste, tem uma longa trajetória de estudante de música, professor e presença em palcos e estúdios com renomados artistas. O bandolinista, em 2020, lançou “Familiaridad”, seu primeiro CD solo, com valsas executadas com bandolim. Também acumula viagem a Europa como músico.

Rodrigo Carneiro, 35 anos, também morador da Zona Leste, é músico, professor de música, produtor musical, violonista, compositor e arranjador. O músico é uma das referências entre os chorões de São Paulo e requisitado para acompanhar a nata da música brasileira.

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