Nuvens carregadas

A falsidade parece ser o grande legado de Bolsonaro no poder. Sua obsessão agora é deturpar completamente o conceito da palavra liberdade

Foto: Sergio Lima / AFP

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Nas últimas semanas, o Brasil passou por um nevoeiro ainda mais denso do que o seu estado considerado “normal” de nuvens carregadas vivido nos últimos três anos, após a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Encontros estranhos entre ministros e pastores, nova ameaça de golpe vinda do Palácio do Planalto, agora com apoio mais explícito de parte do alto escalão das Forças Armadas, e o absurdo perdão do presidente da República ao criminoso Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal ao incitar a violência e pregar ataques constantes à democracia.

Disse o filho Zero Três de Jair Bolsonaro, que aqui não citarei o nome, que Silveira é um soldado que não deveria ser abandonado. Ora, o ex-integrante da Polícia Militar fluminense deve ser mesmo importante para a família do presidente. “Soldados” como Sara Winter, Gustavo Bebiano, os generais Santos Cruz e Rego Barros, os irmãos Weintraub e o miliciano Adriano da Nóbrega foram abandonados nesta guerra que os Bolsonaro travam contra a democracia e as instituições.

O próximo alvo do Planalto será, sem dúvida, o sistema eleitoral brasileiro. Vem aí uma eleição dificílima para um País fragilizado pela sua economia em frangalhos e por uma pandemia que matou mais de 660 mil cidadãos, bem como por um governo que promoveu a destruição de todos os pilares de civilidade e de mecanismos que pudessem garantir elementos básicos como a comida na mesa e o emprego para pais e mães de família. O poder de compra do salário dos brasileiros e brasileiras é o pior já visto desde o início do Plano Real, há 28 anos. A carestia é algo que as gerações mais antigas tinham lembranças remotas e as atuais só conheciam nos livros de história.

Aliás, o negacionismo e a crueldade deste governo e dos seus seguidores são tão grandes que eles buscam, a todo momento, fazer um revisionismo dos fatos, repetindo mentiras de forma exaustiva para consolidar uma falsa verdade.

A falsidade parece ser o grande legado de Bolsonaro no poder. Sua obsessão agora é deturpar completamente o conceito da palavra liberdade. Em toda democracia, o limite de qualquer autoridade é a lei, mas o atual presidente da República e seus asseclas acreditam que liberdade é poder cometer crimes sem que haja qualquer punição. Isso vai desde gestos àqueles que integram grupos de extermínio e massacram negros e pobres nas favelas do Brasil até o conhecido indulto ao comparsa Daniel Silveira.

Na cabeça dessa gente torpe, liberdade é poder vociferar e popularizar discursos racistas, misóginos e de massacre aos pobres.


A única chance de encerrarmos esse ciclo de negatividade no Brasil é eleger Luiz Inácio Lula da Silva no próximo mês de outubro. Precisamos voltar a ter esperança em dias melhores, em acreditar na educação, na cultura, em um país onde todos tenham oportunidades. Vivemos isso até bem pouco tempo, com o filho do porteiro se tornando doutor, com a empregada doméstica comprando sua casa própria e com a classe média viajando ao exterior.

A chamada terceira via, que estão propondo por aí, nada mais é do que um bolsonarismo gourmetizado, uma vez que são os mesmos que priorizam o rentismo em vez de investimentos estruturantes. São os mesmos que votam e praticam a precarização das relações de trabalho, com o fim de diversos direitos e da aposentadoria, e são, ainda, os inimigos do serviço público, que sucateiam estatais a fim de privatizá-las e prejudicar ainda mais aqueles que ganham pouco ou nem sequer ganham algo.

Lula é a esperança do povo brasileiro e um Congresso Nacional mais focado no povo e não em interesses particulares representa a possibilidade de dias melhores, com mais comida na mesa, trabalho e dinheiro no bolso. Que os caminhos do Brasil estejam abertos para que possamos dar fim a esta névoa que paira sobre o nosso país. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1210 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE JUNHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Nuvens carregadas”

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