Cultura

Ninguém nos segura

Incautos se iludem com restaurantes requintados onde a arquitetura e os talheres descolados buscam disfarçar pratos ordinários

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O Brasil está em festa. O restaurante D.O.M., de Alex Atala, é o quarto melhor do mundo. E vamos para outros assuntos.

Outro dia estava no bar do clube, comendo um pão de queijo, tomando um café e jogando game no celular, quando meus ouvidos captaram uma excelente frase da mesa ao lado: “O malfeito tem de ser benfeito”. Falavam sobre Cachoeira e companhia. Falavam sobre todos os Cachoeiras.

Um detalhe: ainda me surpreendo com o número de admiradores dos competentes ladrões: “Esse, sim, sabia meter a mão! Tinha classe. Nunca pegaram o filho da mãe. Gente de berço. O pai já era. Dizem que o avô também. Toda uma geração. Ninguém sequer foi indiciado.” Fiquei só com a frase e me lembrei de vários restaurantes que perceberam isso.

E como se espalharam! E como conquistam incautos apreciadores! Fazem benfeito o malfeito. Não fazem a menor ideia de como fazer um bom arroz com feijão, um bom frango assado, mas sabem, repito, como fazer o malfeito benfeito. Uma boa localização. Um projeto arquitetônico requintado. Talheres e louças descolados e aquele feijão com arroz ordinário ganha status de iguaria rara.

Outra cena comum na cidade: o frequentador de churrascaria fina em fim de semana. Ele tem um carro enorme. No mínimo um Santa Fé. Eu até diria que o dono de um Santa Fé em algumas churrascarias se sente inferiorizado, mas, se a carruagem verde-amarela continuar nesse passo de lebre, em breve ele há de chegar de cabeça erguida em sua Porsche ou BMW.

Ele chega com a família. Costuma ter o cabelo comprido, a barba por fazer e é meio bombadão. E quando não é bombado já está ligeiramente acima das medidas  adequadas para aquela camiseta que decidiu usar. Em ambos os casos elas são muito justas e têm um cavalo que ocupa 80% da área. O filho, que gracinha, usa uma igual. O tamanho do cavalo chega a ser maior que a criança. Não se comporta bem e jamais é repreendido. A mãe sempre me passa a sensação de estar distraída ou aborrecida, ainda que seus cabelos muito lisos tenham recebido todos os cuidados que mereciam durante a semana inteira. Um jeans bem justo e um salto bem alto acompanham os cabelos e a bolsa Prada ou LV. Tem disso na sua cidade?

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Fiquei feliz ao ler que o alsaciano Trimbach Riesling Cuvée Frederic Emile 2004, foi eleito o melhor branco do Velho Mundo na ExpoVinis Brasil. Não sei dizer se é essa a safra que provei, mas esse branco é um dos grandes que passaram por minha boca. Esse produtor, diga-se, é um tremendo craque e eu recomendo muito que você o descubra. A importadora  é a Zihil.

————

E o nosso amigo Júnior começa a dar o ar de sua graça em um singelo produto: o requeijão cremoso de copo. Ainda com moderação, tem variado apenas o tipo de queijo. Eu arrisquei e comprei um com sabor queijo de minas curado. Sempre me divirto e me impressiono com a capacidade dessa indústria, a de sabores. O tal queijo mineiro curado, se me fosse oferecido às cegas não teria meu acerto no palpite. Lembra queijo, lembra fumaça. Não vejo longe o dia que encontraremos requeijão nos sabores presunto, salame e picanha.

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Outra recomendação sincera é acessar o site do fabricante de biscoitos de polvilho Daltony: www.daltony.com.br. Daltony, além de empresário, é compositor, ator, inventor, pai de família e, na abertura de seu site, garante: “Ninguém é tão bonita ou tão jovem quanto a minha mulher”. Ele também nos conta que, em 1984, começou sua carreira de empresário em São Paulo, “criando a maior onda de pão de queijo jamais vista em lugar algum do mundo”. Será? Essa é uma informação que vou ter de verificar, porque já ouvi falar de grandes movimentos envolvendo pão de queijo em outros países. Ainda assim, vale a pena acessar e comprar os biscoitos. Com certeza é o único polvilho no mundo que dedica um espaço à cultura em seu rótulo.

O Brasil está em festa. O restaurante D.O.M., de Alex Atala, é o quarto melhor do mundo. E vamos para outros assuntos.

Outro dia estava no bar do clube, comendo um pão de queijo, tomando um café e jogando game no celular, quando meus ouvidos captaram uma excelente frase da mesa ao lado: “O malfeito tem de ser benfeito”. Falavam sobre Cachoeira e companhia. Falavam sobre todos os Cachoeiras.

Um detalhe: ainda me surpreendo com o número de admiradores dos competentes ladrões: “Esse, sim, sabia meter a mão! Tinha classe. Nunca pegaram o filho da mãe. Gente de berço. O pai já era. Dizem que o avô também. Toda uma geração. Ninguém sequer foi indiciado.” Fiquei só com a frase e me lembrei de vários restaurantes que perceberam isso.

E como se espalharam! E como conquistam incautos apreciadores! Fazem benfeito o malfeito. Não fazem a menor ideia de como fazer um bom arroz com feijão, um bom frango assado, mas sabem, repito, como fazer o malfeito benfeito. Uma boa localização. Um projeto arquitetônico requintado. Talheres e louças descolados e aquele feijão com arroz ordinário ganha status de iguaria rara.

Outra cena comum na cidade: o frequentador de churrascaria fina em fim de semana. Ele tem um carro enorme. No mínimo um Santa Fé. Eu até diria que o dono de um Santa Fé em algumas churrascarias se sente inferiorizado, mas, se a carruagem verde-amarela continuar nesse passo de lebre, em breve ele há de chegar de cabeça erguida em sua Porsche ou BMW.

Ele chega com a família. Costuma ter o cabelo comprido, a barba por fazer e é meio bombadão. E quando não é bombado já está ligeiramente acima das medidas  adequadas para aquela camiseta que decidiu usar. Em ambos os casos elas são muito justas e têm um cavalo que ocupa 80% da área. O filho, que gracinha, usa uma igual. O tamanho do cavalo chega a ser maior que a criança. Não se comporta bem e jamais é repreendido. A mãe sempre me passa a sensação de estar distraída ou aborrecida, ainda que seus cabelos muito lisos tenham recebido todos os cuidados que mereciam durante a semana inteira. Um jeans bem justo e um salto bem alto acompanham os cabelos e a bolsa Prada ou LV. Tem disso na sua cidade?

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Fiquei feliz ao ler que o alsaciano Trimbach Riesling Cuvée Frederic Emile 2004, foi eleito o melhor branco do Velho Mundo na ExpoVinis Brasil. Não sei dizer se é essa a safra que provei, mas esse branco é um dos grandes que passaram por minha boca. Esse produtor, diga-se, é um tremendo craque e eu recomendo muito que você o descubra. A importadora  é a Zihil.

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E o nosso amigo Júnior começa a dar o ar de sua graça em um singelo produto: o requeijão cremoso de copo. Ainda com moderação, tem variado apenas o tipo de queijo. Eu arrisquei e comprei um com sabor queijo de minas curado. Sempre me divirto e me impressiono com a capacidade dessa indústria, a de sabores. O tal queijo mineiro curado, se me fosse oferecido às cegas não teria meu acerto no palpite. Lembra queijo, lembra fumaça. Não vejo longe o dia que encontraremos requeijão nos sabores presunto, salame e picanha.

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Outra recomendação sincera é acessar o site do fabricante de biscoitos de polvilho Daltony: www.daltony.com.br. Daltony, além de empresário, é compositor, ator, inventor, pai de família e, na abertura de seu site, garante: “Ninguém é tão bonita ou tão jovem quanto a minha mulher”. Ele também nos conta que, em 1984, começou sua carreira de empresário em São Paulo, “criando a maior onda de pão de queijo jamais vista em lugar algum do mundo”. Será? Essa é uma informação que vou ter de verificar, porque já ouvi falar de grandes movimentos envolvendo pão de queijo em outros países. Ainda assim, vale a pena acessar e comprar os biscoitos. Com certeza é o único polvilho no mundo que dedica um espaço à cultura em seu rótulo.

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