Cultura

Mundo Livre S/A ‘junta os cacos’ da pandemia e anuncia novo trabalho

Fred Zero Quatro, líder da banda, revela músicas do novo projeto em formato EP

Mundo Livre S/A
Mundo Livre S/A, com Fred Zero Quatro ao centro. Foto: Cristiano Bivar/Divulgação Mundo Livre S/A, com Fred Zero Quatro ao centro. Foto: Cristiano Bivar/Divulgação
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Em sete meses de pandemia, o pernambucano Fred Zero Quatro vive o florescimento de projetos em meio ao drama do isolamento social em um flat no Recife. Líder do Mundo Livre S/A e um dos artífices do Manguebeat, movimento que mudou a música brasileira há 26 anos, o músico entra no estúdio em algumas semanas com a banda para gravar um EP. Em novembro, ele também irá lançar um single solo.

 

“Não é um álbum conceitual, como fazemos, mas a maioria de fragmentos da pandemia”, ressalta Fred. Com título provisório de Juntando os Cacos, o novo trabalho terá de quatro a seis músicas – por isso em formato EP. 

Ele cita que se trata de um projeto de transição, parecido com único EP lançado pela banda, o Bebadogroove (2005). Naquela época, um baixista se incorporou a banda e o EP foi a forma encontrada para experimentar nova linguagem com o integrante recém-chegado.

Como em todos os trabalhos, as composições de Fred Zero Quatro recebem inserções dos componentes da banda (Pedro Diniz, baixo, Xef Tony, bateria, Léo D, teclados e Pedro Santana, percussão) de base e harmonias ao que ele chama de groove, que é o jeito do Mundo Livre S/A tocar.

Fred Zero Quatro adiantou quatro músicas a serem gravadas nesse novo projeto do Mundo Livre S/A. Uma delas se chama Cacos: “Tô tranquilo, tô calmo / Mas deviam pesquisar os efeitos do isolamento social / Nos pobres coitados de vidro”. 

Os “coitados de vidro” são os copos (objetos inseparáveis na pandemia para muita gente) na poesia de Fred, que numa sexta-feira de whisky, se espatifou no chão: “Sextou, morreu coitado, se quebrou…/ Sábado é dia de juntar os cacos”.

Outra composta pelo líder do Mundo Livre foi feita logo depois da morte pela polícia do negro George Floyd nos Estados Unidos, a partir da última frase dele de não conseguir respirar. A composição, em tom de lamento, chama-se Necrópolis: “Tento digerir, tento respirar / Necrópolis, quem vai te velar? / Não há mais pulmão / Nem circo nem pão / Doce ou integral pra saborear / Necrópolis”.

Uma bela valsa chamada Inércia trata do sentimento de profundo tédio:  “Tem horas que ainda sobram dois milênios / Um trago a mais, outra rodada / Fatalidade coreografada”.

A quarta música que integrará o EP chama-se Comendo a Outra Metade, numa referência ao presidente que havia dito que seu filho, o 04, tinha “comido a metade do condomínio“ onde reside. Fred, que também é Zero Quatro, fez uma modinha sobre a outra metade.

“Papai me perguntou / Com que eu tenho andado / Papai fica na tua / Vai cuidar do teu gado / Essa notícia é fake / O povo é só maldade / Eu não comi todo mundo / Eu só comi metade”.

Vinil

O cantor e compositor tem comemorado o crescimento das execuções das músicas da banda nas plataformas de streaming nesse período de pandemia, um fenômeno que ocorreu no segmento. Mas tem outro acontecimento que tem o surpreendido: o interesse pelo vinil.

O primeiro álbum do Mundo Livre S/A, Samba Esquema Noise, lançado em 1994, no surgimento do movimento Manguebeat, saiu em formato CD, vinil e fita cassete. Depois, os outros trabalhos sairiam no mercado somente no formato disco compacto a laser.

Em meio ao crescimento do interesse pelo vinil nos últimos, gravações da banda começaram a ser relançados nesse formato. O primeiro foi o Carnaval na Obra, originalmente lançado em 1998, e relançado em vinil há dois anos pela gravadora Deck. 

Com pré-venda esgotada, outro que vai para rua em vinil pela Três Selos é o segundo álbum do grupo, o Guentando a Ôia (1996). O último álbum do Mundo Livre S/A, A Dança dos Não Famosos (2018), foi licenciado para a Vinil Brasil e deverá sair em breve. 

No ano que vem, Fred Zero Quatro revela que o álbum Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa (2011) também sairá em vinil, comemorando 10 anos de lançamento, impressão esta bancada pela banda. 

“Esse disco, mais do que qualquer outro, merece o relançamento, uma vez que recebeu um dos prêmios mais importantes de nossa carreira”, afirma. Ele foi ganhador do 23º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Grupo.

Solo

Após rodar por alguns anos com o seu projeto solo acústico Sonofabit, Fred Zero Quatro vai lançar em novembro o primeiro single desse trabalho. A arte da capa é de Jorge du Peixe, do Nação Zumbi, com quem tem pensado alguns projetos em conjunto.

Fred Zero Quatro ainda aproveita o isolamento para tentar finalizar a autobiografia com 30 anos de carreira, que tem o título provisório de Teoria do CãoVolume Um – Samba Esquema Noise.

“O cão é um personagem do livro. Ele se chama Bob, um vira-lata. Durante muitos anos escrevo cartas para o meu amigo Bob. Só como exercício de escrita, para contar as novidades”.

O músico relata que autorizou recentemente a reprodução por uma editora do manifesto “Caranguejos com Cérebro” (1992), escrito por Fred Zero Quatro e marco de fundação do Manguebeat; e licenciou também para uma editora a sua composição Computadores Fazem Arte (a máquina como elemento artístico), gravada por Chico Science e Nação Zumbi no clássico álbum Da Lama ao Caos (1994).

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