Cultura

João Cavalcanti, ex-Casuarina, lança inéditas e parceria com Lenine

‘Essa parceria com meu pai é uma consequência de nossas carreiras. Relutei muito esse caminho inevitável de filho de peixe’

João Cavalcanti (Foto: Andre Rola/Divulgação)
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Cinco anos depois de lançar seu álbum solo de estreia, Placebo, João Cavalcanti apresentou, em 2018, Garimpo, feito em duo com o pianista e acordeonista Marcelo Caldi.

Esses dois discos são diferentes do que o músico fazia no grupo Casuarina, no qual permaneceu por 16 anos, com muito menos samba.

Agora, com o EP Samba Mobiliado, em seis faixas o músico, de seu jeito, retoma em disco o gênero que marcou o início de sua carreira.

“Lancei um trabalho com sambas. Alguns que tinha gravado com o Casuarina, que eu chamo de reintegração de posse, que não fere ninguém porque são canções minhas e regravo como as enxergo hoje”, diz.

Duas outras são inéditas e a que encerra o EP é uma composição dele com seu pai, Lenine.

João observa o samba não é só como um gênero, mas um “pacote” de conceitos.

“Sou carioca. Quem nasce no Rio não é alheio ao samba, mesmo que não goste. Ele é refúgio maior, da edificação em meio à precariedade.”

E segue: “O samba cria uma coisa muito luminosa, uma célula rítmica, um padrão a ser rompido. Um padrão harmônico, melódico e um assunto a ser explorado. Versado no simples, mas que fica riquíssimo. Depois ele vira ponto de partida para tudo. O meu caminho é assim”.

Prazer de estar nas rodas

As influências da música do Nordeste são marcantes em sua vida, dos tempos em que passava férias por lá – Lenine é do Recife. “É natural que eu queira fazer uma coisa mais extensa na minha música.”

Mas obteve trânsito no samba com o Casuarina: “Ganhei vontade de cantar (em roda) que nenhuma outra coisa dá. É um prazer. Uma relação com o corpo, já que eu era meio travado. Tem uma catarse que o samba promove e que me preenche muito, e vou continuar fazendo”.

Lenine

Bicho Saudade é o nome da composição dele com Lenine (com arranjos do próprio Lenine e executada em voz e violão), e havia sido lançada como single no início de agosto. Não se trata exatamente de um samba, mas uma canção que cabe sobre o que João conceitua dentro do campo de suas influências.

“Essa parceria com meu pai é uma consequência de nossas carreiras. Relutei muito esse caminho inevitável de filho de peixe. Um tempo da minha vida adulta eu dizia que não queria ser artista (ele se formou em jornalismo), justamente para reagir a essa inevitabilidade que a vida parecia impor”.

Por isso a parceria de ambos é tardia e escassa. Lenine participou no Casuarina do DVD/CD 10 anos de Lapa cantando uma música de Sérgio Sampaio (Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua). Ele acompanhou algumas vezes shows do Casuarina e deu algumas canjas em rodas do grupo.

Apenas quando Lenine lançou o disco Carbono (2015) é que ele gravou uma composição com o seu filho, A Causa e o Pó. Agora vem Bicho Saudade. “A gente nem tem muito material juntos”, diz João.

Volta fonográfica ao samba

As canções do EP Samba Mobiliado foram gravadas ao vivo em abril desse ano no estúdio da Som Livre, no Rio.

As duas músicas inéditas são Moleque, só do João, e , feita em parceria com Thiago da Serrinha. Completam o álbum as regravações de Queira ou Não Queira (com Alaan Monteiro), Ponto de Vista (João Cavalcanti e Edu Krieger) e Quando Você Deixar (João Cavalcanti).

Esses cinco sambas do EP foram gravados com João acompanhado de Alaan Monteiro (arranjos e bandolim), Gabriel de Aquino (violão), João Rafael (contrabaixo) e Thiago da Serrinha (percussão).

Dois são também filhos de peixe. Gabriel de Aquino é filho do brilhante violonista João de Aquino. Já Alaan Monteiro é filho da cantora Iracema Monteiro e de um dos grandes compositores de samba da atualidade, Wanderley Monteiro.

“Esse álbum é interessante e marca a volta fonográfica de João ao samba com uma instrumentação diferente”, conta Alaan. “Tinha o desafio de entregar um olhar novo às três regravações”.

Alaan relata que João Cavalcanti já havia tocado no Samba da Gávea, que acontece as segundas-feiras e é hoje um dos mais importantes lugares de apresentação de trabalho autoral do Rio, as duas composições inéditos do EP. “Ali ouvi as duas músicas bem alinhavadas”.

O resultado do EP é bom, apoiado numa geração nova de músicos talentosos e que avançam bem na função de revigorar o samba.

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