Cultura

Guitarrista hábil, Nuno Mindelis põe blues em suas raízes africanas

Em novo álbum, guitarrista aproxima o gênero de sua memória de Angola

Nuno Mindelis - Foto: Vladimir Fernandes/Divulgação
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Mudando sempre, Nuno Mindelis vai fazendo sua história no blues. E o fato de ser um virtuose na guitarra ajuda muito nessa caminhada.

O recém-lançado “Angola Blues”, o décimo de Mindelis, aliás, vai às origens do blueseiro. Nascido no país africano, onde morou por 17 anos, é a primeira vez que ele grava um trabalho em uma das línguas oficiais angolanas.

Kimbundu é uma das línguas bantu mais faladas em Angola. No novo trabalho, o músico oferece oito das nove faixas nesse dialeto – a única em português é a clássica “País Tropical”, de Jorge Ben Jor.

“Saí de Cabinda (onde nasceu) com um ano de idade e nunca voltei. Não tive contato com a sonoridade do ibinda (dialeto falado em Cabinda)”, explica Mindelis.

“Tive contato com umbundu até os 10 anos (quando morou em Huambo, outra cidade angolana), mas assimilei mais o kimbundu por ter ido à capital Luanda (onde viveu dos 9 aos 17 anos)”, justifica.

Segundo Mindelis, as músicas deste trabalho são as mesmas que ouvia na infância e na adolescência. A única composição sua no novo trabalho é justamente “Cabinda”.

Guitarra e percussão

Na obra, Mindelis reuniu a guitarra ao toque percussivo africano, algo inevitável, embora já tivesse passado por essa experiência no Brasil, um país com forte influência afro na música.

“Eu e o Ilker (Ezaki, percussionista brasileiro) conversamos bastante sobre isso. O uso da dikanza (reco-reco) seria mandatório porque não me lembro de nenhuma música angolana que não o tivesse. Mas deixei-o à vontade para exercer a sua brasilidade também, se quisesse”, contou o músico.

Mindelis lembrou ainda que “samba” vem do angolano “semba”, o que ajudou muito na instrumentação. “Ilker fez um grande mergulho na música angolana. Ele já trabalhava bastante com música africana, cubana, entre outras. Foi espontâneo da parte dele”, acrescentou.

Busca pelo diferente

Essa combinação rica gerou um trabalho autêntico de um blueseiro preocupado em ser diferente. “Sob o ponto de vista puramente estético, esse trabalho revela logo uma distância do blues tradicional, do blues elétrico, blues rock etc. É experimental em grande medida, sai da zona de conforto, é mais legítimo, os arranjos são muito autorais apesar da maioria das músicas ser tradicional”, avalia.

Nuno Mindelis relata que existem grupos africanos flertando com o blues, e que essas bandas têm na música africana a sua viga mestra com inserção do blues americano. “Aqui há um caminho quase inverso, digamos, uma viga mestra alicerçada em técnica e linguagem blues, que se junta às raízes africanas do autor e do próprio blues (gênero musical criado pelos negros africanos nos Estados Unidos)”.

No álbum “Angola Blues”, Nuno (guitarra, voz) está acompanhado dos músicos Dhieego Andrade (bateria), Marcos Klis (baixo), Alex Bessa (teclados), Ilker Ezaki (percussão) e Jessica Areias (voz).

Já o repertório do disco conta com as músicas de autor desconhecido “Birim Birim”, “Mudiakime” e “Monami Zeca”. Completam o trabalho “Brinca N’areia” (Dikanzas do Prenda), “Mona Ki Ngi Xica” (Bonga) e “Tuala Ni Ji Henda” (Luis Ngambi).

“Angola Blues” ainda conta com as participações especiais do casal Airto Moreira e Flora Purim na faixa “Muxima”, também de autoria desconhecida. O trabalho está disponível nas plataformas digitais. É um blues para cima, ancestral e contagiante, para quem procura rica sonoridade na reclusão forçada.

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