Cultura

“Faço filmes para as pessoas pretas, com a cara do nosso País”

Diretora do curta “Rainha”, Sabrina Fidalgo fala sobre a infância, a importância dos pais em sua formação e sobre a interseccionalidade no cinema

A cineasta Sabrina Fidalgo com equipe de filmagem em Gana: "Não existe cinematografia bem sucedida que privilegie um só grupo social"
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Com cinco curtas-metragens no currículo e um documentário, além de vários videoclipes, a cineasta Sabrina Fidalgo atualmente está em lua de mel com o seu último filme, o curta Rainha. Nele, explora a história de Rita, mulher negra que realiza o sonho de ser rainha de bateria da sua comunidade. Em um universo audiovisual predominantemente branco e masculino, Sabrina, 36 anos, é uma crítica ácida do status quo do cinema nacional – e não tem medo de dizer o que pensa. “Prefiro falar do que ser hipócrita”, sentencia. 

Filha do ator e dramaturgo Ubirajara Fidalgo com a produtora teatral e cenógrafa Alzira Fidalgo, Sabrina cresceu rodeada de cultura e com vontade de viajar, mas nunca esqueceu suas raízes. 

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“Faço e escrevo filmes para pessoas pretas, mestiças, com a cara do nosso País. Mas, ao mesmo tempo, não caio no caricatural, no folclórico ou no estereotipado”, conta ela, que lamenta não ter mais tempo para dedicar à discotecagem ou à produção do House of Lady Sabrina, divulgado no Instagram com seus pitacos sobre música. 

Confira a entrevista completa concedida à Djamila Ribeiro:

CartaCapital: Rainha, seu último curta, fez com que a crítica especializada considerasse você como uma cineasta de vanguarda e um dos nomes mais proeminentes do cinema. Como é ser vista desta forma? Você acha que seu cinema é vanguardista?
Sabrina Fidalgo: Eu concordo um pouco sim, sem querer parecer cabotina, mas já sendo um pouco (risos). Apesar de se basear em mil referências, acho que meu trabalho é muito autentico, muito fiel as minhas próprias ideias e muito brasileiro no sentido literal da palavra.

Faço e escrevo filmes para pessoas pretas, mestiças, com a cara do nosso País. Gosto desses degradés, das camadas, da diversidade desses personagens e suas caras. Mas, ao mesmo tempo, não caio no caricatural, no folclórico, no estereotipado.

Trago essas caras para o futuro, para o futurismo ou flerto com um passado de verniz vintage, misturo tudo. Gosto de filmes de gênero e, sobretudo, de subverter a ordem das coisas. Nesse sentido acho que, sim, faço um cinema vanguardista e recebo com alegria as criticas positivas.

 

CC: Você é uma figura bem atuante em redes sociais e é pioneira em um formato de programa para o Stories do Instagram, o inovador “House of Lady Sabrina”, com muitos seguidores. Fale um pouco sobre esse lado “performer” e “apresentadora”? Há previsão de volta para o “House of Lady Sabrina”?
SF: Eu amo fazer o “House of Lady Sabrina”. Ele surgiu da minha vontade de comunicar com amigos sobre coisas bacanas de música que eu pesquiso, escuto e costumava tocar em meus sets (Sabrina ocasionalmente também toca como DJ com a alcunha de “Lady Sabrina Queen”).

Como dei um tempo como DJ e agora toco apenas em eventos especiais de amigos, fiquei com vontade de comunicar música. Daí comecei a fazer o “HOLS” pelo Stories do Instagram, depois salvava os vídeos e jogava na internet. Comecei sem pretensão nenhuma e quando vi já tinha um público significativo, que ansiava pelo programa seguinte, escrevia, comentava, curtia, enfim…virou uma loucura!

Não consegui dar conta da demanda, porque é complicado fazer ao vivo. Eu preciso pensar no tema, tenho que montar um micro-estúdio móvel num cantinho lá de casa e isso demanda tempo e trabalho. Como estava (e continuo) envolvida com a exibição de Rainha em vários lugares, além de compromissos profissionais, projetos, vida pessoal, viagens ,e o que era puro prazer começou a me estressar. Daí, dei um tempinho. Mas quero voltar logo, adoro muito fazer o programa e compartilhar minha maior paixão que é a musica. Só que vai ser algo quinzenal ou mensal, para que seja viável para mim. Aguarde no local!

CC: Você é filha de artistas e ativistas do movimento negro (Ubirajara Fidalgo, dramaturgo e criador do TEPRON – Teatro Profissional do Negro – e de Alzira Fidalgo, produtora teatral e cenógrafa) e cresceu em um ambiente com muita arte e politica. Quando e como decidiu fazer cinema?
SF: Eu decidi fazer cinema ainda criança. Lembro exatamente do momento: eu tinha seis anos de idade e havia acabado de assistir pela primeira vez o filme O Mágico de Oz com o meu pai. Quando o filme terminou, entendi que eu queria fazer aquilo, daquele jeito, naquele formato.

Na cabeça da criança que eu era, a certeza veio dessa maneira. Eu já assistia muitos filmes na TV com a curadoria do meu pai, que sempre me levava para assistir outros no cinema, desde a mais tenra idade. Mas foi com aquele filme que tive a real noção de que eu queria trabalhar naquele mundo, o mundo do cinema. Eu queria fazer filmes.

Minha infância foi recheada de historias, de narrativas, porque, além de viver no meio do teatro, eu tenho uma avó maranhense que até hoje é uma maravilhosa contadora de lendas da floresta. Ela sempre me contava uns causos cabulosíssimos e fantasiosos envolvendo os mesmos personagens, um deles chamado Jacó.

Eu viajava naquelas historias, nunca conseguia dormir, porque ficava visualizando tudo na minha cabeça. Dai depois comecei a escrever, porque eu também lia muito. E lia tudo: quadrinhos, livros infantis, peças de teatro para adultos, clássicos da literatura, baixa literatura, contos eróticos, bula de remédio, sinopse de todos os filmes em cartaz, Bíblia, livros de historia, jornais, páginas amarelas…

E sempre fui a melhor na redação, do tipo meus pais serem chamados na escola. Me lembro uma vez, na quinta série, quando escrevi uma versão subversiva e pós-moderna da historia da Cinderela e a professora de Português que lecionava no curso de Comunicação da PUC-Rio levou a minha redação para ser trabalhada pelos alunos dela na faculdade.

Os alunos dela leram e acharam que o texto pertencia a algum autor conhecido, homem e adulto. Todos ficaram chocados quando ela disse que se tratava da redação de uma menina negra de 11 anos de idade que era aluna dela na escola.

Ali eu comecei a entender que eu tinha, de fato, um dom e que deveria aproveitar isso. Mas demorou até eu decidir o que fazer. Os anos se passaram, botei na cabeça que deveria ser atriz, fiz cursos de teatro e até cursei Artes-Cênicas Uni-Rio. Mas eu não me sentia satisfeita com a escolha, algo me incomodava, eu queria mais.

Na mesma época, também passei para o vestibular do curso de cinema da Universidade Estácio de Sá, mas nunca cheguei a cursar. Pouco tempo depois, tranquei o curso na Uni-Rio e fui morar na Alemanha, onde estudei alemão. Ao final do curso, consegui o diploma final que me permitia uma vaga em uma universidade publica de lá.

A essa altura, já estava bem certa de que deveria ouvir minha intuição e estudar cinema. Ainda no curso de alemão eu tinha uma amiga mais velha da Grécia que era aluna-convidada da “Escola de TV e Cinema de Munique” e por causa dela comecei a pesquisar como eu poderia entrar nesse curso também.

A cineasta Sabrina Fidalgo A cineasta Sabrina Fidalgo

CC: Você acha que é um privilégio ter tido todo esse aporte cultural na sua infância? A maioria das pessoas na sua área só puderam ter essas vivencias já adultas…

SF: Claro que é um privilégio. E sou muito grata a vida por isso. Mas tem muito sangue, suor e lágrimas também. As coisas nunca caíram do céu para mim e continuam não caindo. A vida não é fácil para ninguém, principalmente quando se é artista. Ainda mais se você é artista, mulher e negra em um país racista e machista como o Brasil e que, ainda por cima, não valoriza a arte e a cultura.

E principalmente no meio do cinema que é tradicionalmente um meio elitista, branco, fechado e machista. É um mundo que se move através de “panelas homogeneizadas”. Ser outsider nesse meio não tem sido nada fácil e não há privilégio de infância que amenize isso. Mas eu estou feliz no meio da batalha que escolhi travar para a minha vida porque faço o que o meu coração manda.

CC: Dos cinco curtas e um média documentário que você fez, qual o seu preferido e por que?
SF: Eu fico dividida entre Personal Vivator e Rainha, meu último trabalho. Acho que no primeiro me permiti ser muito eu mesma na historia, sem pensar em formatos, regras ou parâmetros. Acho que, até agora, é o meu roteiro mais criativo e ousado. Claro que tem coisas que você sempre pensa : “poxa, poderia ter feito diferente”. O que me incomoda mesmo é que o filme não tenha tido um tratamento estético a altura do que ele é por falta de grana mesmo.

 

Foi um filme feito na guerrilha total. Mas, no final das contas, a escassez dos recursos se converteu em linguagem mesmo, mas preferiria que isso tivesse sido uma escolha, e não uma solução.

Com Rainha ainda estou vivendo uma lua de mel, sempre passo por isso com meus filmes. Ainda assisto o filme em quase todas as sessões que estou presente. Acho o filme muito bonito, muito triste. Eu amo a fotografia da Julia Zakia, a montagem do Antoine Guerreiro do Divino Amor, a direção de arte da Kiti Soares, o figurino do Jerry GIlli, a maquiagem do Uca Rocha, o elenco, tudo!

E eu sempre quis contar uma historia triste, acho bonito. Sempre gostei muito dos filmes italianos neo-realistas e dos primeiros da Nouvelle Vague sem finais felizes, também sempre fui fascinada pela fotografia em preto e branco, pelo cinema “noir” hollywoodiano da década de 40.

Eu queria fazer um filme preto e branco com pretos. A personagem da “Rainha” é uma personagem de Sofia Loren, só que preta, como em Duas Mulheres, do Vittorio De Sica.

E esse é o meu primeiro filme com tratamento luxuoso graças ao convite do Edital da Fábrica do Futuro (Sabrina foi a diretora-convidada do edital promovido pela Pólo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais com patrocínio da empresa Energisa para diretores da região) e é muito importante a gente ter condições para poder filmar uma historia do jeito que a historia merece ser contada, sabe?

CC: Falando em Rainha, a saga da aspirante a rainha da bateria já recebeu vários prêmios e continua firme e forte, exibida em festivais e mostras dentro e fora do Brasil. O filme também é elogiadíssimo pela crítica. Você acha que o filme esta tendo o reconhecimento devido?
SF: Sim e não. Sim, porque acho que ele já estreou bombando e ganhando os prêmios, como o Melhor Filme do Júri Popular do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro e quatro prêmios no Festival Ver e Fazer Filmes. O filme já me levou para Gana, na África, quando foi selecionado para o mais prestigiado festival de arte contemporânea do continente africano, o Chale Wote Street Art Festival. Ele também foi exibido no México, no Shorts Mexico – Festival Internacional de Cortometragens e tem exibições programadas na Argentina e no Paraguai. 

Por outro lado, a resposta é não. Sempre fico com a pulga atrás da orelha quando vejo alguns outros grandes festivais brasileiros que só fazem revezar o carrossel de filmes dos amigos da curadoria que atua aqui, ali e acolá, saca?

Muitos deles são colegas e amigos que eu admiro muito, outros nem tanto. E como eu sou a que sempre fala sobre essas coisas em voz mais alta, porque, afinal, estamos falando de ações movidas com dinheiro publico que acabam beneficiando sempre o mesmo grupo que compartilha o padrão de gênero, raça e status social dentro e fora das telas, às vezes acho que meus filmes podem estar sofrendo por conta disso.

Mas é isso, e eu prefiro falar do que ser hipócrita. E também estou numa onda de desbravar nossas janelas fora do que se convencionou como certo, exclusivo e privilegiado. Privilégio pra mim é ter um curta sendo exibido a cada dois dias em alguma sala diferente e tendo mais público do que muitos longas, que eu e você, inclusive, ajudamos a pagar com nossos impostos e que em nada representam nem a mim e nem a maioria esmagadora da população que também, indiretamente, acaba fomentando esse status quo, entende?

CC: Você é uma das diretoras mulheres mais atuantes na questão da interseccionalidade no cinema, sempre presente em mesas e debates sobre o feminismo e sobre a participação da mulher e de pessoas negras no audiovisual. Você também é uma das maiores criticas ao modus operandi tendencioso das curadorias e júris desses grandes festivais. Acha que as coisas estão melhorando? Quais são as suas perspectivas?
SF: Acho que sim, mas não estou satisfeita com a velocidade das mudanças. Tudo muito devagar para 517 anos de opressão. Claro que já tivemos muitas e significativas mudanças nos últimos dois anos, desde quando eclodiu a primavera feminista. Mas é pouco.

As pesquisas da Márcia Rangel Cândido, autora de “Raça e Gênero no Cinema Brasileiro – De 2002 à 2014“ e “A Cara do Cinema Nacional” publicadas pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa da UERJ, vieram embasar ainda mais a urgência de mudança no status-quo que antes parecia imutável.

Não é mais permitido na atual conjuntura global e no atual zeitgeist a continuação dessas antigas oligarquias dominando o audiovisual sempre pelos mesmos e para os mesmos: uma minoria de homens de elite, brancos, héteros e cis.

Além do mais, essa mudança de olhar só irá enriquecer a nossa cinematografia e o nosso audiovisual. Não existe cinematografia bem sucedida em nenhum lugar do mundo que privilegie sempre um só grupo social.

Não ganhamos Palma de Ouro, Urso de Ouro, Leão de Ouro e outros prêmios à toa. Mas ainda insistimos em dizer que está tudo bem com o cinema brasileiro, que bombamos no mundo, só que não.

Participações, mesmo que coletivas, somente em sessões periféricas de grandes festivais interacionais anos a fio não é sucesso, é propaganda enganosa para que o povo continue acreditando que esta tudo bem financiar filmes realizados somente por esse grupo social e que só dialogam com eles mesmos. 

Só que não está nada bem. Por isso, temos que continuar gritando, sim, que queremos paridade de gênero e raça em todos os âmbitos e em todo o processo da cadeia evolutiva do audiovisual : comissões de editais para desenvolvimento, produção e distribuição de filmes, curadorias e corpos de júris dos grandes festivais nacionais e assim por diante.

CC:Você tem um antigo projeto de longa documentário sobre a historia do funk que está em vias de ser finalizado e está em fase de desenvolvimento do primeiro longa de ficção. Além desses dois projetos, em que você tem trabalhado?
SF: O Cidade do Funk é um projeto antigo mesmo, são oito anos de pesquisa e labuta. Por um período, ele ficou parado por conta da morte da minha mãe, e depois ele foi reativado. É um projeto difícil, porque o funk é um tema tabu ainda. Ele é demonizado e visto como baixa cultura por uma grande parcela da sociedade, a mesma que bradou pelo fechamento do QueerMuseu, a mesma que um dia também falou que o samba não é cultura e que capoeira era coisa de bandido.

O funk sofre de racismo cultural. Então, é difícil captar recursos para a realização de um projeto que pretende entregar um inventario do gênero. Se fosse um inventario do sertanejo universitário, teríamos um filme em três meses. Mas ele virá sim!

No momento, estou bem focada também no desenvolvimento do meu primeiro longa de ficção, também é um projeto antigo, que venho “chocando” com calma, mas agora chegou o momento de assumi-lo de vez e tomar as rédeas. Não quero falar muito sobre ele, se chama “Bolero” e estou muito empolgada.

Além desses dois projetos que são a linha de frente da minha empresa (a produtora independente Fidalgo Produções) tenho alguns curtas, na verdade dois e uma série. Mas prefiro não falar muito sobre projetos.

CC: Seus pais são uma grande referência para você. Seu pai, Ubirajara Fidalgo faleceu em julho de 1986 e Alzira Fidalgo, sua mãe, em 2011.Como é conviver com a perda dos dois sendo filha única?
SF: É duro. Nada fácil. Já fiz todas as perguntas possíveis, sem resposta até agora, óbvio. Mas acho que estou num caminho de aceitação das coisas do jeito que elas são. Também não me vitimizo e nem deixo ninguém me vitimizar, sabe?

As pessoas vão sempre tentar lançar esse olhar piegas para você e vão  tentar transferir a forma horrível como elas mesmas lidam com as suas próprias perdas e frustrações, mas eu não permito que isso chegue até a mim.

Sou privilegiada até nisso, porque fui e continuo sendo amada por esses dois seres maravilhosos que me trouxeram ao mundo. Até porque tive tanto amor, tanta atenção e tanto respeito deles que a dor da perda acaba sendo, de certa forma, sublimada. Eu fui amada e desejada como filha e isso basta.

Quanta gente não tem, não teve e nem nunca terá isso?  É dai que eu tiro forças. Como falei, tive uma infância privilegiada e, mesmo depois da morte do meu pai, quando eu ainda era criança, minha mãe foi a melhor e mais valente mãe que alguém poderia ter tido.

Eu tenho muito sorte. Ela era a minha melhor amiga, parceira e incentivadora. Sou o que sou hoje graças a essa incrível e elegantíssima mulher que eu tive a sorte de ter tido como mãe. A morte é uma perda irreversível, mas é só uma perda física.

“Há mais mistérios entre o céu e terra do que supõe a nossa vã filosofia” já dizia sabiamente Shakespeare em Hamlet. Mas eu tento viver num exercício diário de transmutação da dor para a alegria. Sempre fui da alegria, desde criança. A vida e a morte são coisas belas, porque no final é tudo vida.

A nossa cultura ocidental perde muito em não entender isso e metade dos nossos problemas já estariam resolvidos se tivéssemos uma filosofia de vida mais alinhada com um princípio de vida e morte como um todo.

Além do mais, eu vivo melhor o presente por conta dessas experiências. Não trago o passado e nem fico muito na expectativa do futuro, porque sei que o que realmente importa é o aqui e o agora.

CC: Para encerrar, você tem uma vivencia internacional grande. Morou na Alemanha, viajou para muitos lugares, passou longas e médias temporadas em outros, fala vários idiomas. Como é para você ser uma mulher negra cosmopolita? Como o mundo te recebe?
SF: Eu sempre soube que cairia no mundo! (risos). Era aquela criança cercada de tios e tias loucos, artistas, pensadores ,e um deles era um amigo dos meus pais, uma das pessoas mais inteligentes do mundo, um erudito natural. Era o  “tio” Jurandir, que nunca chegou a colocar os pés para fora desse país, mas sabia tudo sobre o mundo inteiro, sobre as grandes civilizações, era um gênio.

Sem contar as historias todas que ele sabia com riqueza de detalhes. Ele adorava me chamar para assistir um programa de turismo bem cafonão que passava na Band. Eu amava aquilo, porque ele sempre ficava comentando e acrescentando informações muito mais interessantes do que as do programa.

Além disso, meus pais tinham amigos gringos de vários lugares, lembro que sempre tive bonecas pretas porque era de praxe um desses amigos trazer para mim como lembrança. Era gente da Martinica, dos Estados Unidos, do Japão, da França, da África, todos frequentando lá em casa.

E eu ficava muito curiosa com tudo, com esses lugares, essas culturas, essas línguas, essas pessoas.

Até hoje sou assim, amo viajar. Pode ser pra São João de Meriti que eu vou feliz! E me sinto muito em casa, muito a vontade no mundo. Caminho com leveza e tranquilidade por ele. Sou mesmo do mundo, amo o Brasil, mas adoro sair por aí e viver experiências. Nada poderá nunca me deter em lugar nenhum, porque eu sou maravilhosa.

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