Cultura

Em meio à epidemia, cantora tenta manter a arte viva na cidade da seresta

Juliana Maia faz serenata virtual para sustentar teatro e centro cultural em Conservatória (RJ)

Foto em frente ao centro cultural é de Renata Franco/Divulgação.
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As serestas estão em silêncio em Conservatória (RJ). Não se vê turistas nas ruas da cidade histórica, não se ouve nas tradicionais rodas às sextas e sábados à noite Carinhoso, As Rosas Não Falam, Ronda, A volta do Boêmio, Vingança.

O teatro e o centro cultural criados por Juliana Maia para valorizar a arte no local conhecido pelas canções que celebram o amor, o romance e as paixões perdidas, estão fechados. Mas a cantora tenta manter a música viva na cidade da seresta.

No final do ano passado a cantora inaugurou um centro cultural, em um casario alugado, para desenvolver em crianças e adolescentes o senso artístico. É que o Teatro Sonora, criado por ela em 2014, já não havia mais espaço para as atividades de arte-educação.

O local foi previsto para realizar vários acontecimentos socioculturais, montar uma orquestra sinfônica com as crianças da cidade e uma orquestra de tambores com as crianças do Quilombo São José da Serra, a cerca de 15 km de Conservatória e local onde Juliana Maia frequenta desde criança.

Para se manter, o centro cultural que leva seu nome passou a vender uma linha de produtos. Recursos levantados a partir do Teatro Sonora, onde Juliana realiza vários de seus projetos musicais, e um patrocinador seriam as fontes de recursos para manutenção do espaço.

Depois de feita campanha virtual para comprar instrumentos de orquestra, todos eles foram comprados, assim como mobiliários para compor o ambiente.

“Mas veio a pandemia. Perdi o patrocínio. O teatro fechou. Entrei em desespero”, conta Juliana, acrescentando que os compromissos com os professores e sua equipe em meio ao isolamento social continuam.

Luz no fim do túnel

Para sair da situação, a cantora passou a fazer um projeto de serena virtual, onde oferece serenatas ao seu público. Além de levantar recursos com isso para manter acessa a chama do teatro e do centro cultural, ela tem conseguido receber doações diretas de seus fãs conhecedores de sua luta, o que tem também contribuído para pagar taxas e profissionais.

Por conta do isolamento social, os alunos estão estudando música por programa de vídeo conferência virtual. Os instrumentos foram emprestados a algumas crianças do projeto por comodato.

“Estou vendo pelo menos uma luz no final do túnel”, diz. Em maio estava previsto vários eventos de aniversário do teatro que foram cancelados. “Mas o momento é de união”, resume.

Ela diz que o projeto de serenata virtual tem sido tão marcante que pretende transformá-lo em livro e documentário.

Numa das serenatas oferecidas em ambiente virtual fechado, mas de 40 pessoas participaram. Em outra ocasião, uma senhora a ouviu, após receber uma serenata de presente, e ficou tão eufórica que não parava de gritar emocionada, lembra Juliana.

“Estamos vivendo o pior momento no Brasil, não só por causa da pandemia, mas dificuldade de se fazer arte. A arte adia o fim do mundo. Estou adiando o fim de Conservatória com esses projetos”.

Conservatória instalou barreira sanitária em seus acessos. Os músicos locais estão sobrevivendo com o auxílio emergencial do governo e fazendo chapéu virtual por meio de lives.

Juliana Maia anda fazendo lives também em duo com gente conhecida do meio musical, como o Vidal Assis, Áurea Martins, entre outros.

A cantora e agitadora cultural iniciou seus estudos na música com oito anos. Formou-se em canto pela UFRJ. Possui um álbum de serestas lançado em 2013. Já fez shows em teatros do Rio de Janeiro e São Paulo.

Em março, estava numa pré-produção de seu segundo álbum a ser produzido pelo pianista e compositor Cristovão Bastos, quando teve que parar o projeto.

“O disco terá que ser repensado por causa do momento. A quarentena está me mudando tanto que não sei se gravaria o que estava previsto antes. Quero esse período para evoluir como ser humano”, diz.

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