Mad Men: Don Draper morreu

A propaganda aprecia o talento individual, mas hoje dispensa o brilhareco dos geniozinhos. Melhor assim

Madison Avenue não é aqui

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Só mesmo os publicitários podem competir no quesito ego, em pé de (quase) igualdade, com os jornalistas e os treinadores de futebol. A série Mad Men, agora em fase terminal, veio reforçar o estereótipo, exibindo a empavonada fauna da Madison Avenue no pleno exercício de uma impiedosa esgrima de vaidades arrogantes.

Era assim a vida nas agências megalomaníacas dos anos 60 a exemplo da fictícia Sterling Cooper, bafejadas pelo capitalismo epifânico do pós-Guerra, pela cultura de massa, a expansão midiática, a euforia do consumo. Mad Men surfa numa onda de excitação que propicia àqueles senhores, com a mesma ética sinuosa dos tribunais brasileiros, o impulso de arrancar o melhor – e o pior – de si mesmos.

Não vejo muitos Dons Draper no atual cenário da propaganda made in Brazil e essa é uma boa notícia. A chama da criatividade, atiçada com o suporte de tanto planejamento e tanta tecnologia, sustentada nos bastidores por pilhas e pilhas de pesquisas, pressupõe um compartilhamento coletivo, parece prescindir do brilhareco ilusionista de um único geniozinho carismático. Desconfio que vale para a publicidade mundo afora.

Ao fim da década de ouro tão deliciosamente dissecada por Matthew Weiner, ficou claro: o produto que Don Draper melhor sabia vender era… Don Draper. A purpurina das estrelas do advertising ficou para trás, juntamente com suas gravatas extravagantes.

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