Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Documentário mostra resistência na Amazônia em forma de música
Ribeirinho, quilombolas e indígenas contam em curta-metragem como a força da música transforma o dia-a-dia
No Baixo Amazonas, a música tem papel importante na vida de quem habita a região. Ela é exaltação às raízes, à natureza e à preservação da floresta, além de ser canto de trabalho.
Um documentário lançado no último dia 22, dirigido por Diego Orix Farias e produção do coletivo da Várzea Wave, com o nome de Rios (24 min) e viabilizado por meio da Lei Aldir Blanc, revela essa história por meio de um ribeirinho, quilombolas e indígenas. O curta-metragem se desenrola no rio Amazonas e os afluentes Tapajós, Arapiuns e Jauari.
Felipe Cordeiro vai às comunidades apresentar os projetos do filme. Músico paraense, com três discos lançados e um DVD, sabe do que representa a expressão cultural no interior de seu Estado.
Juvenal Imbiriba é o primeiro personagem retratado no filme. Ribeirinho, planta e faz farinha de mandioca. Um canto de trabalho, com levada de carimbó, foi feito por ele para ser entoado na hora da produção da macaxeira. Tem o nome de “Puxirum da farinhada”. Puxirum quer dizer nas comunidades amazônicas ajuda mútua, um convite ao trabalho à família, amigos e vizinhos.
Jader de Oliveira é de um quilombo às margens do Jauari. Tem tradição de produzir castanha. Lá, um grupo de músicos dentro da comunidade que ele pertence cantam músicas de respeito à natureza e de resistência.
No curta-metragem, o personagem conta que eles criam seus próprios instrumentos para tocar ritmos afros, de afoxé a samba. Lá, o xeque-xeque (ganzá) é de jamaru; o agogô é do ouriço da castanha; o reque-reque (reco-reco) é de bambu e a mesa de sapucamba (conjunto de pequenos tambores), como é chamado no quilombo, é de ouriços de castanha e sapucaia, cobertos com pele de animal. Daniel de Souza, outro quilombola, fala da luta pela preservação da cultura local.
O filme vai à bela Alter do Chão, para ver o projeto das Suraras do Tapajós. Surara quer dizer guerreira na língua indígena Nheengatu. A personagem Leila Borari explica a formação do grupo musical, criado para expressar a força da mulher indígena. As Suraras já foram tratadas em matéria em CartaCapital.
O curta-metragem mostra o papel da música no dia-a-dia das comunidades na Amazônia e a relevância como elemento de afirmação num Brasil distante, pouco assistido e que nos últimos tempos seus habitantes vêm sendo até perseguidos.
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