Cultura

Diego Mascate faz resistência musical e cita “obscurantismo” no Brasil

Músico apresenta seu novo álbum com repertório crítico e de ambivalências

Diego Mascate e a Banda de Apoio (Foto: Danilo Pimentel/Divulgação)
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Embora nascido em Cuiabá, o cantor e compositor Diego de Moraes ou Diego Mascate é personagem desde 2004 da cena musical independente de Goiânia, onde surgiram bandas como Boogarins e Carne Doce.

De lá para cá, lançou alguns registros com parceiros musicais, além de dois álbuns solos. O último, Na Estrada, Antes da Curva, foi apresentado recentemente. Esse trabalho reúne dez canções de forte crítica ao momento e das reações conflitantes.

O disco de Diego Mascate tem a primeira parte com o grupo A Banda de Apoio e a outra, nas cinco últimas faixas, voz e violão. Conserva unidade e pode ser visto como vários pedaços de uma história.

“Tem a música que escrevi há cerca de 20 anos chamada Confusão. Frequentava uma igreja evangélica onde fui até consagrado para ser pastor. Após ler a Bíblia inteira, comecei a perceber contradições entre a mensagem amorosa dos evangelhos e a hipocrisia de alguns religiosos. Decidi trazê-la para o disco, dando um significado no contexto atual, em defesa do Estado laico”, conta.

A faixa Mentira, Diego Mascate escreveu em 2004, quando fazia graduação em história. Ela se enquadra, segunde ele, nos tempos atuais de fake news e pós-verdades. “Durante a música eu tiro um sarro com as buscas de ilusões sociais”.

Na música que abre o álbum, Escroto Visionário, o músico descreve como uma alegoria do Brasil atual, do qual “muitos se aproveitam de tendências sociais truculentas, mas que, no fim, vão cavando seu próprio buraco, em um processo de autodestruição”.

A última, Vida e morte de Diego de Moraes, é autobiográfica e faz referência ao antes e ao depois de um acidente que sofreu em 2013 (teria sido espancado na rua Augusta, na capital paulista) quando ficou inconsciente e desaparecido por dois dias.

Ataques à cultura

“A dimensão crítica foi um aspecto fundamental no momento de definição das canções do disco. Foi uma escolha consciente, na medida em que é um disco lançado num momento de obscurantismo e de ataques à cultura, à ciência, à educação, à inteligência.” 

Sobre a cena cultural de Goiânia, destaca os festivais independentes de música (Canto de Ouro, Bananada etc.), mas diz haver estrangulamento de alguns projetos, como já ocorre em várias regiões.

“Engraçado que quando estou em alguns lugares, como São Paulo ou Rio, algumas pessoas comentam logo sobre o estereótipo de reduzir Goiás à ‘música sertaneja’. Porém, em alguns outros circuitos, essa visão já mudou.”

Diego Mascate conta ver a capital goiana com muitas contradições e problemas e, às vezes, identificada do ponto de vista político como uma “vanguarda do atraso”.

Como professor de história, diz ter observado bem os contrastes, a partir de diferentes instituições em que atuou, do ensino privado à cadeia pública (de Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia, onde lecionou em 2010 e 2011), do ensino fundamental até no ensino superior.

“Tenho um amigo que fez uma tese sobre a tecnificação do trabalho docente em Goiás, que me disse que percebeu que muito do discurso repressor do projeto Escola Sem Partido vinha sendo gestado no Estado”.

Tese sobre Tom Zé

O músico termina seu doutorado no início do ano que vem sobre História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A sua tese do curso remete ao movimento cultural da juventude brasileira, relacionando os debates políticos da época e a produção de música popular urbana.

“Estou me dedicando a uma reescrita da história da música brasileira, com recorte na obra e na trajetória de Tom Zé, nas décadas de 1960 e 1970, entre o CPC (Centro Popular de Cultura da UNE) e o (pós) Tropicalismo. Na tese procuro aprofundar uma interpretação histórica sobre como Tom Zé, com suas canções críticas e satíricas, incorporou debates políticos e musicais, de uma forma inventiva esteticamente, com um humor ambivalente e provocador.”

Na Estrada, Antes da Curva foi lançado digitalmente pelos selos Milo Recs e Monstro Discos. Diego Mascate assina a direção artística, além de guitarra-base, voz e violão. Ele é acompanhado em algumas faixas por Leonardo Vassoura (bateria), que também assina a produção do disco, Fernando Cipó (guitarra) e Rodolpho Gomes (baixo). Renato Coppoli é o responsável pela masterização, e a produção executiva ficou a cargo de Camilo Rodovalho.

Diego Mascate teve passagem por bandas goianas como Pó de Ser, O Sindicato e o duo de rock-sertanejo Waldi & Redson, ao lado de Chelo.

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