Cultura

Aos 82 anos, francesa Annie Ernaux vence o Nobel de Literatura

Citada há muitos anos entre possíveis vencedores do Nobel, a escritora é a 17ª mulher a receber a honra desde a criação do prêmio, em 1901

(Foto: Catherine Helie/Gallimard)
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A escritora francesa Annie Ernaux, conhecida por seus romances sobre classe e gênero baseados em sua experiência pessoal, foi anunciada nesta quinta-feira (6) como a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura.

A escritora, de 82 anos, foi premiada pela “coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal”, explicou o júri do Nobel.

Ela receberá o prêmio de 10 milhões de coroas (pouco mais mais de 900.000 dólares).

“Considero que é uma grande honra e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade receber o Prêmio Nobel”, declarou Ernaux ao canal de televisão sueco SVT.

Ela considera que deve continuar a testemunhar “uma forma de equidade, justiça, em relação ao mundo”.

No ano passado, o prêmio foi atribuído ao britânico de origem tanzaniana Abdulrazak Gurnah, por sua obra sobre os refugiados, o colonialismo e o racismo.

Annie Ernaux, que era um nome citado há muitos anos entre possíveis vencedores do Nobel, é a 17ª mulher a receber a honra, entre os 119 laureados desde a criação do prêmio em 1901.

Professora universitária de Literatura, Annie Ernaux escreveu quase 20 livros, nos quais aborda o peso da dominação das classes sociais e a paixão do amor, dois temas que marcaram sua trajetória.

Entre suas obras estão “Os Armários Vazios” (que não foi lançado no Brasil, 1974), “O Acontecimento” (2000) e “Os Anos” (2008).

Ernaux tem uma obra essencialmente autobiográfica que constitui uma radiografia da intimidade de uma mulher que evolui na esteira das grandes mudanças na sociedade francesa do pós-guerra.

Prosa cristalina

Nascida em 1940, Annie Ernaux viveu até os 18 anos na cafeteria “suja, feia” de seus pais em Yvetot, na Normandia (norte da França), ambiente do qual saiu graças a uma cátedra em Letras Modernas que obteve após um intenso trabalho intelectual.

Com sua prosa cristalina, Annie Ernaux estava entre os nomes favoritos nos círculos literários, mas ela considera o prêmio uma “surpresa”.

“Sua obra carece de concessões e está escrita em uma linguagem simples, limpa”, destacou o acadêmico Anders Olsson ao apresentar o trabalho da vencedora do Prêmio Nobel.

Seu livro mais recente, “Le jeune homme”, foi lançado em maio pela Gallimard, sua editora durante toda a carreira.

Críticos e as bolsas de aposta estavam divididos este ano entre duas escolas: os que viram nas últimas premiações a confirmação de que a Academia não quer dar o Nobel a a escritores já famosos, principalmente quando vendem muitos livros; ou aqueles que consideravam que a Academia mudaria de ideia, escolhendo um autor de renome mundial, ou pelo menos que estava na lista dos favoritos habituais.

Crise na Academia

A Academia Sueca está se recuperando de uma longa crise, após o escândalo #Metoo em 2017-2018 e a atribuição no ano seguinte de um polêmico Nobel ao escritor austríaco Peter Handke, que tem posições favoráveis a Slobodan Milosevic, falecido presidente da Iugoslávia acusado de crimes de guerra.

A Academia, muito criticada por suas escolhas masculinas e “eurocentradas”, premiou desde então a poeta americana Louise Glück e o romancista britânico nascido na Tanzânia Abdulrazak Gurnah, que trata em sua obra dos tormentos do exílio e dos refugiados, do anticolonialismo e do antirracismo.

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