Cultura

A redescoberta de Tarsila: a artista modernista volta ao Masp

A volta se dá em um país que flerta perigosamente com discussões desajeitadas sobre o nacionalismo

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“Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior, aprender com os que ainda não foram corrompidos pelas academias.” Esta era Tarsila do Amaral (1886-1973), figura central do modernismo brasileiro, mas que a crítica e a historiografia, não raras vezes, associavam aos mestres franceses Fernand Léger, Albert Gleizes e André Lhote. Filha de fazendeiro, recebeu uma educação, de fato, europeia. Mas, como pontuava Mário de Andrade, desvencilhando-se da visão elitista, foi a primeira entre os pintores modernistas a realizar uma obra de realidade nacional.

É nessa perspectiva que o Masp celebra Tarsila Popular, a mais ampla exposição já realizada da artista sob alguns recortes, com 52 pinturas e 40 desenhos, além de um catálogo com 113 obras reproduzidas. Com obras cedidas por outras instituições e particulares, o Masp conseguiu trazer, pela primeira vez, O Pescador (1925), que pertence ao museu Hermitage, na Rússia. “O enfoque popular sobre Tarsila traz a relação dela com as religiões populares, o Carnaval, as festas de rua, e não deixa de lado as questões políticas, raciais e de classe”, explica o curador Fernando Oliva.

O Abaporu, de Tarsila do Amaral (Foto: reprodução)

A volta de Tarsila ao Masp se dá em um país que flerta perigosamente com discussões desajeitadas sobre o nacionalismo. Os modernistas viam necessidade de encontrar uma “identidade nacional” que só podia ocorrer a partir de sua relação direta com a cultura popular. Tarsila revelava essa preocupação pelos personagens originários de lendas populares e mitos indígenas, caso de A Cuca (1924) e O Abaporu (1928), e pelo uso assertivo de cores e luzes, em Morro da Favela (1924) e A Negra (1925).

Em fevereiro, A Lua (1928) foi comprada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) por cerca de 20 milhões de dólares, a mais cara já vendida de um artista brasileiro. Marco da fase antropofágica de Tarsila, a pintura tinha sido exposta no MoMA a um ano antes e, para sorte do Masp, a compra milionária não interferiu nas negociações.

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