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Vendas de remédios do ‘kit covid’ crescem até 105% em 2020
O aumento da comercialização dos medicamentos é alvo de investigações na CPI da Covid no Senado Federal


Remédios que compõem o chamado ‘kit covid’, comprovadamente ineficazes no combate à Covid-19, venderam até 105% mais em 2020, segundo aponta a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A informação foi publicada pelo site Metrópoles.
De acordo com o levantamento, o salto maior nas vendas é da azitromicina, com 105% em comparação a 2019. O antibiótico não funciona contra a Covid-19 e é usado para casos de faringite e amigdalite causadas por bactérias. Em apenas um ano o medicamento foi vendido mais de 57,8 milhões de vezes.
Outro integrante do ‘kit’, a cloroquina também teve um salto significativo em 2020. Ao todo, foram vendidas cerca de 2,3 milhões de embalagens do remédio. O número representa um salto de 47% em relação a 2019. O medicamento também não funciona contra o coronavírus e é recomendado apenas no tratamento da malária.
Reportagem recente mostrou que as farmacêuticas lucraram mais de 1 bilhão de reais com a venda do ‘kit’. A informação foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo com base em documentos enviados pelas empresas.
O aumento na venda dos medicamentos é alvo de investigações na CPI da Covid no Senado Federal.
O uso dos remédios ineficazes entrou na mira da Comissão de Inquérito por ser a principal política de condução da pandemia do governo de Jair Bolsonaro.
A CPI investiga o uso do medicamento para conter a crise sanitária em Manaus. A insistência na recomendação do ‘kit’ e a omissão na aquisição de respiradores é uma das causas da pior crise vivida pela região durante a pandemia.
A relação entre as farmacêuticas e integrantes do chamado ‘gabinete paralelo’, grupo apontado como responsável pela política sanitária de Bolsonaro neste período, também faz parte do inquérito dos senadores.
Mesmo sem nenhuma comprovação científica de que o ‘kit covid’ funcione, o presidente segue insistindo e propagandeando o uso pela população. Em uma série de entrevistas para emissoras de rádios na semana passada, Bolsonaro repetiu por diversas vezes que ele e sua equipe tomaram o medicamento e seriam a prova da sua eficácia.
A declaração, no entanto, não reflete a verdade. O próprio Ministério da Saúde já reconheceu que os medicamentos não funcionam no combate ao coronavírus.
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