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Flávio Bolsonaro tinha funcionária fantasma, diz viúva de Adriano da Nóbrega em áudio

Gravação foi interceptada pela Polícia Civil há 3 anos e vazada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta sexta

Em pronunciamento, o senador Flávio Bolsonaro. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
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Um áudio interceptado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro há cerca de três anos mostra Júlia Lotufo, a viúva do ex-policial militar e miliciano Adriano da Nóbrega, garantindo que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) mantinha a ex-mulher do seu marido, Danielle da Nóbrega, como funcionária fantasma no seu gabinete na Assembleia Legislativa fluminense.

O filho do presidente, que na ocasião era deputado estadual, estaria envolvido em um esquema de rachadinha operado por Fabrício Queiroz e com a participação de Adriano. A gravação foi revelada nesta sexta-feira 8 pelo jornal Folha de S. Paulo.

“Ela [Danielle] foi nomeada por 11 anos. Onze anos levando dinheiro, 10 mil reais por mês para o bolso dela. E agora ela não quer que ninguém fale no nome dela? […] Bateram na casa dela porque a funcionária fantasma era ela, não era eu”, diz Júlia Lotufo em uma ligação com uma amiga realizada em julho de 2019.

Em outro trecho, Júlia também garante que Danielle sabia do esquema que ocorreria no gabinete. Na ocasião, o Ministério Público iniciava a apuração do caso e havia notificado os envolvidos para colher depoimentos.

“Aí vem a Danielle e dá ataque que bateram na porta da casa dela e ela não está mais casada com ele. Mas e aí? Não estava levando dinheiro lá? Não quer que bata na porta dela? Errado seria se ela tivesse fodida, sem ganhar 1 reais. Ela sabia muito bem qual era o esquema. Ela não aceitou? Agora é as consequências do que ela aceitou”, questiona Júlia na conversa com a amiga.

Ainda nas gravações obtidas pelo jornal, a viúva de Adriano reclama que Danielle nunca teria questionada Adriano sobre sua condição de funcionária fantasma ou sobre a origem do dinheiro em sua conta:

“Se eu fosse ela, a minha vida direita [diria]: ‘Olha só, Adriano. Não é direito eu estar num gabinete sem trabalhar. Não quero mais participar disso, não’. Mas estava entrando 10 mil reais na conta dela. Ela não [vai] falar isso, né?”, reafirma a viúva.

Danielle foi uma das pessoas denunciadas por integrar o esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio em 2020. Ela ficou empregada entre setembro de 2007 e novembro de 2018 no gabinete de Flávio. A remuneração variou entre 3 mil e 6 mil reais mensais. Sua participação no esquema estava baseada nas provas anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça no início deste ano. O caso voltou ao estágio inicial de apurações.

A defesa de Danielle não comentou o teor das escutas ao jornal. A reportagem também não conseguiu contato com a defesa de Júlia. Já Flávio Bolsonaro, em nota, afirmou que nunca existiu funcionário fantasma ou rachadinha em seu gabinete.

As mensagens reveladas pelo jornal não fazem parte das provas anuladas pelo STJ por terem sido obtidas em outra apuração. De acordo com a reportagem, as escutas, portanto, ainda podem ser utilizadas contra Flávio, desde que haja solicitação formal para compartilhamento de provas, o que ainda não ocorreu.

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