CartaExpressa
Conar arquiva processo contra Volks por propaganda com Elis Regina
A decisão deverá ser usada como precedente para eventuais casos relacionados ao uso da inteligência artificial em comerciais de TV
O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o Conar, decidiu arquivar uma representação ética contra a campanha publicitária da Volkswagen que usou inteligência artificial para “recriar” a cantora Elis Regina, que morreu em 1982.
O julgamento, encerrado nesta terça 22, contou com 21 membros do colegiado que consideraram, por 13 votos favoráveis a 7 contrários, o arquivamento do caso, por entender que não houve desrespeito à figura da artista.
Eles argumentam isto, pois, o uso da sua imagem da cantora foi concedido pelos herdeiros, “observando que Elis aparece fazendo algo que fazia em vida” e com transparência, diz o informe do órgão.
A peça VW Brasil 70: O novo veio de novo, assinada pela AlmapBBDO, mostra Elis cantando com a filha Maria Rita para apresentar o novo modelo de Kombi elétrica da montadora.
Na votação, os representantes também analisaram que existe uma “ausência de regulação específica” sobre o uso da inteligência artificial para utilização das imagens de pessoas falecidas em divulgações.
Semanas após o comercial com Elis, o cantor João Gomes, por exemplo, também utilizou da inteligência artificial em um show para compartilhar uma música de sua autoria com a voz do sanfoneiro Luiz Gonzaga, que morreu em 1989.
Para o órgão, a transparência e a comunicação com a família do falecido é essencial. Conforme interlocução do órgão com CartaCapital, esta decisão sobre o caso Elis Regina deverá ser usada como precedente para eventuais casos relacionados ao uso da inteligência artificial.
Caso o colegiado optasse por punir a montadora, eventualmente ela teria apenas vinte e quatro horas para retirar a propaganda do ar ou alterar o conteúdo. Ainda sim, poderia recorrer posteriormente.
A reunião foi feita virtualmente e contou com a participação de representantes da Volkswagen e da agência responsável pelo comercial. A formalização do arquivamento ainda deve ser feita no próximo mês.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
