Na primeira década do século XXI, uma onda vermelha espalhou-se pela América Latina. Ou, de forma marcante, pela América do Sul. Lula em seu primeiro mandato, Evo Morales na Bolívia, Hugo Chávez, na Venezuela, Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina, e Rafael Côrrea, no Equador, eram os nomes mais representativos.
A esperança de uma mudança radical no poder político cedeu, no entanto, lugar à decepção e ao retrocesso. Chávez morreu e deixou os venezuelanos à mercê de um sucessor com pendores autocráticos. Lula acabaria preso e sua substituta, Dilma Rousseff, cassada em um processo de impeachment farsesco. Côrrea preferiu se exilar na Bélgica para escapar de um processo judicial parcial. Néstor também faleceu e sua parceira, Cristina, enfrentou a versão portenha do lavajatismo, antes de dar a volta por cima, enquanto Morales foi alvo de um golpe chancelado pela Organização dos Estados Americanos e teve de escapar do país.
Na segunda década, a esquerda estava acuada e corria riscos reais de ser varrida do mapa no continente, coadjuvante na ascensão da extrema-direita ou do neoliberalismo radical. Nada, porém, como um dia após o outro.
Com a vitória de Lula no domingo 30, o campo progressista não só retoma o protagonismo, mas alcança feito inédito. Pela primeira vez, as cinco maiores economias do subcontinente estarão, a partir de 2023, sob seu comando (Brasil, México, Argentina, Chile e Colômbia). Juntos, os países concentram quase 80% do PIB regional e congregam cerca de 460 milhões de habitantes. A onda virou um tsunami.
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