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Bastidores: Afastamento de Witzel é recebido com misto de ‘surpresa’ e ‘tristeza’ na Alerj

Parlamentares dizem que suspeita envolvendo governador ‘nunca’ é algo a ser comemorado

Witzel
Witzel fala para a imprensa após afastamento do governo do Rio. Foto: Carl de Souza/AFP Witzel fala para a imprensa após afastamento do governo do Rio. Foto: Carl de Souza/AFP
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O afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e as denúncias pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de outras oito pessoas por corrupção na Saúde na manhã desta sexta-feira 28, incluindo a primeira dama Helena Witzel, foram recebidos com um misto de surpresa e tristeza institucional na Alerj, segundo os deputados Luiz Paulo (PSDB) e Leo Vieira (PSC). Luiz Paulo, autor do pedido de impeachment do governador, aceito pelos colegas e que tramita atualmente na casa, e Vieira, membro do partido de Witzel e participante da comissão de impeachment, afirmam que já havia uma expectativa de que a investigação pelo MPF pudesse ter desdobramentos como o de hoje, mas lembram que o afastamento de um governador nunca é exatamente algo para ser comemorado.

“É evidente que surpreendeu o tamanho da operação, além da agilidade e densidade da investigação”, diz Luiz Paulo, para quem Witzel quis judicializar o processo de impeachment na Alerj de forma a ganhar tempo e conseguir angariar apoio de alguns deputados antes que fosse afastado pela casa. De acordo com o deputado, no entanto, a estratégia não era das melhores, uma vez que a investigação do MPF corria da mesma forma: “Esse tempo jogava contra ele, já que estava sendo investigado pela Operação Placebo, de forma que agora está claro que cometeu crime de responsabilidade”.

De acordo com o deputado, o processo de impeachment levado na casa “se desenvolveu bem” desde sua instauração em junho, e era esperado que o governador apelasse às instâncias superiores para se defender. A decisão sobre a procedência de uma comissão especial de deputados a ser formada para dar prosseguimento ao processo está atualmente nas mãos do juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). “Se as chances do governador escapar já eram poucas apenas com a denúncia que embasou nosso pedido, agora, então, são mínimas”, diz Luiz Paulo.

Aliados durante a campanha, mas hoje inimigos mortais, Witzel e o presidente Jair Bolsonaro nutrem uma inimizade que faz alguns setores desconfiarem de “uso político” do MPF, hipótese que é logo descartada pelo deputado: “Não acredito, são promotores bastante tarimbados e que já vêm de outras operações, de forma que não misturam lutas políticas com investigação.”

A mesma surpresa de Luiz Paulo com a operação na madrugada também afirma ter sentido Vieira, apesar de já indicar alguma suspeita no ar: “Vimos que desde a semana passada os advogados do governador não estavam tendo acesso a alguns documentos, o que costuma já causar alguma apreensão, mas fomos todos surpreendidos, é claro”.

Com o presidente do PSC, Pastor Everaldo, também preso, a situação do partido no Rio de Janeiro também se torna mais complicada, segundo Vieira. Com deputados da legenda já demonstrando afastamento da figura do governador desde a abertura do processo na Alerj, quando votos a favor de sua instauração foram dados também pelos correligionários de Witzel, o deputado afirma que a operação desta sexta-feira traz um “prejuízo enorme” para o partido. Sem entrar em detalhes sobre as denúncias, que afirmou não conhecer o teor, Vieira preferiu afirmar que “a situação toda é lamentável”.

Ainda segundo o deputado, havia a ideia de que Witzel seria afastado primeiro pelo processo ou por uma decisão como a do STJ, como foi feito: “Se não fosse a judicialização do impeachment na Alerj, considero que ele já teria sido afastado por lá”.

A relação conturbada com os deputados que marcou o mandato de Witzel desde o início principalmente via Lucas Tristão – homem forte e ex-secretário de seu governo que foi preso nesta sexta-feira – não faz que o afastamento do governador seja exatamente uma vitória, garantem os dois deputados. Segundo Luiz Paulo, o dia “é triste porque reafirma a prática da corrupção, mas também mostra que as instituições estão vivas”. Já Vieira diz que não é possível comemorar nada no momento, pois “o estrago para o estado é muito maior que todos”. Ambos os deputados reafirmam a fé de que o processo de impeachment prossiga normalmente na Alerj após decisão favorável do ministro Moraes.

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