CartaCapital

Ainda um ‘Feliz’ ano ‘novo’

Não se sabe se o extremismo da época da ditadura será empregado, mas o atual cenário sugere o emprego do medo para justificar a repressão

Apoie Siga-nos no

Como de costume, em véspera de ano novo, os votos são sempre de muita paz, tranquilidade, tolerância, saúde e amor ao próximo. Entretanto, as perspectivas para o ano novo vão em uma outra direção. Um dos motivos para isto é que governo que se inicia neste ano de 2019 venceu a eleição com um discurso totalmente inverso a esse praticado por cada brasileira e cada brasileiro.

As razões que explicam o fato são diversas, mas uma coisa é certa: a esquizofrenia que se abateu sobre a sociedade brasileira parece que vai perdurar por um tempo. O uso da fantasia e das alucinações para justificar ações concretas será a marca desse governo e do país nos próximos 4 anos. O descasamento entre a evidência e a realidade será o principal instrumento de poder. Assim como nas eleições, o calço do discurso será a mentira, praticado com o mais alto nível de cinismo.

As supostas ameaças e riscos associados às figuras públicas do novo governo são exemplos disso. Sem qualquer detalhamento, veiculam-se um falso clima de terrorismo para justificarem atitudes autoritárias e fortes gastos dos recursos públicos a fundo perdido.

Isto sem mencionar as alucinações em relação à “ditadura gay”, à ameaça comunista (inexistente no planeta) e à doutrinação das escolas (no Brasil, faltam materiais básicos nas escolas, tais como: água, luz, livro, giz ou pincel e principalmente professores).

Se tratando de um governo de cunho militar, o jogo de cena já é manjado.

Na história recente da República, todos devem se lembrar do suposto atentado ao Riocentro, em abril de 1981, forjado pelos militares para acusarem os movimentos de esquerda no período e, com isto, cessar o processo de redemocratização do Brasil.

A tramoia só não funcionou devido à falha na execução do plano. O sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado tinham a missão de explodir três bombas no Riocentro, mas uma das bombas explodiu antes de ser acionada, matando o sargento e deixando ferido o capitão.

Não se sabe se tal extremismo será empregado novamente, mas o atual cenário sugere, com certeza, o emprego do medo e do terrorismo como combustível para ação do Estado.

Leia também: A Ditadura Militar em 7 filmes de 2018

A ideia subjacente é criar a sensação do perigo eminente (extremo) para assim legitimar a truculência direcionada aos opositores, que nesse regime são tachados de inimigos. O objetivo é eliminar a crítica (liberdade de expressão) e construir o discurso único.

Deve haver apenas uma verdade, a autoritária.

Por isso, aos democratas, um “feliz” ano “novo”!

*Rafael da Silva Barbosa é economista, doutor em Desenvolvimento Econômico (IE-UNICAMP) e Pós-Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo