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Quais motivos levaram a vitória eleitoral de Bolsonaro?

Sem dúvida essas eleições não foram vitoriosas pela razão e sim pelos afetos.

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Essa é uma pergunta fundamental que vai nortear nossos próximos 4 anos e nesse texto pretendo apontar indícios desses motivos, que me levaram a defender no texto desta coluna na última semana, os 4 pontos que precisamos aprender para construir um caminho diferente.

As pessoas estavam em busca de uma alternativa, tanto que muitos dos partidos tradicionais de direita também se enfraqueceram com esse processo eleitoral. Apesar de estar há anos na política, Bolsonaro foi bem sucedido em se colocar como anti-sistêmico, mesmo não sendo. O episódio da facada ajudou nesta visão, dele ser um “inimigo” dos políticos.

Houveram também iniciativas no campo progressista que foram bem sucedidas em se colocar nesse lugar da novidade e do anti-sistêmico, como o movimento de mulheres negras e as candidaturas coletivas.

Essas eleições não foram vitoriosas pela razão e sim pelos afetos.

Bolsonaro não foi eleito por um conjunto de propostas bem elaboradas e fundamentadas, os outros candidatos tinham programas de governos mais embasados, porém, com seus jargões “vou acabar a mamata”, “vamos mudar isso que está aí, taokey?” e programa de governo no power point, dialogou com a população de forma compreensível e para além das razões, essa eleição foi disputada pelos afetos, podemos avaliar que não foram com os sentimentos mais belos e sim com o medo que hoje é generalizado, com a desesperança crescente cada vez mais em relação à política e com o ódio sempre presente na sociedade brasileira. Mas sem dúvidas essas eleições não foram vitoriosas pela razão e sim pelos afetos.

Somos mais livres do que foram nossos pais. Estamos descobrindo os limites.

É comum em momentos de crises surgirem messias, salvadores e lideranças firmes. Experimente estar em um momento de correria em uma multidão, aquele que grita uma ordem de comando mais alto e com certa convicção: “por aqui” muito provavelmente será seguido por muitos sem se perguntarem o motivo de irem por ali?

No meio evangélico existe uma frase nesse novo período que estamos que tenta explicá-lo dizendo: “vivemos uma crise de autoridade”. O que significa isso: no mundo contemporâneo conquistamos certas liberdades individuais importantes, basta comparar a forma de criação que tiveram seus pais, a forma de criação que seus pais tiveram com você e a forma de criação que você deseja ter com seus filhos. Isso coloca nossa sociedade em um lugar de ainda estarmos descobrindo até onde vai os limites, somos a sociedade da adição e não sabemos quando parar. Como esse processo se deu rapidamente, acabo de citar apenas 3 gerações que ainda convivem, esse lugar de autoridade é reivindicado por alguns setores, parte deles, evangélicos, sendo inclusive, um lugar de legitimação patriarcal.

Economia, Segurança Pública e o Anti Petismo.

A crise econômica e o debate de segurança pública também foram fundamentais, a crise econômica pois em cima dela foi criada uma narrativa para a população que a precarização das suas vidas e dos serviços públicos vinha da corrupção, que pela mídia e judiciário foi personificada no PT, ampliando o antipetismo que sempre existiu pelo PT estar no campo da esquerda, mas trouxe um nova marca, na visão de muitos ser de esquerda é ter sido corrupto ou estar junto a corruptos, no mínimo uma conivência ou seja ter “bandido de estimação”. Uma pequena parte do campo progressista conseguiu ter êxito em se descolar dessa imagem como é o caso do PSOL.

Ainda sobre uma questão econômica, que caminha para o debate de segurança pública, tivemos anos de uma política de consumo, acesso à casa, carro, aparelhos domésticos, celulares e um crescimento urbano desordenado, em um país com uma desigualdade imensa pela herança escravista,  isso gerou um cenário de muita violência, incertezas sobre sua integridade física de sair e voltar para casa e o medo de perder o pouco conquistado com muito trabalho, nesse espaço se localiza o debate raso de segurança pública feito pelo Bolsonaro, que contou com o silêncio por parte da hegemonia do campo progressista sobre essa agenda.

O uso das tecnologias, redes sociais e Fake News

Tudo isso foi feito utilizando as redes sociais, é verdade que com mentiras criadas para justificar seu discurso, muito dinheiro investido ilegalmente nessa área, com apoio de um estrategista internacional que já havia operado em outras eleições e sem dúvida com uso de robôs, mas necessariamente isso tudo passava por pessoas reais que estavam ali e é um mérito da nova direita ter apostado nas redes sociais e tecnologias, principalmente no whatsapp, essa vitória foi de um aglomerados de forças políticas distintas que emergiram no último período e essa parte específica foi de competência dos setores jovens, como o MBL (Movimento Brasil Livre).
Enquanto parte dos setores progressistas não renovaram seus métodos e ainda desaprenderam os antigos. Faço parte do movimento de mídia livre através de um coletivo chamado Voz da Baixada e posso afirmar, é gritante a negligência por parte da esquerda com essa área de atuação.

Democracia e Direitos Humanos não chegaram para a maioria do País e o Racismo, Machismo e LGBTFobia, são a base do Brasil.

Muitos de nós nos chocamos ao ouvir declarações de Bolsonaro e seus aliados, que ofendem profundamente os negros e negras, as mulheres, comunidade lgbts ou qualquer ser humano. Frases que mostravam um grande desprezo pela democracia. E não entendemos como nossos amigos, familiares e outras pessoas queridas, de tanta consideração e que julgamos boas, não tiveram a mesma reação.

Isso demonstra o nosso desconhecimento sobre o que é o Brasil, um país fundado através do genocídio da população indígena e sequestro da população negra no continente Africano para serem escravizados. Uma classe dominante que sempre fez transições de modelos “lentos e graduais”, em que mantinham a mesma estrutura e jogava as consequências dos seus crimes para baixo do tapete, foi assim na independência, na república e no final da ditadura.

 

E o racismo, assim como machismo e lgbtfobia, são questões tão estruturais que não estão fora de todos nós. Sim, estão dentro de você meu caro leitor bonzinho, ou você vive em outro mundo? Pois se você cresceu nesse sistema e sociedade, sua visão, pensamento, ações e gostos foram influenciados pelo racismo, assim como pelo machismo e lgbtfobia e isso também acontece com a outra pessoa.

Aqui, democracia e direitos humanos são termos importados da Europa, que não chegaram a ampla maioria da população, o direito ao voto só foi exercido pela maioria em 1988 com o direito ao voto dos analfabetos e parou por ai o acesso à democracia, de 2 em 2 anos temos que votar em figuras que provavelmente só veremos no período de campanha.

Ameaças políticas e coronelismo são normas em muitas cidades como as da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro onde vivo, práticas como torturas são cotidianas, a liberdade de expressão é substituída pela lei do silêncio e direitos básicos como água potável, alimentação, vida, moradia e outros são uma batalha dura de todo dia.

Mas nem tudo esta perdido, nenhuma derrota é definitiva e nenhuma vitória é definitiva.

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