Pantagruélicas

Ideias e memórias e de um jornalista apaixonado pelos vinhos e a gastronomia

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Do tetra à taça: o novo campo da família Taffarel

Há sete anos, a família decidiu transformar a paixão por vinhos italianos em negócio no Sul do Brasil

Do tetra à taça: o novo campo da família Taffarel
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Goleiro do tetracampeonato mundial e hoje membro da comissão técnica da Seleção Brasileira, Cláudio Taffarel trocou as luvas pelas garrafas. Ao lado da esposa, Andrea, e do filho Dodô, transformou uma paixão nascida na Itália em uma importadora de vinhos: a Italy Import. Nas casas de colegas da comissão técnica e de alguns jogadores que se preparam para a Copa do Mundo de 2026, não é raro que os vinhos sobre a mesa tenham vindo da empresa da família.

A paixão pelo vinho nasceu nos anos 1990, quando Taffarel jogava pelo Parma. “A gente gostava de Brachetto, Moscato d’Asti e Lambrusco. O pessoal ria da gente, mas era o que nos dava prazer”, recorda Andrea.

A história de Andrea e Taffarel, porém, começa bem antes — numa entrevista no estádio Beira-Rio, do Internacional de Porto Alegre.

Ela cursava Comunicação Social na PUC-RS e, no fim do curso, integrava o jornal experimental da faculdade. Meses antes, nas Olimpíadas de Seul, em 1988, Taffarel ganhara projeção ao defender três pênaltis na semifinal contra a então Alemanha Ocidental, levando o Brasil à final olímpica. Colorada, Andrea decidiu entrevistá-lo.

“Fiz a entrevista em março de 1989, foi a primeira que fiz com um jogador de futebol”, conta. “Ele tinha 22 anos, eu 21. Era só mais uma pauta, mas acabou virando o começo de tudo.” Depois de ser titular na Copa de 1990, na Itália, Taffarel foi contratado para atuar na Europa. E, com ele, a recém-casada Andrea.

Quando a primogênita Catherine nasceu, o consumo de vinho ganhou um tom simbólico. “Diziam que vino fa latte (vinho dá leite), e eu obedecia, pra amamentar em abundância”, ri.

Vieram três anos em Belo Horizonte e outros três em Istambul, onde Taffarel defendeu o Galatasaray. O convívio com os romenos Hagi e Popescu refinou o paladar. “O Popescu mostrou o Sassicaia [um dos mais famosos tintos da Itália] pro Claudio — e ali começou um caminho sem volta.”

Em 2001, já de volta à Itália, as viagens báquicas se tornaram quase peregrinações familiares. Naquela época, o enoturismo ainda engatinhava, e visitar vinícolas exigia paciência e improviso. “Apanhamos muito. Íamos com as crianças, mas tudo era descoberta.”

Foi também nessa fase que o vinho virou sinônimo de conquistas e histórias. “O Claudio comprou a primeira garrafa de Sassicaia e eu consegui quebrar limpando a cozinha. Ele quase teve um treco”, lembra Andrea, rindo. O episódio virou questão de honra. Pouco tempo depois, foram a Bolgheri, onde foram recebidos pelo próprio marquês Nicolò Incisa della Rocchetta, criador do Sassicaia. “Com o tempo, ele virou só o Nicolò, nos recebia e jantava conosco como amigo.”

“Nossos professores eram os chefs e donos de restaurantes. A gente ouvia, absorvia e provava tudo.” Assim, antes mesmo de o enoturismo virar moda, os Taffarel já desbravavam Friuli, Etna e Piemonte, com os dois filhos sempre por perto. “Eles cresceram entre vinhos e boas mesas, e na Itália isso é fácil de aprender”, diz Andrea.

Há sete anos, a família decidiu transformar a paixão em negócio. O filho deu o empurrão final. Depois de anos acompanhando as viagens enófilas, percebeu ali uma oportunidade. “Ele perguntou por que não aproveitávamos nossas relações pra trazer os vinhos pro Brasil.”

Nascia assim a Italy Import — com um portfólio pequeno, planilhas confusas, uma contabilidade desajeitada, mas entusiasmo de sobra. Vieram os primeiros rótulos italianos: os chiantis de Riecine, os toscanos de Petra, os barolos de Marengo e Ferdinando Principiano. A ideia era (e continua sendo) oferecer a Itália em sua essência, com qualidade e preço justo.

O caminho, claro, teve seus percalços: a pandemia, a enchente de 2024 em Porto Alegre, que fez muitas garrafas se perderem, e as turbulências do mercado.

Enquanto o futebol segue no sangue e na rotina da Seleção, o vinho virou o outro campo de atuação da família. Taffarel, o goleiro que durante décadas defendeu o Brasil sob o som do hino, agora defende rótulos italianos — e os apresenta com a mesma calma de quem encara um pênalti decisivo.

“Ele é um CEO empenhadíssimo”, brinca Andrea. “Escuta cada cliente, faz listas personalizadas, acompanha a evolução de cada um. Até o pessoal da Seleção está tomando bem.”

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