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Comida de nonna

Inspirado em uma história real, ‘Nonnas’, recém-lançado na Netflix, mistura comida italiana de avó com a superação do luto

Comida de nonna
Comida de nonna
Nonnas, comédia dramática da Netflix. Foto: Netflix/Divulgação
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Chegou à Netflix na segunda sexta-feira de maio Nonnas, uma comédia dramática baseada na história verídica do restaurante Enoteca Maria, em Staten Island — o distrito mais ao sul de Nova York e, de longe, o menos badalado.

O filme começa com o velório da mãe de Joe Scaravella (Vince Vaughn), que passou os últimos anos cuidando dela. Sem sua presença, ele começa a revisitar lembranças felizes, nas quais a cozinha e os pratos preparados por sua mãe e sua avó sempre serviram de elo para manter a família unida. Obcecado, tenta de todo jeito refazer o molho de tomate delas, sem sucesso.

Com o dinheiro do seguro da mãe, resolve arriscar: compra um antigo restaurante e embarca numa ideia ousada. Em vez de um chef profissional, o comando da cozinha caberia a avós, cada uma responsável por pratos regionais da Itália. Conversa com amigas da mãe e publica um anúncio na internet.

Quatro avós (ou melhor, três — uma delas não tem netos) se juntam ao projeto. Todas com passagens marcantes pelo cinema e nada menos que nove indicações ao Oscar somadas: Lorraine Bracco (Os Sopranos, Os Bons Companheiros), Brenda Vaccaro (Perdidos na Noite, Capricórnio Um), Talia Shire (O Poderoso Chefão, Rocky) e Susan Sarandon (Thelma & Louise, Os Últimos Passos de um Homem). Umas se dedicam aos molhos, outras às sobremesas, mas todas encontram na comida um caminho para se reaproximar da família e enfrentar seus próprios
dilemas.

Cada uma traz ao filme um drama pessoal e receitas regionais. O luto, tema central da trama, é temperado com memórias e sabores, em meio a pequenas disputas entre tradições locais num país apaixonado por suas raízes. Da Sicília, vêm o capuzzelle (cabeça de ovelha assada e recheada) e os cannoli; de Bolonha, os molhos suculentos. Tudo harmonizado com vinho ou limoncello, o tradicional licor de limão.

A história é baseada no Enoteca Maria, restaurante fundado em 2007 com a proposta inusitada de colocar nonnas no comando do fogão. Deu certo: rendeu reportagens nos Estados Unidos e agora virou filme. Com o tempo, o Joe Scaravella da vida real ampliou os horizontes e passou a incluir avós do Sri Lanka, Filipinas, Armênia e Rússia. Com o lançamento do longa, muita gente vai descobrir Staten Island — e provar, quem sabe, a ancestral cabeça de ovelha siciliana.

O filme é bom? Longe de estar entre os melhores. Mas funcionou para mim, que perdi a minha mãe há poucas semanas. Nesta semana, vou ao supermercado. Na lista de compras, os ingredientes da rabada, o prato preferido dela, que ela sempre fazia para mim e para o meu pai. Às vezes, afeto, comida e memória estão separados apenas no dicionário.

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